Matéria publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo revela que aumentou significativamente a presença de coronéis aposentados da PM no comando das subprefeituras paulistanas. É preocupante este modelo adotado pela gestão Kassab, as subprefeituras foram concebidas inicialmente para serem órgãos mais transparentes e de contato direto com a população, a escolha de coronéis para comandá-las visa justamente o contrário, não é à toa que aumentou o número de denúncias de ações truculentas nos bairros contra os trabalhadores informais. Leia abaixo a matéria publicada no Estadão.
Três oficiais da reserva da PM tomam posse hoje; contando todas as regionais e secretarias, já são 78 policiais na administração municipal
Paulo Saldaña – O Estado de S.Paulo
A presença da Polícia Militar continua em expansão na Prefeitura de São Paulo. Mais três subprefeituras da cidade – Casa Verde, na zona norte, Pirituba-Jaraguá, zona oeste, e Guaianases, na zona leste – vão passar para o comando de coronéis da PM partir de hoje. Das 31 administrações regionais, atualmente 16 titulares são da reserva da PM.
A expansão dos policiais militares não se restringe aos principais cargos das subprefeituras. Outros três oficiais assumem no mesmo dia como chefes de gabinetes dessas regionais. Com a movimentação desse começo de ano, já são 20 oficiais na chefia de gabinete e 23 em posições de segundo escalão, como coordenadorias de planejamento e desenvolvimento urbano ou de projetos e obras.
Dos novos três coronéis subprefeitos, apenas Robert Eder Neto, que será o titular em Guaianases, integra pela primeira vez a administração municipal. Neto, de 51 anos, foi diretor de Logística da PM, comandou o policiamento de Osasco e região, na Grande São Paulo e teve uma longa atuação na Corregedoria até entrar para a reserva no ano passado. “Tenho conhecimento do serviço público em virtude de 36 anos na polícia”, disse ele, que visitou duas vezes a subprefeitura de Guaianases nesta semana para “tomar pé da situação”.
Indicação. O coronel assume a gestão de um local pobre, onde estão bairros como o Jardim Romano, que no ano passado sofreu com inundações, em alguns casos, em áreas invadidas. “A região é carente, faz parte da nossa atividade coibir novas invasões.” De acordo com Neto, o convite para o cargo deve ter partido da indicação dos próprios oficiais que já atuam na Prefeitura – uma vez que ele afirma não ter ligação direta com o secretariado ou com o prefeito Gilberto Kassab (DEM).
O novo subprefeito de Pirituba-Jaraguá, o tenente-coronel Sérgio Carlos Filho, era chefe de gabinete da Subprefeitura Jaçanã-Tremembé desde maio. Ingressou na administração municipal em 2009 na coordenadoria de administração e finanças da Subprefeitura de Perus. Já o coronel Airton Nobre de Mello era chefe de gabinete da Casa Verde e assume agora como seu titular. Ambos preferiram não falar antes de assumir.
Fardados. As mudanças envolvendo oficiais da PM incluem a transferência do coronel Fernando de Souza Brito da chefia de gabinete da Subprefeitura de Guaianases para a de Pirituba-Jaraguá. Ao todo, 57 oficiais aposentados trabalham nas subprefeituras. Contando as vagas em outras secretarias da administração municipal, os policiais já chegam a 78. Já há mais oficiais da reserva trabalhando na administração municipal que coronéis na ativa – são 61 atualmente na Polícia Militar em todo o Estado. Eles só assumem a vaga depois que passam para a reserva.
Em um ano, o total de oficiais da reserva exercendo a função de subprefeito se multiplicou por cinco e o número de policiais na máquina municipal dobrou. A Prefeitura argumenta que o critério de escolha dos policiais militares é exclusivamente sua capacidade gerencial.
O emprego dos coronéis nas subprefeituras ocorre paralelamente à mudança de papel das subprefeituras realizada pela atual gestão. Kassab voltou a centralizar a administração, diminuindo o orçamento e tarefas das regionais. Cabe às subprefeituras atualmente cumprir tarefas de zeladoria, serviços de tapa-buraco e cortes de vegetação.
PARA ENTENDER
Estratégia surgiu após escândalo
A estratégia de usar quadros da PM na Prefeitura teve início em julho de 2008, com a indicação do coronel Rubens Casado para a Subprefeitura da Mooca. Casado foi para a administração um dia depois do escândalo de propinas envolvendo fiscais e camelôs.
Para tentar diminuir a sensação de desordem e melhorar a eficiência dos serviços de zeladoria, a presença da PM se disseminou rapidamente. A parceria se intensificou quando, em 2009, a gestão criou a Operação Delegada (conhecida como “bico oficial”).
Publicado originalmente no site do Estadão em 10 de janeiro de 2011 | 0h 00