O dia que seria de negociações acabou em pancadaria.
No dia 17 de Fevereiro pela manhã, militantes que lutam contra o aumento da passagem de ônibus em São Paulo compareceram a reunião agendada com o Poder Executivo para discutir a revogação da tarifa, no Museu dos Transportes. A reunião, agendada após muita pressão na audiência pública conquistada pelo Movimento no dia 12 de Fevereiro, havia sido garantida publicamente pelo Presidente da Câmara dos Vereadores, José Police Neto.
Entretanto, no horário previsto, o Movimento e os vereadores estavam presentes, mas a Secretaria de Transportes e o Poder Executivo como um todo não compareceram, e sequer se deram ao trabalho de mandar um representante. Diante deste não comparecimento, e de seguidos mal-entendidos sobre a Secretaria de Transportes ter ou não avisado do não comparecimento a reunião, nos dirigimos até a Secretaria de Transportes, juntamente aos vereadores Antonio Donato, Juliana Cardoso e José Américo e exigimos que o Secretario de Transportes em exercício, Pedro Luiz de Brito Machado, nos recebesse. Ele alegou que não sabia que a reunião havia sido agendada, e que não havia disposição do Poder Executivo em negociar a revogação do aumento da tarifa, e que só quem teria competência para definir isso seria o Prefeito Gilberto Kassab.
Frente essa recusa de uma negociação que já havia sido conquistada pelo movimento (o próprio Police Neto se referiu a ela em seu site, “Ao final do encontro [a audiência pública], Police Neto prometeu aos manifestantes estabelecer uma agenda de negociação com a Prefeitura”.), e do mal-sucedido encontro com o Secretario Adjunto, que sequer foi definido como negociação, 6 pessoas se acorrentaram nas catracas do saguão de entrada da Prefeitura de São Paulo, e avisaram que só sairiam de lá com a negociação agendada com o Prefeito Gilberto Kassab.
A prefeitura de São Paulo teve sua entrada imediatamente fechada, e inclusive a vereadora Juliana Cardoso foi inicialmente barrada pelos Policiais. Depois de uma certa pressão, os vereadores lá presentes conseguiram entrar, mas a mídia e o movimento foram duramente impedidos. Os vereadores e os acorrentados continuaram pressionando para um dialogo, que em um primeiro momento foi recusado, e em um segundo momento foi admitido apenas com os Vereadores. Após mais pressão, o Secretario de Relações Institucionais da Prefeitura de São Paulo, Antonio Carlos Malufe, foi até a entrada lateral da Prefeitura, e novamente em um pequeno encontro, e não em uma reunião, recebeu três pessoas do movimento. Novamente alegou que sequer sabia da reunião que havia sido marcada publicamente pelo seu líder de governo, o Presidente da Câmara dos Vereadores José Police Neto, e pediu que começássemos do zero, tratando as pessoas acorrentadas como um caso isolado, e não expressão de um movimento que há mais de um mês cresce nas ruas, e já teve importantes conquistas.
Recusamos-nos a isso, e ele concordou em ceder uma reunião do Movimento com o Poder Executivo, e nos deu uma hora para que aguardássemos a resposta de data e local para a reunião. Aguardamos mais de duas horas, e os vereadores nos avisaram que a eles foi passado que o diálogo havia sido cortado. No ato, já previamente agendado para pressionar pela revogação do aumento, (talvez seja bom falar da chuva na hora que dispersou as pessoas) comunicamos a todos a postura do Poder Executivo durante um dia que seria de negociações, e a indignação foi grande. As pessoas foram impedidas de se aproximar da prefeitura, e gritaram palavras de ordem exigindo negociação. A resposta foi dada a todos nas ruas, com a brutal ação da Policia, que nos pareceu um recado de como seria o diálogo dali em diante. O Comando da Policia Militar alega que a repressão começou devido a ação violenta dos manifestantes, que só agiu para restaurar a ordem, e que pessoas que levam rojões a uma manifestação não podem estar atuando de maneira pacífica. Vale lembrar, que depois do ato do dia 13 de Janeiro, que também foi gratuitamente reprimido, mais cinco atos foram realizados, todos eles mantendo o diálogo com a polícia, e todos eles com rojões presentes ao longo da manifestação, que nunca foram utilizados de maneira ofensiva, e sim para chamar a atenção da população para o que estava ocorrendo.
Quem iniciou a violência, inclusive com vereadores identificados, como mostram as imagens já divulgadas, foi a Policia Militar. Diante de sua violenta ação, fica difícil conter a revolta de centenas de manifestantes unidos debaixo de chuva, tendo uma negociação recusada, e expostos a uma guerra desequilibrada, com policiais utilizando gratuitamente spray de pimenta, bombas de gás lacrimogênio, de “efeito moral”, e balas de borracha. Não seria desproporcional uma ação deste porte para a população que pacificamente se manifesta contra a ação arbitrária do aumento da tarifa de ônibus, e da recusa de dialogo pelo Poder Público?
O Movimento Passe Livre lamenta que o diálogo nos tenha sido negado por duas vezes, e que a resposta tenha vindo com a ação brutal da policia. Lamentamos também que a Prefeitura divulgue para a mídia em nota que está aberta ao diálogo, uma vez que se recusou por duas vezes em um mesmo dia a este. Avisamos que continuamos dispostos a realizar a reunião de negociação que foi conquistada, mesmo com o desrespeito do não comparecimento. Avisamos também, que se é só com pressão que as conquistas se fazem, esta continuará nas ruas, e será cada dia maior, uma vez que cresce a indignação popular com a forma pela qual estamos sendo tratados. Já temos uma próxima manifestação marcada para o dia 24 de Fevereiro, com concentração as 17hrs, em frente ao Teatro Municipal. A mobilização seguirá até a revogação deste aumento.
Movimento Passe Livre, São Paulo, 18 de Fevereiro.