Faleceu no último sábado, 5, em Araraquara no interior de São Paulo, a Madre Maurina Borges Silveira que foi presa, tortura e exilada pela ditadura militar. Sua história ajudou a mudar a postura da Igreja Católica em relação ao regime e estimulou a militância de religiosos como Dom Paulo Evaristo Arns.
Em outubro de 1969 ela foi levada num camburão para uma delegacia de Ribeirão Preto, onde era a superiora do Lar Santana, um orfanato para meninas. A acusação era acobertar militantes da Frente Armada de Libertação Nacional (FALN), que se reuniam e imprimiam material subversivo no porão da instituição de caridade que dirigia.
Segundo advogado Vanderlei Caixe em entrevista para o jornal A Cidade a religiosa não sabia da motivação política que os reunia no local. “Fazíamos, inclusive eu, parte de um movimento de evangelização. Ela soube de tudo depois que nos prenderam.” Ele fazia parte do grupo e também foi preso.
Após a prisão dos jovens, ela abriu o porão que os cedia e constatou que lá estavam guardados materiais contra o regime. Madre Maurina ordenou, então, que o jardineiro do orfanato queimasse os papéis. “Esse episódio da queima do material chegou até os policiais, que então a prenderam”, conta Caixe.
Madre Maurina foi levada a São Paulo com os demais detidos e torturada pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury. Apanhou e sofreu sucessivas sessões de choques elétricos. m 1970, a freira foi trocada pelo cônsul japonês Nobuo Okuchi, sequestrado pela Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), e seguiu em exílio para o México.
Ao retornar ao Brasil em 1984, madre Maurina continuou a atuar na vida religiosa em Catanduva, por meio da Ordem dos Franciscanos. Ela teve o mal de Alzheimer diagnosticado em 2010 e começou a perder a memória em novembro, quando foi internada.