Em sessão no plenário da Câmara, no início da noite desta terça-feira (25), o líder do PSOL, deputado Chico Alencar (RJ), cobrou, novamente, o afastamento imediato do deputado Eduardo Cunha das funções de presidente da Câmara. Chico Alencar repetiu o que havia dito na reunião de líderes horas antes e onde foi única voz entre os demais líderes partidários.
“Em qualquer Parlamento do mundo, em qualquer sociedade onde haja instituições democráticas, inclusive de controle, funcionando, é evidente que uma situação dessa mereceria de imediato um pronunciamento do próprio denunciado, agora, que não é mais só investigado; em segundo lugar, um afastamento da função até que tudo se esclarecesse. É isso que estaríamos cobrando aqui”, afirmou Chico Alencar. “Em nome da dignidade do Parlamento, e não só o PSOL como partido, mas dezenas de Parlamentares querem uma postura, no mínimo, para enfrentar o problema sob pena de estarmos aqui dando mais força à profunda crise de credibilidade que existe em relação às instituições políticas brasileiras”.
Enquanto o líder do PSOL discursava, Eduardo Cunha, que presidia a sessão, permaneceu sentado, de costas para a tribuna onde estava Chico Alencar.
Leia abaixo a íntegra do discurso:
“Normose é uma doença psicológica que o terapeuta e filósofo francês Jean-Yves Leloup e o brasileiro Roberto Crema definem como um comportamento apático que gera sofrimento e produz um grande alheamento da realidade.
Eu, infelizmente, constatei isso hoje na reunião do Colégio de Líderes e vejo neste plenário até agora. Parece que ninguém foi informado aqui que o Ministério Público Federal fez uma denúncia grave, robusta, encaminhada a um inquérito que corre no Supremo Tribunal Federal contra aquele que me dá as costas, como de hábito — em geral, contra quem fala algo que o incomode —, acusando, repito, com elementos muito robustos de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
Ora, em qualquer Parlamento do mundo, em qualquer sociedade onde haja instituições democráticas, inclusive de controle, funcionando, é evidente que uma situação dessa mereceria de imediato um pronunciamento do próprio denunciado, agora, que não é mais só investigado; em segundo lugar, um afastamento da função até que tudo se esclarecesse.
É isso que estaríamos cobrando aqui. Creio que há unanimidade, se algum Ministro de Estado estivesse nessa condição de denunciado. E o faremos se isso acontecer com essas investigações crescentes e profundas da Operação Lava Jato, que parece não poupar quase ninguém.Alguém pode alegar: mas e a presunção da inocência? Ora, a presunção da inocência está garantida, o que se tem que pensar é na dignidade do Parlamento.
Deixar uma função não significa ser condenado a nada, nem reconhecimento de culpa, é para se defender, e exige tempo e dedicação. E para não usar a função, como já foi feito, inclusive acusando todos os Deputados de terem seu sigilo violado, fazendo, até mesmo, o fechamento sobre as investigações da Kroll, que custaram ao povo brasileiro mais de1 milhão de reais para um trabalho pífio, que até já foi encerrado, mas lá, Alberto Youssef e Júlio Camargo, não por acaso, dois denunciantes do Presidente, foram devidamente perscrutados pela Kroll.
Isso é usar o cargo e a função na sua própria defesa. Isso é absolutamente equivocado.
Então, em nome da dignidade do Parlamento, e não só o PSOL como partido, mas dezenas de Parlamentares querem uma postura, no mínimo, para enfrentar o problema sob pena de estarmos aqui dando mais força à profunda crise de credibilidade que existe em relação às instituições políticas brasileiras.
Quando se critica, e com razão, Parlamentares de um partido ou de outro, o Governo da República, nós não podemos praticar a ética seletiva, ou a moralidade pública de ocasião. Não dá para poupar uns e atacar outros. É preciso ter coerência. É preciso ter independência. É preciso ter preocupação com este Parlamento, que é algo fundamental.
Nós temos mais de 80 páginas, sem contar, inclusive, com os documentos anexos, dessa denúncia. Espero que, embora ninguém tenha tocado neste assunto, as pessoas se deem ao trabalho de ler, porque, de alguma maneira, atinge não apenas uma figura do Presidente, mas o Parlamento como um todo.
Se nós nos envolvemos em tenebrosas transações, se nós somos acusados de alianças e consórcio com fins ilícitos para tirar vantagem, inclusive, derivada de um mandato parlamentar muito precioso que todos recebemos — todos sabem quanto custa fazer uma campanha com ideias e causas e não com dinheiro no bolso —, nós, nessa omissão, poderemos estar nos comparando à omertà, que é uma expressão muito comum no sul da Itália e que revela cumplicidade, acocoramento, silêncio negativo diante de uma situação real que temos que enfrentar.
Dignidade, Sr. Presidente.”