Por Sérgio Domingues
Um rinoceronte do zoológico de São Paulo recebeu cerca de 100 mil votos nas eleições municipais de 1958. Seu nome era Cacareco. Em 1988, foi a vez do Macaco Tião, de um zoológico carioca. Com 400 mil votos, ficou em terceiro lugar para prefeito.
Ambos os casos parecem ter atraído pessoas que anulavam seus votos tanto para protestar contra um jogo de cartas marcadas, como numa reação à obrigação de votar.
De lá pra cá duas mudança importantes. Primeiro, a urna eletrônica já não permite escolhas desse tipo. Segundo, as eleições tornam-se cada vez mais despolitizadas. Os candidatos são valorizados pela aparência, simpatia, celebridade. Propostas, poucas. Denúncias, menos ainda.
Nesse cenário, surgem as candidaturas prontas para servir de “cacarecos”. Refúgios do voto desinteressado e sem consciência.
Exemplo escancarado desse tipo de candidatura é a do Tiririca, em São Paulo. “Vote em Tiririca. Pior que está não fica”. Este é seu lema como candidato a deputado federal pelo PR, em coligação que apóia o PT.
Como ele, há muitos outros. Gente famosa, nem sempre pelos melhores motivos. Nada contra que famosos se interessem por política. Mas, a grande maioria faz parte de uma jogada de partidos oportunistas. Com esse tipo de candidatura, eles pretendem atrair milhares de votos para suas legendas.
São votos de quem não está nem aí com a política. Despreza quem dela participa, sem imaginar que virar as costas para a política significa torná-la ainda pior.
Na raiz desse mecanismo de despolitização está o voto obrigatório. Algo que vai tornando o sistema eleitoral vazio de propostas e de conseqüências reais. A não ser a manutenção dos interesses dos poderosos.
Sérgio Domingues
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