A mobilização dos trabalhadores em educação de São Paulo foi tema, mais uma vez, de discurso do deputado Ivan Valente no plenário da Câmara. Para ele, além da truculência do governo com ações deliberadas para coibir o legítimo direito dos trabalhadores de organizar e participar do movimento grevista, a chamada grande imprensa tem cumprido um papel nefasto ao tentar jogar a sociedade contra o movimento. Leia o pronunciamento na íntegra.
Leia a íntegra do discurso do deputado Ivan Valente.
“Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, a razão que nos traz à tribuna hoje, em particular, é a greve dos professores da rede estadual do Estado de São Paulo.
Sr. Presidente, acompanhei o movimento grevista nas duas manifestações de São Paulo: na Praça da República e na Avenida Paulista. Por incrível que pareça, basta ver qualquer foto aérea da manifestação para verificar que tínhamos ali pelo menos 30 mil professores. Setores da imprensa divulgaram 5 mil. A Secretaria de Educação de São Paulo, adotada por setores da mídia, diz que 1% da categoria está parada. Um por cento, Deputado Cândido Vaccarezza! A foto mostra que há 30 mil pessoas em uma passeata.
É que chegou o canseira! Os professores da rede estadual do Estado de São Paulo estão cansados de um modelo — são 16 anos — que sucateou o salário, dirigiu políticas públicas do Banco Mundial, adotou a meritocracia, a competição, a concorrência dentro das escolas e entre os professores. Aliás, é o modelo que também o Ministério da Educação está adotando, infelizmente, como orientação do Banco Mundial.
Isso está sendo feito por meio de bônus para competir, para incentivar o professor, dizem eles. Mas é o seguinte: só 20% da categoria pode atingir esse bônus, Deputada Luiza Erundina. Só 20%! Se todos tiverem assiduidade, maior rendimento — a escola também — , explode o orçamento. Então, é de acordo com as possibilidades do orçamento.
Ou seja, é uma canseira geral, porque as escolas têm superlotação de alunos. Eles adotaram a lógica do Banco Mundial, exatamente aquela de tirar professores de sala de aula para utilizar tecnologias audiovisuais etc. Isso estava escrito nos documentos do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial e foi adotado em laboratório no nosso Estado de São Paulo.
Então chegou-se a um cansaço que se manifesta numa greve que é grande e que tem uma enorme energia.
O pior de tudo é que ficamos sabendo, Deputados João Almeida e Vanderlei Macris — estive na assembléia e conversei com diretores e professores, por isso quero me dirigir ao Governador José Serra, de São Paulo, que chefia a Secretaria de Segurança — , que dezenas de ônibus foram impedidos de chegar à Capital paulista para a manifestação, foram parados duas, três, quatro vezes nas Rodovias Anhanguera, Régis Bittencourt, Castello Branco, Bandeirantes para verificação documentos, com atrasos. Depois, disseram que havia armas nos ônibus de professores da APEOESP. Isso é inaceitável, é uma provocação.
Depois, a imprensa disse que o problema da greve foi o trânsito da Avenida Paulista. Não é a situação da professora, não é a situação da educação pública, não são os índices péssimos de avaliação da educação no Estado de São Paulo. Peço ao Governador José Serra, desta tribuna, que não use expedientes de punição aos professores.
Faço questão de deixar registrado nesta Casa e para qualquer Parlamentar a carta que recebi da Professora Fátima Mayumi Ioneda Hatano. Quem a ler vai ver claramente que não se trata de uma professora que pertença a qualquer partido político, a qualquer facção. Ela apenas descreve o que é a vida nas escolas públicas do Estado de São Paulo.
Aqui tem uma descrição perfeita do que é a vida na escola: a violência; a situação entre alunos, entre professores; os problemas de superlotação; a desmoralização; a falta de vocação; a insegurança. Isso tudo é o testemunho de uma professora que, pelo que li, não pertence a nenhum partido. É o professor em estado puro, ou seja, o sentimento sobre a educação no Estado de São Paulo.
Eu digo: o tucanato fracassou na educação! Foram 16 anos para se implantar um projeto e a qualidade da educação em São Paulo, o Estado mais rico da Federação, é uma das piores do Brasil. As salas de aula são as mais superlotadas e a qualidade é péssima.
Por isso, apoiamos a greve dos professores.
Muito obrigado, Sr. Presidente.”