O chamado Movimento por uma Nova Política liderado por Marina Silva entra em nova fase e começa a assumir feição de partido reabrindo o debate de suas relações políticas em geral e inclusive com o PSOL.
Afrânio Boppré
Primeiramente há necessidade de se desfazer uma confusão: a de que a performance eleitoral de Marina Silva, com quase 20 milhões de votos na última disputa presidencial, seja resultado de uma acumulação política sólida, partidária, com princípios ideológicos e programáticos, amparados socialmente. Em meu entender a votação de Marina Silva, em 2010, é expressão de um espaço eleitoral já existente na sociedade brasileira e já ocupado por Ciro Gomes em 2002, por Heloísa Helena em 2006 e Marina em 2010. Logo, não é um espaço construído por ela, mas eleitoralmente e ocasionalmente ocupado por ela.
Em segundo lugar, não se pode confundir também a brecha que existe na legislação brasileira, com uma suposta capacidade de aglutinação política de Marina Silva. Explico melhor: a legislação eleitoral brasileira com suas interpretações oficiais não admite que políticos em exercício de mandato mudem de partido a não ser em casos muito especiais. No entanto, se a mudança for para novas siglas é permitido. Foi por essa razão que o PSD de Kassab virou um depositário de políticos descontentes e migrados de diversos partidos tornando-se, em curto espaço de tempo, uma legenda com dezenas de deputados, governador, prefeitos, vereadores etc. Este desempenho não é prova da inconteste liderança Kassabista. Toda essa capacidade de “atração” é resultado, principalmente, de um mal estar e desconforto por relações políticas deterioradas no seio das demais agremiações partidárias.
Agora em 2013 o fenômeno parece se repetir e é provável que uma nova leva de descontentes possa migrar para uma sigla que pode vir a ser constituída por Marina Silva.
Por último, também é preciso discutir com a visão de determinados companheiros(as) apresentada em nosso debate partidário. Sucede que a partir da constatação da enorme dificuldade de vertebrar um partido político de esquerda, com capacidade de disputar hegemonia e influenciar decisivamente na vida nacional, sem fazer concessões aos interesses das classes dominantes, nasce a falsa esperança de que é possível por lances geniais e taticistas encontrar atalhos que nos guinde rapidamente ao centro do poder por uma via eleitoral e na carona de Marina Silva. Esses companheiros(as) estão em uma encruzilhada e minha contribuição vai no sentido de auxiliar o conjunto do partido na busca da escolha histórica que determinadas lideranças do PSOL estão equivocadamente por fazer.
A hora é de afirmar o PSOL. Dizer não a fórmulas mágicas.
Marina Silva já foi testada em 2010 e seu conteúdo político mostrou-se flácido e ziguezagueante. Sua candidatura visava localizar-se como ponto de equilíbrio entre um fantasioso sucesso econômico de FHC e um ilusório sucesso social de Lula. Marina não se portou como superação político e programática, mas sim como fusão e síntese de Lula e FHC.
Ao que parece, em 2014 a farsa deve se repetir, o que deve mudar é apenas a sigla.
A esquerda brasileira não está desafiada a encontrar candidaturas presidenciais tão somente. Nosso desafio é politizar a política, abrir espaços para as lutas sociais, acumular forças para construir o socialismo, ocupar espaços na vida institucional brasileira. Por isso, o PSOL é um partido necessário!