Em assembléia que reuniu milhares de professores, diretores, supervisores e funcionários nesta sexta-feira (05/03) na Praça da República, foi aprovada, por unanimidade, a greve na rede estadual paulista de ensino. Na pauta de reivindicação dos trabalhadores estão a garantia do emprego; por um plano de carreira justo; reajuste imediato de 27,%% e reposição salarial de 6%; contra a avaliação de mérito; pela incorporação das gratificações com extensão aos aposentados e concurso público de caráter classificatório. A greve foi puxada pela Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo), Afuse (Sindicato dos Funcionários e Servidores da Educação), Apase (Sindicato dos Supervisores do Magistério no Estado de São Paulo), CPP (Centro do Professorado Paulista), Apampesp (Associação dos Professores Aposentados do Magistério Público do Estado de São Paulo) e Udemo (Sindicato de Especialistas de Educação do Magistério Oficial do Estado de São Paulo).
Já nesta sexta-feira, regiões da capital como Brasilândia, Perus e Freguesia do Ó tiveram 100% das escolas paralisadas. Os sindicatos acreditam que esta pode ser a maior greve unificada dos servidores do estado de São Paulo.Nesta sexta-feira, o Centro Paula Souza realizou assembléia com o mesmo objetivo de debater uma greve e o SindSaúde aprovou entrada em estado de greve, com indicativo para entrar em greve com o conjunto do funcionalismo público de São Paulo.
“Quem nos levou a esta greve foi o governo de São Paulo. Nossas reivindicações são as mesmas desde Mário Covas. Pedíamos o fim das gratificações, que é a forma mais fácil de excluir os aposentados, e eles vieram com mais. Pedimos plano de carreira e eles vieram com valorização por mérito, excluindo 80% dos professores num plano a que dificilmente alguém vai chegar ao final. A greve é consequência do descaso do governo”, explicou José Maria Cancelliero, presidente do CPP.
“Nascemos brigando com o governo contra a política de gratificação. Esta é uma grande enganação e falta de respeito. E agora vem o Paulo Renato [secretário de educação] com incorporação de gratificação a prestação!”, criticou Zilda Guerra, da Apampesp. Na última semana, o governo de São Paulo enviou à Assembléia Legislativa projeto de lei propondo a incorporação da GAM (Gratificação por Atividade de Magistério) em três anos: 1% em 2010 e o restante em 2011 e 2012. Para a presidente da Apeoesp Maria Izabel Azevedo Noronha, isso foi uma afronta aos professores, que acabou fortalecendo a mobilização pró-greve.”Tem que incorporar de forma integral”, afirmou. “Além disso, é possível dar reajuste a todos. Esta é a nossa briga política com este governo”, acrescentou.
Para Pedro Paulo, do Coletivo na Escola e na Luta da Apeoesp e da Intersindical, havia inúmeros motivos para decretar a greve. “Há muito tempo somos humilhados e desrespeitados. E precisamos transformar este sentimento de indignação e revolta em luta em nome da dignidade. Esta assembléia é a síntese de um calendário unificado. A partir de hoje, enquanto o governo não nos atender, não vamos sair das ruas”, disse. “Num momento de aprofundamento das políticas neoliberais, esta greve dá norte a outras lutas no país. O momento eleitoral deve apontar para um projeto que defenda o funcionalismo, sinalizando a derrota do projeto tecnocrata da educação”, afirmou.
Na avaliação do deputado federal Ivan Valente, que participou da assembléia na Praça da República, o PSDB está há 16 anos à frente do governo de São Paulo e, se quisesse fazer algo de bom para o professorado, já teria feito. “O que os tucanos fizeram foi piorar a qualidade na educação, acompanhando as orientações do BID e do Banco Mundial. Em sua própria avaliação, a educação de São Paulo vai mal. Os professores foram duramente afetados pela política da meritocracia e da competição, um verdadeiro engodo. Por isso, defendemos o fim das provinhas, que não servem para nada. Educação em primeiro lugar é garantir recursos e dignidade para o professorado”, declarou Ivan Valente.
O PSOL protocolou na Assembléia Legislativa de São Paulo projetos de lei que anulam as provas obrigatórias para os professores instituídas pelo governo Serra. “Também encaminhamos medidas judiciais ao STF [Supremo Tribunal Federal] contra a lei que criou as provas, porque elas excluem 80% do professorado, são uma afronta ao princípio da isonomia salarial”, explicou o deputado estadual Carlos Giannazi.
O calendário da greve decretada prevê para esta segunda-feira diálogos com estudantes e professores nas escolas ainda não paralisadas; comando de greve terça e quarta; assembléias regionais na quinta e uma nova assembléia estadual na sexta, dia 12, às 14h, no MASP, na Avenida Paulista, já com indicativo de passeata.
Clique aqui para ler o pronunciamento feito pelo deputado Ivan Valente sobre a política educacional do governo Serra, distribuído na assembléia desta sexta-feira.