*por Kate Queiroz, psicóloga e militante do PSOL
O que é violência psicológica? O conceito é simples:
Violência psicológica que é a agressão emocional, tão ou mais grave que a física, comportamento típico de quem ameaça, rejeita, humilha, discrimina… compulsivamente. Configurando muitas vezes crime de ameaça. Sem esquecer-se da violência moral que é caracterizada pela calúnia, difamação, injúria. (Stuart, 2009)
Quando alguém pensa em violência psicológica logo se imagina um cenário de tortura explicita onde a vítima é exposta à situações que lhe causem terror e sofrimento. Porém, ela é muito mais ampla que isso. A violência psicológica está em comportamentos sutis do agressor que pode estar consciente ou não dos seus atos. Esse ato acontece sempre que o indivíduo se sinta de maneira amena ou intensa de alguma forma humilhado, desrespeitado, diminuído, desvalorizado e principalmente agredido.
Uma piada, um comentário, uma atribuição de tarefa, são coisas que passam despercebidas pela percepção até do agredido. Para chegar ao ponto do assustador ou do inaceitável, a violência psicológica passou por um período de sutileza. A boa notícia é que é possível se desvencilhar desse contexto, mas para isso é preciso entender se o sujeito está encaixado em tal realidade.
Estudos apontam que as principais vítimas desse tipo de violência são: crianças, idosos, deficientes físicos e mulheres. É possível notar um padrão nesse publico, a fragilidade. A criança por ser uma pessoa em desenvolvimento e que ainda não possui repertório pra se defender e se colocar diante das ocorrências violentas a que são submetidas, os idosos por estarem fracos, algumas vezes doentes e por perderem sua autonomia perante a sociedade e família são tratados com infantilidade e desprezo por quem o rodeia, os deficientes por serem vítimas de preconceitos enraizados onde lhe são atribuídos dotes incapacitantes de executar qualquer tarefa. Todos esses perfis se potencializam se a vítima for negra e pobre. E tem as mulheres que se encaixam nesse grupo. Não deveriam, pois quando se diz “mulheres” a referencia é para pessoas adultas, ainda jovens, saudáveis e que estão ativas e produtivas na sociedade, porém, devido uma mentalidade patriarcal e machista onde a mulher é colocada como ser submisso, a violência psicológica se faz presente a todo o momento.
Ela se instala organicamente na vida da mulher desde a sua infância, e ações e palavras disfarçadamente agressivas se fazem presente e se tornam naturais e acabam reproduzindo o mesmo conceito geração após geração.
Exceto no caso de crianças, a principal arma para se desvencilhar de uma situação de violência seja física ou psicológica, é o autoconhecimento. É através dele que a vítima poderá saber se vive uma situação de violência e poderá fazer um trabalho de libertação das amarras da violência.
Quando a pessoa faz uma auto-avaliação e percebe estar vivendo uma violência velada ela também percebe que sua autoestima também está abalada e muito fragilizada. A auto-valorização e o exercício de identificar uma situação de violência e se afastar dessa situação para depois conseguir combater é o caminho, e talvez o único, para não vivenciar novamente tal situação.
Existem várias formas para se exercitar e desenvolver autoconhecimento, grupos de ajuda são muito eficazes, mas o recomendado por diversos especialistas ainda é a psicoterapia.
É preciso conhecer para poder combater. Muitas vítimas de violência psicológica ficam presas nesse contexto por não saberem que o estão vivendo, e acabam desenvolvendo diversas doenças como a depressão, sem entender o porquê chegou a esse ponto. Se houver mais investimento pessoal em autoconhecimento, será possível notar uma diminuição considerável desse fenômeno. E outra coisa importante nesse contexto é tentar deixar de lado as opiniões que justificam a violência fazendo a vítima se sentir culpada.
Não é uma conquista fácil, mas ela é muito necessária para o bem-estar de todos. Não é porque é uma conquista difícil que ela é impossível.