Candidato a prefeito pelo PSOL, o professor José Eduardo Oliveira, o Vermelho, faz sua segunda tentativa de chegar ao comando da Prefeitura de Araraquara. Mesmo sem chapa de vereadores e pouca estrutura partidária, ele tenta vencer os outros três concorrentes. Entre suas propostas está o cumprimento da lei federal que estabelece que um terço da jornada seja cumprida com preparação de aulas.
Marco Antonio dos Santos — O candidato pretende optar por uma Oscip para gerir a Saúde ou acredita que essa área deva ser administrada pela Prefeitura?
Vermelho — Queremos trabalhar com a Saúde transparente, com a participação da sociedade. Nada de terceirização e nem Oscip, mas sempre ouvindo os funcionários e a sociedade. Queremos fortalecer o conselho municipal e evitar a mercantilização da Saúde. Há dificuldades financeiras e os repasses do Governo Federal não são suficientes para manter a Saúde. Achamos que as prefeituras de um modo geral gastam mal os recursos. Queremos melhorar e dar transparência aos agendamentos. Quem fizer o agendamento dos exames vai ganhar um número para poder acompanhar e ver se não tem ninguém passando na frente. Quem vai tomar essa decisão é o médico, com o critério da urgência, e não para atender a clientela com base em favores políticos. Infelizmente, isso acontece.
Marco — Os professores reivindicam o cumprimento da lei federal que destina um terço da jornada dos docentes à preparação de conteúdo. Porém, a Prefeitura alega que não tem dinheiro para pôr em prática a determinação. Como resolver esse impasse e contratar mais professores?
Vermelho — A lei tem de ser cumprida. Há recursos, apesar que não dá para fazer isso em um estalos de dedos. Mas em um ou dois anos, você faz um planejamento. Araraquara é um município que tem uma receita boa. E a Educação recebe uma transferência que dá para fazer isso. Eu garanto que, em dois anos, estará implantado pelo Governo Municipal.
Marco — Qual sua proposta para o uso da área que ficará vaga com a retirada dos trilhos?
Vermelho — Nós vamos ouvir a sociedade. Nossa ideia é deixar um espaço para o transporte intermunicipal e priorizar a ocupação verde deste espaço com árvores da mata nativa da região. Acho que essa questão ambiental passa muito pela recuperação de matas e bosques. Acho que se mexermos lá, se a cidade conseguir um grande bosque nesta área, Araraquara terá um ganho de qualidade de vida.
Marco — Araraquara vive um momento otimista por conta da capacitação para ser subsede da Copa do Mundo de 2014. Por outro lado, nos últimos anos, atletas, treinadores e outras pessoas envolvidas com o esporte na cidade têm reclamado de falta de estrutura e investimento na base, no esporte amador e nas escolinhas de esporte. Como mudar essa realidade?
Vermelho — Acho que nós temos de dar um jeito, porque hoje a manutenção da Arena da Fonte custa R$ 180 mil por mês. E é indiscutível que quando você gasta em um lugar, o cobertor é curto, e você acaba tirando dinheiro de outro setor. Nós temos de dar um jeito de viabilizar o estádio da Fonte e direcionar esses recursos para o esporte e tendo a Educação como polo. Não posso aceitar, como professor, que a aula de Educação Física seja colocada no meio de uma disciplina. O aluno sai da aula de Matemática e vai para aula de Educação Física e depois volta para Geografia. Nós queremos conversar sobre isso e mudar. Temos de priorizar o esporte.
Marco — As últimas gestões municipais foram marcadas por atritos entre Prefeitura e Sindicato dos Servidores Municipais de Araraquara e Região (Sismar). O que fazer para melhorar essa relação?
Vermelho — Em primeiro lugar, reconhecemos que o conflito faz parte da democracia. Então vamos aceitar o movimento sindical e ouvir o que ele tem a dizer. A Prefeitura tem mais de 5 mil funcionários. Queremos criar um espaço para dialogar permanentemente com o sindicato. Vamos abrir as contas da Prefeitura no Portal da Transparência e melhorar as relações com o funcionalismo, porque vemos uma verticalização no relacionamento com a Prefeitura. Queremos horizontalizar as relações. Porque não é possível que uma máquina como a da Prefeitura de Araraquara precise ser inchada de cargos comissionados.
Marco — Em algumas linhas do transporte coletivo são recorrentes as reclamações de passageiros sobre atrasos e ônibus lotados. A criação de miniterminais em alguns pontos estratégicos para descentralizar o fluxo não saiu do papel. Além disso, a cidade cresceu, com necessidade mais veículos para dar conta da demanda. Existe algum plano para resolver esses problemas?
Vermelho — Nós vamos investir na CTA. Gradativamente, a companhia vai recuperar 100% do transporte coletivo. E isso acontecerá com subsídios. Hoje, quem paga os subsídios dos idosos e estudantes são os usuários do transporte coletivo. São os mais pobres que pagam, porque a tarifa de R$ 2,70 é muito cara, acima do litro da gasolina. Poderíamos direcionar o dinheiro das multas de trânsito para fortalecer o transporte público e fazer estação de embarques. E vamos priorizar fortemente a CTA. Primeiro é preciso que a Prefeitura regularize o pagamento do vale-transporte dos funcionários e que eu sei que está muito atrasado. Não podemos deixar uma empresa pública subsidiar uma empresa privada.
Marco — Nos últimos anos, foi visível o aumento do número de moradores de rua em Araraquara, que pedem esmolas nos sinais, ocupam praças e intimidam a população. A administração possui a Casa Transitória e criou um Centro de Referência específico para as pessoas em situação de rua. Além disso, disponibiliza passagens de ônibus para que alguns deles voltem a suas cidades de origem. Esse modelo é ideal, precisa ser aprimorado ou tem falhas? Qual seria sua proposta para resolver essa questão?
Vermelho — A questão dos moradores de rua está relacionada à situação econômica do País. Nós temos uma preocupação muito grande com o processo de mecanização do corte da cana e precisamos criar uma política regional para isso. Não adianta cada prefeito dar uma hospedagem e depois passagem para os moradores de rua, para jogá-los para outra cidade. Queremos ter uma política com especialista em Serviço Social para humanizar a relação e enfrentar a questão do alcoolismo, vício em drogas e do desemprego. Isso tudo é responsável pela permanência dos moradores de rua na atual situação.
Confira como foi a sabatina com o candidato na edição desse domingo da Tribuna Impressa