Atualmente, mais de 60% da população na Região Metropolitana de São Paulo já se encontra, total ou parcialmente, sem água. Enquanto isso, mais de 80% da água disponível é destinada para o agronegócio e para a indústria. A grande mídia e o poder público insistem em responsabilizar a estiagem e a falta de chuvas pela crise, ignorando propositalmente que estudos da SABESP já demonstravam, 10 anos atrás, que o Sistema Cantareira se encontrava sob risco e era necessário que se buscasse novas formas de garantir o abastecimento. Por que, então, a questão foi ignorada pelos governos tucanos, mesmo tendo em vista as proporções enormes que uma crise hídrica poderia atingir?
É preciso lembrar que, em 1994, o governo do estado privatizou a SABESP, negociando 24,3% de suas ações na BOVESPA e 25,4% na Bolsa de Nova Iorque. Apesar do lucro exorbitante (que chega à casa dos bilhões), 49,7% dos seus rendimentos são destinados ao pagamento dos acionistas em São Paulo e Nova Iorque, restando quase a metade para o investimento no setor – valor que é irrisoriamente aplicado a saneamento, tratamento, distribuição ou ampliação (grande parte é destinado para publicidade da própria SABESP e, por consequência, do próprio Governo Alckmin). Há em curso uma especulação da água que beneficia diretamente os especuladores-acionistas de SP e Nova York. A água, um bem comum que deve ser gerido em função das necessidades coletivas da população e não mercadoria altamente lucrativa para os bolsos de poucos!
A crise hídrica vivida no Sudeste é consequência do modelo capitalista predatório aplicado também pelo governo federal! Não é apenas a Região Metropolitana de São Paulo que está sofrendo cortes de abastecimento. Existe hoje um “cinturão da seca”, que já atinge os do Rio de Janeiro e de Minas Gerais, que tem como causa principal mudanças climáticas, em que o desmatamento da Mata Atlântica, do Cerrado e da Amazônia figuram como os principais fatores. O desmatamento do Cerrado, na região Centro-Oeste, se deve em boa parte à política destrutiva do Pró-Alcool, aplicada pelo governo Lula-Dilma, para incentivar a produção de biocombustíveis, bem como ao incentivo do governo federal na produção de soja. Além disso, o Código Florestal, também aprovado sob o governo ptista incentivou o avanço do agronegócio e da pecuária sobre as áreas de nascentes e de margens dos rios, bem como sobre vastas áreas da Floresta Amazônica.
O governo psdbista de São Paulo foi negligente e trabalha, ao menos desde 2004, ancorado na certeza de que uma certa taxa de chuvas, regulares e sazonais, seria atingida todos os anos, ignorando as alterações de clima (desmatamento, formações de “ilhas de calor”, etc.) que tornam os ciclos climáticos cada vez mais imprevisíveis. A população de São Paulo foi vítima de um verdadeiro estelionato eleitoral por Alckmin e seus aliados, que omitiram da população a gravidade da crise hídrica, a fim de garantirem a sua reeleição, preservando a imagem de bons gestores, de um lado; e, por outro, o compromisso firmado com os acionistas da empresa, de que a Sabesp continuaria lucrativa apesar da estiagem.
A população já sofre com os efeitos da crise hídrica! A Sabesp vem operando em sistema de rodízio não oficializado, o que significa que todos os dias a distribuição de água é interrompida entre às 20h e 07h. Isso faz com que aqueles e aquelas que chegam tarde e saem cedo de casa não tenham acesso à água da rua – a não ser que possuam grandes caixas d’água, que encham durante o dia e garantam água durante a noite. Este rodízio velado priva as trabalhadoras e trabalhadores, especialmente, as e os que vivem na periferia de água, ao mesmo tempo em que privilegia o uso industrial e para o agronegócio.
Fábricas no Estado de São Paulo começam a sofrer cortes de abastecimento (Cummins, Rhodia, Hyundai e Mercedez Benz já registram cortes de abastecimento) e já se pode prever demissões massivas nas categorias que lidam com grandes quantidades de água. Ao mesmo tempo, problemas de saúde pública como doenças, a falta de água em hospitais, escolas e creches também testam os limites da população no cotidiano. As trabalhadoras e os trabalhadores não podem pagar pela crise!
Nesse quadro, o PSOL/SP sai às ruas para cobrar a responsabilização dos governos estadual e federal pelo atual patamar de catástrofe hídrica e para cobrar soluções em defesa da água!
-
Congelamento das tarifas de água e do preço da água mineral, potável e caminhões-pipa! Nenhum aumento será tolerado, Água não é mercadoria!
-
Prioridade da água para o uso humano! Hospitais, creches, casas de repouso, escolas, postos de saúde, etc. são prioritários no recebimento de água.
-
Abertura imediata das informações da SABESP! Auditoria de contas, contratos, projetos, execuções, previsões e planos de contingência.
-
Comissão de gestão de crise formada pela SABESP, governo do Estado e Sociedade Civil!
-
Racionamento ou rodízio oficial! Hoje o modelo de economia de água aplicado é perverso. A SABESP vem praticando o rodízio de água, que significa o desligamento do sistema, diariamente, entre 20h e 07h, fazendo com que as pessoas que estão em casa apenas entre esses horários não tenham acesso à água, enquanto os ricos, que possuem grandes caixas d’água, têm suas reservas abastecidas durante o dia, podendo usá-la a qualquer momento. O racionamento de água implica em uma vazão-limite para todas as residências e estabelecimentos, sendo mais democrático que o rodízio, mas o rodízio também poderia funcionar, caso o estado providenciasse recipientes de água adequados para a população.
-
Caixas d’água para todos e todas! É reponsabilidade do estado garantir que as pessoas tenham recipientes adequados de para armazenar água em suas casas. Isso significa financiamento a preços baixos dos equipamentos, bem como um plano de construção emergencial.
-
Investimento já! É preciso avaliar quais os reparos e ampliações do Sistema Hídrico que precisam ser feitos imediatamente, quando cerca de 1/3 da água é desperdiçada na distribuição, por exemplo.
-
Reestatização da Sabesp! cerca de um terço dos rendimentos da Sabesp é repassado para acionistas privados. Este dinheiro deixa de ser investido em reparos na rede, ampliação da produção de água e políticas de saneamento de um modo geral.
-
Recuperação do potencial da Billings para o fornecimento de água, com o fim completo da reversão dos Rios Tiete e Pinheiros, fim da sua utilização para geração da energia e o saneamento de todo o entorno da represa, sem remoção forçada dos moradores dos entornos da represa.
-
Obrigatoriedade de utilização de água de reuso em todos os estabelecimentos públicos, comercias e industriais, bem como nos grandes empreendimentos residenciais.
-
Arborização das cidades! A falta de árvores em grandes centros urbanos cria as ‘ilhas de calor’, responsáveis por um maior aumento da temperatura das cidades e uma potencialização dos efeitos do aquecimento global. A crise hídrica só pode ser solucionada alterando também os fenômenos de fundo que a compõe. Uma mudança no padrão de ocupação urbano, que inclua áreas arborizadas nos centros e periferias das cidades e a reversão da impermeabilização do solo, é essencial para regular o clima e garantir a periodicidade das chuvas.
-
Tarifa Zero! Isso geraria o efeito complementar de reduzir o espaço para a ditadura do automóvel na cidade, aliando-se com a luta pela mudança da matriz de transportes e do padrão de mobilidade urbana na cidade e no estado de São Paulo.
-
Fim do desmatamento! Pela revogação do Código Florestal!
-
Por uma matriz energética sustentável, baseada em energias renováveis, como eólica, solar e maremotriz! As hidrelétricas desviam os cursos de rios e diminuem a água potável existente. As termoelétricas poluem o ar e as águas. É urgente uma substituição de matrizes energéticas!
Viver sem água não é uma opção. A água é condição de existência para a vida!
Diretório Estadual do PSOL São Paulo