“O Brasil anda uó [ruim] para quem é LGBT.” A frase consta do manifesto “Acorda, Alice”, assinado por um grupo de “militantes sociais” que decidiu se organizar para tentar aumentar a representatividade de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais no Legislativo.
Com essa finalidade, eles lançam nesta segunda-feira (8) a campanha #VoteLGBT. Até 5 de outubro, pretendem divulgar -sobretudo nas mídias sociais- candidatos com ideias favoráveis aos direitos civis do grupo. No site da campanha (www.votelgbt.org
), é possível pesquisar os simpatizantes por Estado ou cargo a que concorrem.
“A ideia é juntar forças”, diz o artista visual Gui Mohallem, um dos participantes. “As pessoas só pensam nas eleições presidenciais e esquecem que quem de fato elabora as leis são os legisladores. É importante ter representação nessas instâncias.”
Trata-se também de uma resposta ao aumento da bancada evangélica nos últimos anos. “A gente está muito preocupado com esse crescimento. Não somos contra os evangélicos, mas a bancada deles tem uma pauta conservadora e, muitas vezes, homofóbica”, afirma outro membro, o revisor de textos Marcos Visnadi.
O grupo se diz suprapartidário e afirma que as preferências políticas individuais de cada um não têm relevância para o trabalho. “Não queremos indicar um candidato ou partido”, diz Visnadi. “A ideia é mapear e tentar divulgar quem apoia a causa. (Matéria publicada no jornal Folha de S. Paulo – 8/9/2014).
Leia abaixo o manifesto na íntegra:
NÃO ESTÁ SENDO FÁCIL
Não vamos entrar em méritos de qual partido e sistema político-econômico é o melhor ou mais viável. Essa discussão é importante, mas não é o nosso objetivo aqui. Nós partimos de uma constatação simples: o Brasil anda uó para quem éLGBT.
É inquestionável que tivemos vários avanços nos últimos anos, tanto nas instituições (como a aprovação do casamento igualitário pelo Superior Tribunal Federal) quanto na cultura em geral (teve até selinho gay em novela da Globo!). Mas também é inquestionável que esses avanços estão sendo constantemente ameaçados por uma reação conservadora, LGBTfóbica, cada vez mais organizada, a nível nacional. E o Brasil ainda é um dos países que mais matam travestis, transexuais, bissexuais, gays e lésbicas no mundo!
A bancada evangélica do Congresso Nacional, que elegeu 36 integrantes em 2006, saltou para 73 parlamentares nas eleições de 2010. O resultado disso é conhecido: LGBTfóbicos tomaram a Comissão de Direitos Humanos e Minorias, o projeto de “cura gay” quase foi votado, a presidenta foi pressionada a vetar o kit Escola sem Homofobia. E, neste ano, há um aumento de 47% de candidatos que utilizam o título de pastor no nome da urna.
Claro que evangélicxs não são nossxs inimigxs. Mas a bancada evangélica, especificamente, é formada por LGBTfóbicos que atuam visando o retrocesso das políticas públicas em favor da diversidade! O ódio é a principal bandeira desses políticos e de seus aliados. Quanto mais força essa gente tiver, mais perigoso o Brasil vai ser para xs LGBTs (e para xs negrxs, as mulheres, para todo mundo que não se encaixa no padrão que essas pessoas querem impor).
Se você acha que é impossível que o Brasil se torne um país oficialmente horroroso para xs LGBTs, está na hora de acordar, Alice! Veja o que está acontecendo em Uganda, na Nigéria, na Rússia. Nesses países, LGBTs viraram bode expiatório e estão sendo presxs, torturadxs e condenadxs à morte.
FAZER A EGÍPCIA NÃO RESOLVE NADA
Agora não é hora de se abster. As eleições vão acontecer, e o voto no Brasil é obrigatório. No dia 5 de outubro, a gente tem uma oportunidade real de mostrar força. Agora, mais do que nunca, a nossa força é necessária.
Nas passeatas e protestos, a gente sempre grita: “A nossa luta é todo dia, contra o machismo, o racismo e a homofobia!”. Depois das eleições, a nossa luta vai continuar sendo todo dia. LGBTs correm riscos diários de apanhar, de serem expulsxs de casa, de serem assassinadxs só por serem quem são. Nenhuma eleição vai resolver todos os nossos problemas. Mas é inquestionável que nossa subrepresentaçao no Congresso afeta diretamente nossas possibilidades de obter avanços em termos de políticas públicas. Pra cada deputado intolerante, que pelo menos um/a de nós se levante. A gente precisa ocupar todos os espaços, inclusive o Congresso Nacional.
É importante lembrar que nem todx LGBT é pró-LGBT. E que tem muito hétero brigando muito de maneira séria por esse tema. Por isso, a gente tem que votar em quem defenda as LGBTs, independente de orientação sexual e identidade de gênero. Recomendamos também que você se informe sobre os partidos, as coligações e as relações institucionais – a leitura da Cartilha LGBT Eleições 2014, elaborada pelo site LGBT Brasil, é muito esclarecedora.
Nesta campanha, nos esforçamos por listar todxs xs candidatxs, independente de partido político, que se declaram explicitamente a favor de LGBTs (clique no seu estado ou no cargo para ver a lista correspondente). Se você conhecer algumx candidatx que não está listadx aqui, conta pra gente, no [email protected].