Mais uma vez, a Polícia Militar do governo do Estado de São Paulo transformou o que era uma manifestação pacífica em defesa da educação pública num campo de guerra, onde o uso desproporcional da força contra professores, diretores, funcionários e estudantes da rede de ensino estadual deixou dezenas de feridos e deu um recado claro ao movimento: o governo não quer negociar com os grevistas.
Na última sexta-feira (26/03), depois de realizar uma assembléia unificada da categoria em frente ao estádio do Morumbi, os manifestantes pretendiam seguir em caminhada até o Palácio dos Bandeirantes, onde uma comissão de negociação seria recebida pela Casa Civil. Mas o bloqueio da Tropa de Choque da PM, montado no início da Avenida Giovanni Gronchi, impediu a passagem dos cerca de 20 mil professores que estavam no local. Quando os manifestantes tentaram furar o bloqueio, foram duramente reprimidos com cassetetes, balas de borracha, bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo.
Para o deputado federal Ivan Valente, que em vão tentou negociar com o comando da polícia, entrando em contato com secretário Aloysio Nunes, os policiais foram truculentos e usaram de força bruta para dispersar o movimento. “Não havia nenhuma necessidade de vivenciarmos o que aconteceu. Dezenas de professores saíram feridos. A greve da educação é legítima e o direito à manifestação deve ser garantido. Tamanha repressão servirá para fortalecer o movimento”, acredita Valente.
Pouco tempo antes de serem barrados, os professores, diretores e funcionários haviam aprovado a continuidade da greve por mais uma semana, e referendado as propostas que saíram do Conselho de Representantes da Apeoesp, reunido na manhã de sexta:
– reafirmação da pauta de reivindicações: 34% de reajuste imediatos; incorporação das gratificações, incluindo os aposentados; contra as avaliações excludentes; plano de carreira e salário justo e concurso público classificatório;
– envio de um documento sobre a greve aos partidos políticos;
– elaboração de documento jurídico sobre o direito de greve e garantia do pagamento dos dias parados;
– realização, em 30 de março, de um dia estadual de doação de sangue, com o mote “Antes que Serra sugue o nosso sangue, vamos doar a quem precisa”.
“Temos uma dura empreitada pela frente. O governo de São Paulo vem sendo perseguido sim, mas para que nos ouça e atenda às nossas reivindicações. E até agora Serra se recusa a nos receber. Para resolver o conflito, só sentando à mesa e negociando. Os 16 anos à frente do governo do Estado e a maioria que possui na Assembléia Legislativa deixaram o PSDB mal acostumado e arrogante”, criticou a presidente da Apeoesp, Maria Izabel Noronha. Esta semana, a Apeoesp divulgou nota considerando uma afronta ao movimento a proposta do governo, transmitida pelos secretários adjuntos da Casa Civil e da Educação, de que a greve deveria terminar para haver possibilidade de negociação.
“Vamos para a quarta semana contra a truculência e o autoritarismo de Serra. E será uma semana estratégica para nós, quando Serra deixa o governo para disputar as eleições”, explica Pedro Paulo, do Coletivo na Escola e na Luta da Apeoesp e da Intersindical. “Na quarta-feira, ocuparemos o centro financeiro do país para chamar a atenção da imprensa – que hoje é porta-voz de Serra –, acuar o governo e fazer com que a nossa luta seja vitoriosa”, afirmou.
Antes da Assembléia na Paulista, marcada para às 14h, os trabalhadores da Educação participarão do bota fora de Serra, em conjunto com todo o funcionalismo público, às 12h, na Praça do Patriarca, no centro da capital. Segundo Carlos Ramiro de Castro, do Conselho do Funcionalismo Público, que foi atingido na última sexta por um estilhaço de bomba disparada pela PM, 42 entidades de funcionários que estão em greve ou em campanha salarial participarão do bota fora.
“Temos que buscar apoio dos trabalhadores e dos usuários do serviço público de educação. Esta é uma luta pela qualidade da escola pública. Não é uma luta simplesmente por salário. A população tem que estar do nosso lado”, concluiu.