Escrito por Waldemar Rossi
Os debates e embates sobre a construção de mais uma mega-obra do governo Lula estão em andamento: a construção da barragem e da usina de energia elétrica de Belo Monte, no rio Xingu, estado do Pará, no seio da ameaçada Amazônia.
Representando os interesses das grandes indústrias extrativas, do agronegócio e da agroindústria exportadora, entre outros, tem falado Maurício Tolmasquim, presidente da Empresa de Pesquisa Energética. Tolmasquim afirma que o projeto irá salvar moradores da região, garantindo que os moradores de lá serão treinados para trabalhar na obra. Não diz, porém, o que será feito dessa população após as obras, onde irão morar e que atividades produtivas lhes estarão sendo garantidas para o sustento de suas famílias. Também não diz quantos terão de ser deslocados de suas terras, onde vivem. Ou seja, essa população interessa para os investidores enquanto mão-de-obra barata.
Depois da obra, cada um que se vire como puder. Por outro lado confirma que a obra terá isenções de imposto de renda para os investidores e muito dinheiro vindo do BNDES (pasmem, 80% dos custos da obra serão bancados pelo banco estatal) em longo prazo (dinheiro do BNDES é dinheiro arrecadado através dos impostos, portanto, dinheiro do povo que irá beneficiar o capital).
Do lado dos interesses dos moradores da região e de todo o povo brasileiro estão representantes dos movimentos que se opõem à obra porque ela irá prejudicar diretamente cerca de 50 mil pessoas de três municípios, quer pela inundação de cerca de 600 km², quer pelo desequilíbrio ambiental sobre seus vários aspectos. Os resistentes entendem que com a barragem pronta haverá uma nova onda migratória, o que provocará crescimento do desmatamento, favorecendo o aquecimento global, entre outros prejuízos, e o aumento do conseqüente conflito entre os novos migrantes e as populações indígenas e ribeirinhas que vivem na região há dezenas de anos.
Portanto, nova onda de violência estará marcando a vida do povo brasileiro. Aliás, a violência já foi instalada pelo próprio governo Lula ao passar por cima da população local. "O Xingu pode virar um rio de sangue", prometem os caiapós, xipaias, jurunas e araras, em carta enviada ao presidente, contra construção da usina.
A Coordenadora do Movimento de Mulheres do Campo e da Cidade (do Pará) e do Movimento Xingu Vivo Para Sempre, a ambientalista Antonia Melo, acusa a falta de diálogo com a população, ao mesmo tempo em que mostra que o governo Lula usa dois pesos e duas medidas, sempre em favor dos interesses do capital. Segundo Antonia, em julho do ano de 2009 um grupo de moradores e de professores mostrou ao presidente por que o projeto é inviável.
Mas Lula se fechou em uma concepção unilateral, mostrando que não irá arredar pé da construção da barragem, embora dissesse que não iria impor o projeto goela abaixo de ninguém. Entretanto, nada fez para estabelecer o necessário e correto diálogo com a população, enquanto que o processo continua com todos os benefícios governamentais para os empreendedores.
Como a obra vai atingir três cidades, provocando inundações em bairros inteiros, afetando a vida de milhares de trabalhadores, além de afetar o meio ambiente de forma irreversível – em prejuízo de todo o povo –, a ambientalista considera a usina "um crime contra a humanidade".
Neste sentido, vale recordar como Lula vem impondo goela abaixo a transposição do "Velho Chico", inclusive com o uso criminoso do Exército, passando por cima dos interesses do povo para favorecer os negócios da agroindústria de exportação, em prejuízo de toda a população que vive do seu trabalho ao longo do Rio São Francisco.
E, o que é mais criminoso, reservando menos de 5% das águas para atender a milhões de nordestinos que padecem com a falta do precioso líquido.
Os defensores da construção da usina de Belo Monte (empresários e outros interessados exclusivamente em seus lucros) dizem que a resistência é ideológica. Por acaso, a defesa de sua construção não é ideológica? Ninguém pode negar que a luta entre os interesses do capital e dos povos é e sempre foi ideológica: contra ou a favor da vida dos povos; contra ou a favor dos interesses dos exploradores.
De que lado tem estado "nosso" presidente?
Waldemar Rossi é metalúrgico aposentado e coordenador da Pastoral Operária da Arquidiocese de São Paulo.
Artigo publicado originalmente no Correio da Cidadania em 20-Abr-2010