Nesta quarta-feira, em discurso na Tribuna da Câmara, o deputado federal Ivan Valente defendeu que o Ministro Antônio Palocci, da Casa Civil, apresente suas explicações ao Parlamento e ao povo brasileiro em geral e que se pare de “empurrar com a barriga” uma situação que precisa ser esclarecida. “O Ministro Palocci precisa vir imediatamente a público para prestar satisfações a respeito de tudo o que foi divulgado pelos grandes órgãos e meios de comunicação. Enquanto não o fizer, ficará a dúvida e a contaminação. E o próprio governo será corresponsável por isso”, disse.
Para Ivan Valente, não se trata de discutir se um requerimento para a convocatória de Palocci foi aprovado ou não. “Se há uma denúncia acusando um Ministro de Estado de enriquecimento sideral, que pode haver ilegalidades, irregularidades, se o Ministro acha que é legítima a forma como ele acumulou riqueza, que ele venha depor em qualquer Comissão da Câmara ou aqui no plenário”. ” Ou se desmascara isso ou se desmente isso”, criticou o parlamentar. Na avaliação do PSOL, o governo foi contaminado por este debate, porque se trata do Chefe da Casa Civil e também porque Palocci foi um dos coordenadores da campanha da Presidenta Dilma.
CPI da dívida
Ivan Valente lembrou dos vínculos do ministro com o capital financeiro, com a relação de confiança que Palocci estabeleceu com os bancos e com o setor que hegemoniza a economia brasileira, que mais ganhou no período em que ele foi Ministro da Fazenda com a virada da política econômica e o estabelecimento da maior taxa de juros do mundo.
“Na CPI da Dívida Pública, propusemos a convocação do Ministro Palocci e do Ministro Pedro Malan. A Liderança do PSDB e a Liderança do PT barraram os requerimentos, que, com dados do Banco Central do Brasil, mostravam o uso de informações privilegiadas da política econômica para beneficiar banqueiros e grandes empresas financeiras”, disse Ivan Valente. “Isso não é expertise, é informação de dentro. Por uma informação sobre a fusão, por exemplo, da Oi com a Brasil Telecom, algo de R$ 4, 8 bilhões, R$ 20 milhões é gorjeta. Qualquer informação privilegiada sobre privatizações, fusões, rumos de política econômica — e certamente o Ministro as tem — seria certamente muito importante para muitas empresas”, acredita.
A lista das empresas para as quais a empresa Projeto, de Palocci, prestou consultoria já é pública e está disponível na Internet: são as grandes empresas de telecomunicações, empreiteiras como WTorre, montadores de veículos, agronegócio e o consórcio do Rodoanel em São Paulo.
“Todos os Ministros e Presidentes do Banco Central da era Sarney até agora, passando pelo PSDB, Persio Arida e Otto Lara Resende, viraram banqueiros e enriqueceram. Acho que o PT deveria dizer o seguinte: “o Palocci também quer ser banqueiro”. Então ele precisa sair fora ou então deixará o Governo nesta sinuca”, disse Ivan Valente.
Chantagem da bancada ruralista
Nesta quarta-feira (1), a convocação do Ministro Palocci foi aprovada na Comissão de Agricultura da Câmara, a mesma que, na semana passada, suspendeu sua reunião para garantir a data de votação do Código Florestal. Se não tivesse suspendido, o ministro já teria sido convocado. “Nós apoiamos a convocação do Palocci, mas é evidente então que a bancada ruralista está chantageando — e continua chantageando — o governo pelo Código Florestal”, afirmou.
O deputado do PSOL lembrou as mortes de José Cláudio, Maria do Espírito Santo, Adelino e Eremilton, assassinados na semana passada por defenderem a Floresta Amazônica. “Quem está por trás disso são as madeireiras da Amazônia, os campeões do desmatamento. O problema da Amazônia é o modelo de desenvolvimento econômico que se instalou na região. Todos aqueles que defendiam a floresta, fotografavam os caminhões dos desmatadores são os mesmos que defendem a reforma agrária, que querem regularizar as áreas quilombolas, que querem demarcar as terras indígenas. São lutadores sociais que estão no bico do corvo para serem assassinados. O Governo foi omisso em relação a esse problema porque aqui no Congresso Nacional eles estão representados”.
Para Ivan Valente, as mortes no campo também estão relacionadas com a impunidade aprovada nas mudanças do Código Florestal. “O desmatamento foi mantido no novo Código e a política agrária no país que continua voltada para o agronegócio exportador, para as mineradoras e madeireiras, para a devastação da Amazônia e para a expansão da fronteira agrícola. É uma atitude suicida para este país e precisa ser negada. Esses brasileiros mortos não são apenas mais alguns. São simbólicos. São pessoas que lutaram pelo futuro das próximas gerações, que resistiram, que não queriam enriquecer, que queriam igualdade e justiça social e lutaram por um Brasil livre, soberano e democrático. Espero que tiremos lições disso”, concluiu o deputado do PSOL.