No último dia 03 a Polícia Militar de São Paulo iniciou uma desastrosa operação para combater o uso e o tráfico de crack no centro da cidade, na região conhecida como cracolândia. Tal operação consiste na ocupação ostensiva da região por parte da PM, em tese para coibir o tráfico e o uso. Na realidade, o que ocorre é um processo de limpeza social e de tortura, promovido pelo Estado contra os usuários e contra a população em situação de rua.
Segundo o próprio governo estadual, na figura de seu secretário Luiz Alberto Chaves de Oliveira, coordenador de Políticas sobre Drogas do governo, a ação tem como estratégia levar “dor e sofrimento” aos usuários, como “incentivo” à busca pelo tratamento. Não foi oferecida nenhuma alternativa ao usuário, bem como os mais elementares direitos humanos foram desrespeitados. Em bom português, a ação do governo estadual de combate ao crack se resumiu a dar porrada nos usuários.
A operação também ficou marcada pela falta de planejamento e de coordenação. Inicialmente prevista para iniciar depois da construção de uma clínica de tratamento – que mais parece uma cadeia ou manicômio – em parceria com o governo federal, foi adiantada pelo governo estadual e municipal sem maiores explicações. O governo federal, por outro lado, simplesmente se omitiu da questão, mesmo depois de todos os abusos cometidos. O fato é que nenhum dos governos (federal, estadual ou municipal) fez nada até agora e só resolveu fazer às vésperas das eleições, de acordo com os mais mesquinhos interesses eleitoreiros.
Por trás de toda essa barbaridade estão os interesses da especulação imobiliária, aqueles que realmente mandam na cidade. O projeto “Nova Luz” que pretende privatizar o centro da cidade só pode funcionar depois de “limpar” a região. E os funcionários da especulação, Alckmin e Kassab, usam toda sua força para cumprir essa tarefa. E isso tudo embasado pela mais atrasada das ideologias, que pretende impor ordem e disciplina na marra, às custas da liberdade e dos direitos humanos e sociais.
A sociedade civil, no entanto, não se calou diante de tamanho abuso. Partidos políticos, entidades, ministério público, movimentos sociais, agentes de saúde, moradores da região e especialistas tem se manifestado contrariamente. O PSOL está junto, desde o início, mostrando sua indignação e somando forças. Promover “dor e sofrimento” é tortura. Porque, como diz o convite para o churrascão, “na cracolândia todo mundo é gente como a gente”!
A cracolândia é apenas um sintoma de uma sociedade doente, vítima de péssimos governos e governantes. A cracolândia é uma questão social, de saúde pública, de moradia, de direitos humanos, mas, de forma alguma, uma questão de polícia.