Por Lúcia Rodrigues
A Polícia Militar voltou a invadir o campus Butantã ontem de madrugada, dia 03. Aproximadamente 200 homens da Força Tática, Rocam (Rondas Ostensivas Com Apoio de Motocicletas) e do policiamento da área perfilaram-se mais uma vez em frente à reitoria da USP e de mais nove acessos de prédios da universidade.
Além dos tradicionais armamentos do aparato de choque, como escopetas, escudos, cassetetes, bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral, vários policiais portavam armas de fogo: pistolas e revólveres.
A justificativa apresentada pelo comandante da operação, tenente-coronel Cláudio Miguel Marques Longo, para a presença de armas letais dentro do campus é a de que se trata de um instrumento de trabalho da polícia. “Os pedreiros usam picaretas, nós, revólveres.”
Ele também tentou justificar o porquê dos militares não estarem identificados com os respectivos nomes na lapela. “Se eles (policiais) são atingidos por um tiro e pega na identificação, pode provocar estilhaços no rosto”, conjectura.
O tenente-coronel, que também é o comandante do 4º batalhão da PM, afirma que a tropa ficará no campus pelo tempo que ele julgar necessário. No entanto, não esconde a insatisfação com a nova função.
“Quem tem de assumir isto aqui é a guarda universitária. Queremos voltar a fazer o policiamento na cidade”, afirma referindo-se ao contingente policial perfilado em frente ao prédio da reitoria.
O comandante também deixou escapar que a PM voltou ao campus porque foi chamada pela reitoria. Procurada pela reportagem, por meio da assessoria de imprensa da universidade, a reitora Suely Vilela não quis se pronunciar sobre a questão.
À tarde os militares começaram a alternar a presença ostensiva em frente à reitoria com os guardas universitários. A universidade, no entanto, continuava sitiada por várias viaturas da PM. Mais uma vez, um caminhão do Corpo de Bombeiros e uma ambulância do resgate foram destacados para permanecer no campus.
Carandiru
No início da tarde, um grupo de funcionários e estudantes acompanhados pelo deputado estadual do PSOL Carlos Gianazzi se reuniu com a reitora Suely Vilela, para exigir a saída da PM do campus. Eles também reivindicaram a reabertura das negociações por parte do Cruesp (Conselho de Reitores das Universidades Estaduais de São Paulo) com o Fórum das Seis, que representa os docentes, funcionários e estudantes da USP, Unicamp e Unesp. As negociações estão suspensas desde o dia 25 de maio.
Segundo Magno de Carvalho, diretor do Sintusp (Sindicato dos Trabalhadores da USP), que esteve presente à reunião, a reitora, que também preside o Cruesp, afirmou que a PM só sai do campus se os piquetes acabarem. “Isso é chantagem e nós não vamos aceitar”, ressalta indignado.
O sindicalista também afirma que a pressão exercida pelas chefias sobre os trabalhadores é enorme. “Uma funcionária da reitoria já falou que a Suely transformou a reitoria em um Carandiru dentro da USP.”
Greve continua
Os funcionários reivindicam reajuste salarial de 16%, incorporação de R$ 200 ao salário, a readmissão de Claudionor Brandão, diretor do Sintusp, demitido em dezembro em função de sua atuação sindical. Os grevistas também querem que a reitoria retire todos os processos contra dirigentes sindicais e estudantis.
Os docentes realizam assembléia às 16h. Na pauta, a exigência da saída imediata da PM do campus e o indicativo de greve. Mais tarde, às 18h, é a vez dos estudantes se reunirem para deliberaram sobre os rumos do movimento.
Em nota distribuída à imprensa, a Adusp (Associação dos Docentes da USP) critica duramente a nova invasão da PM. “A introdução de policiais fortemente armados é uma ameaça à comunidade universitária.”
A Adusp também pretende realizar inserções nas rádios, para denunciar a invasão da PM ao campus universitário e a administração da reitora da USP. “Essa ação intimidadora é o ponto mais alto do autoritarismo e das violências que têm caracterizado a gestão da reitora Suely Vilela”, afirma a nota.