A democracia está desaparecendo dia após dia na Europa. Por exemplo, quando no dia 5 de junho passado se organizaram as eleições em Portugal, a Troika (Fundo Monetário Internacional, Banco Central Europeu, União Europeia) pediu aos dois partidos políticos portugueses que tinham chances de ganhar as eleições que assinassem um acordo diante do qual se comprometiam em implementar as condições impostas pela Troika. Agora isso aconteceu com a Grécia e é a vez da Itália. Por conseguinte, pode-se dizer que os portugueses não tiveram eleições verdadeiramente livres. Foi usada uma arma contra eles. Na realidade, com essa política europeia, a Alemanha está defendendo com unhas e dentes os interesses financeiros, os interesses do mercado.
As palavras acima são de Michael Schlecht, membro do partido alemão “Die Linke” (A Esquerda). Faz parte de entrevista concedida ao jornal Página/12, em 13/11.
Mas até a Folha de S. Paulo teve que admitir. Em editorial de 11/11, o jornal cita Lucas Papademos, novo premiê grego, e Mario Monti, que substituiu Berlusconi:
Conhecidos “eurocratas”, ambos são profissional e intelectualmente muito respeitados, assim como estranhos à atividade político-partidária de seus países. Parecem, na realidade, interventores temporários, encarregados de implementar medidas amargas, antes que venham novas eleições gerais.
O fato é que desde os anos 1980, governantes europeus são eleitos para dar a maior liberdade possível para o capital. Tudo às custas de direitos sociais e serviços públicos. A democracia já era um jogo de cartas marcadas. Tornou-se prisioneira do mercado. E não foram poucos os governos “socialistas” a colaborar com isso.
Agora, até o direitista Silvio Berlusconi foi descartado. Resistiu a 17 anos de escândalos e condenações criminais. Caiu quando se tornou inútil para os mercados. O fato é que a crise chegou a um ponto em que é preciso se livrar até das aparências democráticas.
É contra isso que os indignados ocupam ruas e praças. Contra os golpes de estado neoliberais, é preciso responder com a política a partir de baixo. Construir organizações populares de poder. Se isso não for feito, a classe dominante destruirá de vez qualquer resto de democracia.
Sérgio Domingues é sociólogo e militante do PSOL