Combate ao ACE (Acordo Coletivo Especial) e às terceirizações, campanha pela anulação da Reforma da Previdência de 2003, destinação dos 10% do PIB para a Educação e políticas voltadas à cultura foram alguns dos eixos destacados pelos militantes
Do site nacional do PSOL – Leonor Costa
Como vem ocorrendo nos últimos anos, trabalhadores do setor privado, servidores públicos, estudantes e militantes de movimentos sociais encheram a Praça da Sé, na capital paulista, no último dia 1º de maio, para marcar o Dia Internacional do Trabalhador. Mais uma vez militantes do PSOL estiveram presentes e ajudaram a organizar o ato, que fez o contraponto às festividades promovidas por centrais consideradas pelegas, que caracterizam a data como um dia de festa e como um feriado qualquer, sem lembrar, portanto, o verdadeiro significado do Dia Internacional dos Trabalhadores. Junto com o PSOL, participaram da organização do 1º de Maio classista e de luta, longe de governos e patrões, o Fórum das Pastorais Operárias, Intersindical, MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), esquerda da UNE, PSTU, PCB entre outras organizações de esquerda. O deputado estadual pelo PSOL de São Paulo Carlos Gianazzi esteve na manifestação e falou em nome do partido.
Segundo o dirigente do Sindicato dos Bancários de São Paulo e militante da Intersindical Edson Carneiro Índio, esse é 13º ano consecutivo que as organizações de esquerda se mobilizam para promover um 1º de maio de luta e classista, diferentemente do que vem sendo realizado pela CUT, Força Sindical e outras entidades sindicais que desviaram o verdadeiro caráter do dia. O ato na Sé não teve patrocínios de empresas e nem distribuição de carros e casas, mas contou com a presença de trabalhadores e trabalhadoras de várias categorias e de militantes sociais de diversos setores. De acordo com Índio, a manifestação reuniu mais de 1.500 pessoas.
Nas falas, as lideranças sindicais e sociais reforçaram a necessidade de resgatar o verdadeiro sentido do 1º de Maio e fizeram críticas contundentes às políticas dos governos, que retiram direitos dos trabalhadores. O Acordo Coletivo Especial (ACE), proposta gestada no interior do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, com o apoio da CUT, foi um dos projetos em andamento mais atacados nas intervenções durante o ato na Sé. A proposta pretende fazer com que o negociado prevaleça sobre o legislado, ou seja, que os sindicatos possam fechar com os patrões acordos que tenham mais força que a própria CLT (Consolidação das Leis do Trabalho). Para dirigentes sindicais, caso o ACE seja aprovado, conforme propõe ironicamente o Sindicato que foi berço de importantes lutas dos trabalhadores na década de 70, poderão ser legalizados acordos que, por exemplo, permitirão a divisão das férias em mais de dois períodos; o pagamento parcelado do 13º salário, até mesmo em parcelas mensais; a ampliação do banco de horas sem limites; contratação temporária e a terceirização dentro das empresas sem nenhum limite; flexibilização da licença maternidade, além de outros prejuízos para os trabalhadores.
Para Sérgio Martins da Cunha (conhecido como Serginho), diretor executivo do Interior da Apeosp (sindicato que representa os professores estaduais) e dirigente da Intersindical, a cada ano se percebe uma forte mobilização para descaracterizar o 1º de Maio como um dia simbólico de luta da classe trabalhadora. “Os movimentos combativos reagem a essa lógica e faz um ato que se propõe a resgatar o verdadeiro sentido desse dia”, reforça Serginho, que também é militante do PSOL. Ele explica que alguns eixos de luta tiveram destaque na atividade deste ano da Praça da Sé, como o combate ao ACE e às terceirizações, a campanha pela anulação da Reforma da Previdência de 2003 e a destinação dos 10% do PIB para a Educação.
Segundo ele, no entanto, a esquerda ainda tem um grande desafio em relação a essa data. “Avalio que o nosso ato foi muito positivo, colocando as nossas reivindicações e preocupações no centro do debate, mas avalio que temos também o desafio de envolver cada vez mais os trabalhadores, as mulheres, os jovens, para que o nosso 1º de Maio não seja apenas uma manifestação da vanguarda da esquerda. Precisamos dialogar com todos os setores da classe e trazê-los para os nossos atos do Dia Internacional do Trabalhador e para as nossas lutas diárias”, avalia.
Além dos movimentos tradicionais, também tiveram participação importante no ato da última quarta-feira (01) militantes culturais. Na pauta, a destinação de 2% do PIB da Prefeitura de São Paulo para a cultura, a implementação de políticas permanentes e o lançamento de editais voltados aos grupos culturais da periferia.
Greve dos professores ganha força
A greve dos professores da rede estadual, em enfrentamento à política do governo do Estado de São Paulo, também mereceu destaque nas manifestações das lideranças sindicais. Serginho, que é diretor da Apeosp, explica que a greve, que já dura três semanas, tem conseguido pautar junto à sociedade os ataques contra a Educação que o governo estadual vem implementando. Durante as manifestações, os professores denunciam as contratações precárias imposta a alguns setores da categoria e também reivindicam o cumprimento da Lei Nacional do Piso, que prevê que em uma jornada de 40 horas semanais, 1/3 seja cumprida em atividades extra-classe, fora de sala de aula, em atividades de planejamento e coordenação. “Embora esteja na legislação, isso não vem sendo cumprido pelo governo estadual”, ressalta Serginho, que também é militante do PSOL.
A greve reivindica, ainda, o percentual de reajuste de 37,8%, índice histórico da categoria, mas que não é atendido pelo governo. “No ano passado, nos deram 10,2%, o que na prática significou apenas 5,2%, já que houve a incorporação de uma gratificação. E eles (governo) alegam que tudo foi reajuste. Mas sabemos que não foi”, explica o dirigente da Apeosp. A próxima assembleia será na sexta-feira (10), na Avenida Paulista.
Na última sexta-feira (03) também entraram em greve os professores da rede municipal de ensino, o que reforça o movimento dos trabalhadores da Educação em São Paulo.