O problema da falta de água é o lucro da SABESP
O jornal O Estado de São Paulo publicou, em 28 de março, uma reportagem a respeito dos custos que a SABESP teve com a crise de água no último período. Com base no balanço feito pela companhia, a reportagem cita que as obras emergenciais, os gastos para combater a falta de água e a diminuição do consumo provocaram um rombo de aproximadamente R$ 1 bilhão.
Mas, com a transcrição de trechos do balanço, nota-se que o buraco é mais embaixo: por ter vendido menos água à população, os acionistas lucraram menos: “a extensão da seca e as medidas adotadas provocaram uma redução gradativa do volume faturado de água e, portanto, uma redução da receita”.
Além da falta de água em si, que, evidentemente, provoca um menor consumo por parte da população, a política de bônus na conta para reduzir consumo contribuiu para a diminuição do faturamento da empresa, chegando a uma redução de 53% nos lucros, ou R$1 bilhão.
O fato de um bem essencial à vida humana e que deveria ser um direito garantido pelo Estado gerar lucros da base dos bilhões de reais já é um absurdo. Mas a reação da companhia, em seu balanço, é mais tenebrosa ainda: “A Sabesp não pode garantir que, ao final do programa de bônus, o referido consumo retornará aos níveis anteriores à atual crise de água. Um menor consumo per capita pode afetar negativamente nossos negócios e o resultado das operações no futuro.” Ou seja, a SABESP tem procurado enfrentar a crise de água não como um problema da população, mas, sim, como um problema para seus acionistas.
Enquanto isso, para reverter a perda de lucros, a companhia começa a reduzir a política de bonificação a quem economizar água: a população das cidades de Hortolândia, Itatiba, Jarinu, Monte Mor, Morungaba e Paunínia não terá direito ao desconto, mesmo que contribua para reduzir o gasto de água no estado.
Se a água não for entendida como um bem essencial à população e não como uma mercadoria, não haverá condições de superarmos a atual escassez que vivemos.