Manifestação reuniu mais de 500 pessoas nesta segunda-feira em frente à Prefeitura de São Paulo e foi reprimida com violência pela Polícia Militar. Para o deputado federal Ivan Valente, que integrou a comissão recebida pelo poder público, há um descaso absurdo da gestão Kassab com os moradores das regiões alagadas.
Mais de 500 pessoas, dos Movimentos Organizados em Defesa dos Moradores Represados na Várzea do Rio Tietê e dos Atingidos pelas enchentes e áreas de risco de deslizamento da cidade de São Paulo, realizaram um protesto na tarde desta segunda-feira (8/02), em frente à Prefeitura Municipal, contra o descaso da gestão Gilberto Kassab diante das enchentes que atingem há capital desde o final do ano passado. Regiões como o Jardim Pantanal estão alagadas desde as primeiras chuvas de dezembro de 2009.
Carregando amostras da água que invadiu as casas e trouxe junto uma série de insetos e até cobras, aumentando seriamente os riscos da população local, os moradores exigiram ser recebidos pela Prefeitura. A Polícia Militar reagiu fortemente contra os manifestantes, utilizando gás pimenta e cassetetes, que atingiram parlamentares e jornalistas presentes.
Depois do confronto, uma comissão de moradores e parlamentares foi recebida pelo secretário de Relações Governamentais da Prefeitura de São Paulo, Antonio Carlos Rizeque Malufe. Eles reivindicaram uma política habitacional decente, que garanta casa para aqueles que perderam suas moradias com as chuvas; o desassoreamento imediato do Rio Tietê, entre a barragem da Penha até Itaquaquecetuba; a abertura total e ininterrupta da Barragem da Penha até o fim do represamento; a indenização dos materiais perdidos pelo represamento das águas do Tietê e a abertura imediata de uma mesa de diálogo entre governo do Estado, Prefeitura, Câmara Municipal, Defensoria Pública e Movimentos Populares.
No período anterior à época de chuvas, o Sistema Produtor de Água do Alto Tietê (SPAT) estava com 90% de sua capacidade máxima. Desde que foi privatizado pela gestão tucana, o consórcio responsável pelo SPAT recebe incentivos para manter os reservatórios cheios. “Esta lógica privatista leva a uma dinâmica que sacrifica enormes áreas habitacionais em troca da margem de lucro das empreiteiras que hoje controlam o SPAT. O sistema não foi paulatinamente esvaziado desde agosto justamente por essa lógica”, criticou o deputado federal Ivan Valente, que participou da reunião com a Prefeitura.
“Não há o que se possa fazer nesse momento para esvaziar a região do Jardim Pantanal até que o volume de chuvas diminua, pois as comportas que estiveram fechadas até dezembro para garantir o lucro das empreiteiras ficarão abertas até que o fluxo das chuvas diminua para evitar um transbordamento. Dizer que esse problema pode ser resolvido no curto prazo é no mínimo desonesto”, acrescentou Valente.
De acordo com um dos líderes dos moradores do Jardim Pantanal, Ronaldo Delfino de Souza, a reunião foi improdutiva. “O secretário não tinha ideia do que está acontecendo nas áreas alagadas. Ele imaginava que todos os problemas estivessem resolvidos, como assistência médica e habitação”, disse.
Os moradores saíram da sede da prefeitura com o compromisso de uma nova reunião para esta sexta-feira (12). “O retrato é de agonia e vergonha, as pessoas estão sendo vítimas de um planejamento urbano criminoso”, disse Valente. Ele acredita que a situação dos bairros atingidos ainda deve piorar: “Depois de perder as casas, há ainda a leptospirose, que pode contaminar muita gente”.
Descaso histórico
De 2006 a 2009 a Prefeitura de São Paulo cortou R$ 353 milhões em ações de combate a enchentes. Em vez de executar R$ 1,1 bilhão previstos para essa finalidade nos últimos quatro anos, a gestão Kassab utilizou apenas R$ 751 milhões. No ano passado, o prefeito utilizou menos de 8% dos R$ 18,4 milhões previstos no orçamento para a construção de piscinões. O orçamento de 2010 prevê um corte de outros R$ 51 milhões para ações antienchentes.
O descaso em relação à população mais pobre, que sofre com o aumento das chuvas, também vem do governo Serra, que somente no ano passado deixou de gastar R$ 114 milhões nas obras de desassoreamento da bacia do Tietê.
O presidente estadual do PSOL, Miguel Carvalho, e militantes do Partido Socialismo e Liberdade também participara do ato nesta segunda-feira.
* com informações da Rede Brasil Atual