A maior obra de infra-estrutura do país, a construção da Usina Hidrelétrica de Jirau, localizada no Rio Madeira a 130 km da capital Porto Velho-RO, está parada. Desde o início da noite do dia 15, trabalhadores da barragem, chamados de barrageiros, protestam contra as péssimas condições de trabalho. De maneira aparentemente espontânea, já que direção do sindicato da categoria está contra a manifestação, milhares de barrageiros começaram depredar e queimar ônibus e alojamentos. O governo federal declarou que vai enviar 600 homens da Força de Segurança Nacional para reprimir a manifestação.
Mais de 20 mil trabalhadores se revezam em dois turnos na construção da represa de Jirau, recebendo baixos salários, dormindo em alojamentos sem ventilação, além de serem freqüentes as epidemias nos canteiros de obra.
A Usina de Jirau, junto com a Usina Hidrelétrica de Santo Antonio, formam o Complexo do Rio Madeira, marcado desde o início por denúncias e protestos. Alguns manifestantes chamam essas represas de “pequenos Belo Montes”. As críticas ao projeto contemplavam vários aspectos, tais como: a opção do governo pela geração mais energia e não pela maior eficiência no consumo; o temor das quase 10 mil famílias que moram perto das barragens de serem expulsos de suas terras; e as preocupações de ONGs bolivianas, com apoio de Evo Morales, com o impacto na flora e fauna de seu país.
Porém, os maiores problemas, e os maiores protestos, começaram depois de iniciadas as obras, com um grande desrespeito aos trabalhadores, que provocou a atual revolta em Jirau e uma greve em junho do ano passado na barragem de Santo Antonio.
O inicio
O que funcionou como estopim para a revolta ainda não está claro. O site “Tudorondônia” diz que uma ameaça de demissão em massa que provocou a revolta, já executivo do grupo responsável pela obra, Vitor Paranhos, disse em entrevista a agência de notícias que a revolta começou após uma discussão entre trabalhadores e um motorista de ônibus. Paranhos é diretor-presidente do grupo ironicamente chamado de Energia Sustentável do Brasil, um consórcio formado pela Suez Energy South America Participações Ltda., com 50,1%; Camargo Correa Investimentos em Infra-Estrutura S/A, com 9,9%; Eletrosul Centrais Elétricas S/A, com 20%; e Companhia Hidro Elétrica do São Francisco – Chesf, com 20%.
Segundo comunicado do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), divulgado na manhã de hoje (17), cita a ameaça de demissão de 4.500 funcionários como uma das causas da revolta e lembra que desde meados do ano passado vem denunciando as péssimas condições de trabalho em Jirau. Além disso, alerta que as empresas que cuidam do consorcio contrataram ex-militares para fazer trabalhos de segurança das obras e que esses ex-militares poderiam “ataques ou sabotagens contra os operários e atingidos, para jogar uns contra os outros e/ou criminalizar nossas organizações e sindicatos”.
As forças de repressão
O governo estadual desde dia 16 mobilizou uma grande efetivo policial para reprimir a manifestação. Segundo o site Rondônia Dinâmica, estão próximos das instalações da empresa 160 policiais militares, dos quais 80 do Comando de Operações Especiais (COE), 36 bombeiros militares e oito policiais civis, além de agentes da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária Federal.
Segundo o mesmo site, foram queimados 45 ônibus, 15 carros administrativos, 30 instalações diversas e 15 alojamentos, além de outros 20 alojamentos depredados e aproximadamente 65 instalações totalmente danificadas. Também foram atacados posto bancário eletrônico, lanchonetes, gabinetes odontológicos e instalações destinadas ao lazer, como salas de cinemas e academias de ginástica.
Além do efetivo estadual, o governador Confúcio Moura (PMDB), pediu ajuda para o governo federal, que respondeu com extrema rapidez. O Ministério da Justiça mandará para o local 600 homens da Força de Segurança Nacional. O Ministério da Defesa já encarregou Marinha de vigiar o Rio Madeira e impedir ações no Rio Madeira e o Exército de proteger as regiões do canteiro das obras que não estão sob o controle dos barrageiros. A Aeronáutica já enviou helicópteros para a região.
Foi negado o acesso da imprensa às áreas em que os trabalhadores rebelados se encontram.
A maior obra do PAC
O Complexo do Rio Madeira foi uma das principais vitrines do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) lançado pelo governo Lula em 2007 e visa fornecer mais de 6400 MW para a região norte do Brasil, ou o equivalente a 9% da produção de energia elétrica atual do Brasil. O governo forçou o início das obras o governo com a aprovação das licenças ambientais em prazos mínimos e sem os estudos mais detalhados sobre o impacto ambiental e social. Para as construções das usinas o BNDES realizou seus dois maiores empréstimos na história. A obra de Santo Antônio recebeu R$ 6,1 bilhões, enquanto a de Jirau, que será 68% financiada pelo BNDES, recebeu R$7,2 bi. Como de costume, o governo não colocou garantias sociais nas clausulas de empréstimo.