Promovido pelo mandato do Deputado Federal Ivan Valente, aconteceu ontem na Quadra dos Bancários, em São Paulo, o debate “Direitos Sociais e a Ameaça Conservadora no Brasil”. Pensada para ser um evento que fomentasse a discussão a respeito do momento especial que atravessamos, uma mistura de crise política com crise econômica, a atividade contou com a participação do escritor Frei Betto, de Guilherme Boulos, dirigente do MTST, Bernadete Menezes, da direção nacional da Intersindical – Central da Classe Trabalhadora, André Singer, cientista político e professor da USP e do deputado Ivan Valente.
Frente a uma Quadra dos Bancários lotada, com mais de mil pessoas, o debate começou com a fala de Frei Betto, que procurou fazer uma análise do que está se passando neste momento a partir da experiência do governo PT. Disse que “uma vez ocupando o Planalto, o PT decidiu ter a sua governabilidade através de dois setores: o mercado e o congresso. Quando, na minha opinião, deveria ter assegurado com a mobilização popular e dos movimentos sociais”. Na tentativa de explicar o que motiva as manifestações públicas que têm acontecido em 2015 e a insatisfação de grande parte da população, disse: “Em 2013, havia uma expectativa de que o governo poderia responder bem às manifestações. Como, se em 12 anos não houve nenhuma reforma estrutural?” E, ao final, afirmou: “Um revolucionário pode perder tudo, até a vida, só não pode perder a moral.”
Guilherme Boulos, dirigente do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, buscou interpretar o significado das manifestações de 15 de março e propor alternativas com um viés popular. “O que nós vimos no ultimo dia 15 de março nas ruas de São Paulo e do pais foi expressão, de forma preocupante, de um desfilar de preconceitos e de intolerância como não vimos há muito tempo no Brasil”. Em sua opinião, “a estratégia petista de conciliação se esgotou. 2013 já tinha mostrado isso, mas parece que o PT não percebeu.” Desta maneira, “a forma nossa [da esquerda] de combater o avanço do conservadorismo, da direita, é tirar sua base popular. Nossa saída é em dois tempos: por um lado, temos que combater e derrotar o ajuste do governo. Mas também temos, de forma decidida, que ser a linha de frente contra o golpismo”.
Já Bernadete Menezes, da Intersindical – Central da Classe Trabalhadora, falou da perspectiva de quem tem buscado construir a luta social a partir do sindicalismo. “Não colocamos o sinal de igual entre os governos do PT e os tucanos. Mas o PT decidiu não comprar as grandes brigas, como a reforma agrária, a urbana e a tributária”. Afirmou também ser extremamente necessária a organização da Classe Trabalhadora contra a aprovação do Projeto de Lei 4330, que possibilita a terceirização de serviços fins, precarizando ainda mais a qualidade do trabalho no país.
O cientista político e professor da USP André Singer, que foi porta-voz do presidente Lula e é autor do livro “Os sentidos do Lulismo”, disse que “a esquerda não pode apoiar uma política econômica que cause desemprego. Isso seria suicídio político”, mas também se posicionou em favor de uma definição mais clara quanto às movimentações que têm ocorrido em favor do impeachment de Dilma: “a esquerda no Brasil tem que defender a democracia. A democracia no mundo é uma conquista da classe trabalhadora.”
Finalmente, o deputado federal Ivan Valente apresentou um panorama das lutas políticas em andamento no Congresso Nacional, em um momento da história do país em que houve mudanças na vida das pessoas, no que diz respeito aos bens materiais, mas não às transformações sociais: “é preciso dizer: consumo gera melhorias nas vidas das pessoas. Mas não traz direitos nem consciência”. Quanto aos programas que reduzem gastos e investimentos públicos e prejudicam os que mais precisam, disse que “não basta a ‘austeridade’. É preciso propor saídas. Quais? As que nunca tratamos [na Câmara dos Deputados], como a auditoria da dívida pública, a taxação das grandes fortunas e a democratização das comunicações”.
Ainda se seguiram as intervenções do público, metade de homens e metade de mulheres, possibilitando aos debatedores que fizessem suas considerações finais.
Foi um debate repleto de gente presente e com boa participação pela internet, que mostrou as necessidades daesquerda discutir seus posicionamentos e divergências e apontou que há saídas para a crise que vivemos: as saídas construídas na perspectiva da classe trabalhadora.
As fotos do debate podem ser encontradas neste link: https://flic.kr/s/aHsk9wdgNK