Reportagem da Época aponta campanha orquestrada por grupo político ligado a José Sarney para desgastar imagem do senador do PSOL. Matéria deixa clara a inconsistência das acusações
Reportagem publicada no site da revista Época nesta segunda-feira (10), com o nome “Randolfe Rodrigues, o senador acossado”, assinada pelo jornalista Marcelo Rocha, traz uma série de informações que desmascaram as falsas acusações feitas por políticos da direita do Amapá contra o senador do PSOL. De acordo com a matéria, pelos dados apurados há fortes indícios de que o grupo em questão, ligado à família Sarney, faz uma ampla campanha, envolvendo dinheiro público, para desgastar a imagem do senador Randolfe Rodrigues. O texto reforça o que o PSOL e o próprio senador já vinham denunciando no último ano.
As informações da reportagem dão conta que o prefeito do município de Mazagão, Dilson Borges, do PMDB e um dos principais aliados de José Sarney no Estado, contratou, sem licitação, um escritório de advocacia sediado em Brasília para prestar assessoria jurídica. O contrato é estimado em R$ 130 mil e nele não está explicado qual tipo de serviço seria prestado pelos advogados. O escritório contratado é especialista no atendimento a políticos do PMDB e o irmão de um dos donos é advogado de José Sarney.
A reportagem da Época fala, ainda sobre a ligação dos advogados com o ex-deputado Fran Júnior, acusado pelo Ministério Público de desviar dinheiro público quando era presidente da Assembleia Legislativa do Amapá. “O advogado Hercílio Aquino e seu cliente Fran Júnior passaram a frequentar os gabinetes de Brasília, entregando dossiês contra Randolfe. Neles, Randolfe é acusado, sem provas consistentes, de ter recebido um mensalinho quando era deputado estadual no Amapá. Enquanto recebia pela prefeitura de Mazagão, Hercílio Aquino protocolava denúncias contra Randolfe no Senado e na Procuradoria Geral da República – PGR. A PGR logo entendeu que não havia provas contra Randolfe, e o Supremo Tribunal Federal arquivou a denúncia”, afirma trecho da reportagem.
Leia abaixo a matéria completa.
Randolfe Rodrigues, o senador acossado
O presidenciável pelo PSOL diz ser vítima de perseguição promovida por inimigos políticos
Marcelo Rocha
Nos últimos anos, um jovem começou a incomodar o grupo político ligado à família Sarney no Amapá: Randolfe Rodrigues, presidenciável do PSOL. Nos últimos meses, diz Randolfe, esse grupo se dedica infatigavelmente à tarefa de destruí-lo. Uma tarefa que, segundo evidências obtidas por ÉPOCA, é financiada com dinheiro público, desviado dos cofres do Amapá – e envolveu até um delegado da Polícia Federal.
A campanha contra Randolfe começou há um ano, quando um dos principais aliados dos Sarneys no Amapá, Dilson Borges, tornou-se prefeito de Mazagão, um município de 19 mil habitantes. Dilson, também do PMDB, é irmão do ex-senador Gilvam Borges. No dia 28 de fevereiro do ano passado, a prefeitura de Mazagão contratou, sem licitação, a assessoria jurídica de Aquino Albuquerque & Rocha Associados, escritório sediado em Brasília. No Diário Oficial, o contrato, estimado em R$ 130 mil, não explicava que serviço seria prestado pelos advogados. Por que um município pobre do Amapá precisaria contratar advogados em Brasília? O escritório Aquino Albuquerque é especialista no atendimento a políticos do PMDB. Fernando Aquino, irmão de um dos donos do escritório, é advogado de José Sarney. Familiares dele já trabalharam no gabinete do então senador Gilvam.
Um dia antes de fechar o contrato com a prefeitura de Mazagão, Hercílio Aquino, sócio do escritório, foi constituído para “defender os interesses” do ex-deputado Fran Júnior, acusado pelo Ministério Público de desviar dinheiro público quando era presidente da Assembleia Legislativa do Amapá. Fran Júnior pertence ao mesmo grupo político de Dilson e Gilvam. O advogado Hercílio Aquino e seu cliente Fran Júnior passaram a frequentar os gabinetes de Brasília, entregando dossiês contra Randolfe. Neles, Randolfe é acusado, sem provas consistentes, de ter recebido um mensalinho quando era deputado estadual no Amapá. Enquanto recebia pela prefeitura de Mazagão, Hercílio Aquino protocolava denúncias contra Randolfe no Senado e na Procuradoria-Geral da República. A PGR logo entendeu que não havia provas contra Randolfe, e o Supremo Tribunal Federal arquivou a denúncia.
Em seguida, surgiu outro rastro da campanha. A Corregedoria da Polícia Federal descobriu que o delegado Marcos José Reátegui, irmão do deputado estadual Moisés de Souza, investigava Randolfe clandestinamente. O delegado Reátegui foi preso e indiciado pela PF. Moisés de Souza idealizou a campanha “Fica, Sarney”, quando ele anunciou que poderia não se candidatar neste ano.
No Senado, o Conselho de Ética, presidido pelo senador João Alberto, do PMDB, apura as acusações desde o ano passado e não tem previsão de quando decidirá se as transforma em processo ou as arquiva. Randolfe acusa os adversários de manter essa apuração no limbo para que seja explorada politicamente, nas próximas eleições. Desde que a campanha começou, Randolfe tem usado boa parte de seu tempo para se defender e levantar provas de que é vítima de uma perseguição organizada. Ele nega ser beneficiário do tal mensalinho. “São acusações infundadas, com a clara estratégia de me intimidar, de tentar cassar meu mandato”, afirma.
Fica mais fácil entender do que Randolfe fala quando se ouve o que o presidente do Conselho de Ética do Senado tem a dizer sobre o caso. “Não é fácil cortar na carne. É preciso ter muito cuidado”, diz o senador João Alberto. “Eu teria, evidentemente, um prazo para uma decisão de receber ou não essas acusações, mas esse é um caso muito sério. As acusações são graves. Na hora que se alavancar, abala até as estruturas do Senado. Se ele (Randolfe Rodrigues) não tivesse ido à tribuna negar a existência do mensalão na Assembleia, poderia ser considerado coisa do passado, porque é episódio anterior ao mandato. Mas, no momento em que ele usa a tribuna e fala que as acusações são falsas, cria um problema. Tornou a coisa fluente porque não se pode faltar à verdade na tribuna.”
O prefeito de Mazagão, Dilson, diz que contratou o escritório Aquino Albuquerque para defender o município na área de mineração, nos órgãos ligados ao Ministério de Minas e Energia sediados em Brasília. “Foi uma escolha técnica”, afirma Borges. Questionado sobre quem fez a indicação da banca, Borges recusou-se a dizer o nome. Também não explicou exatamente que serviços foram prestados ao município. O advogado Maurício Pereira, que defende o delegado Marcos Reátegui, admitiu que seu cliente investigou o senador Randolfe, mas negou exploração política dos dados. “Meu cliente visualizou as informações, mas não fez qualquer uso ou repasse a terceiros delas. Não houve prejuízo à pessoa do senador Randolfe Rodrigues”, diz Pereira.
O advogado Hercílio Aquino, que defende Fran Júnior, nega que o dinheiro público do Amapá tenha financiado as ações contra Randolfe em Brasília. “Meu cliente se encarregou de quitar os honorários advocatícios. Nada tenho a acrescentar sobre isso”, diz. Questionado sobre que serviços prestou ao município de Mazagão, ele interrompeu: “O senhor é jornalista ou advogado? O senhor está advogando em nome do senador Randolfe?”. Em seguida, desligou o telefone. O senador José Sarney afirma que “o conceito que tem do senador Randolfe é muito bom” e que desconhece as acusações contra o colega do Amapá. Sarney diz que é votado por lideranças de todos os partidos e se mantém acima das lutas pessoais. Ele afirmou conhecer Moisés de Souza e Fran Júnior por causa de sua atuação como deputados estaduais no Amapá. Também disse conhecer os advogados Hercílio e Fernando Aquino. “São advogados do PMDB, defendendo todos os seus filiados”, afirma, em nota.