Por Aldo Santos
No dia 03 de Dezembro de 2009, os moradores da Vila Lulaldo
comemoraram 20 anos de luta, resistência e conquista, por ocasião da
ocupação que chocou o conservadorismo da cidade de São Bernardo do Campo.
Essa é uma conquista definitiva, um exemplo concreto de quem luta conquista
e, que, quando o poder público não responde as demandas sociais, o povo
constrói suas alternativas em busca de uma vida melhor.
Precisamente, 20 anos atrás, eu estava em casa quando recebi um
telefonema do companheiro Taná (assessor político do nosso gabinete) dizendo
que a "festa" seria a noite e que eu estava convocado.
Compareci no horário combinado, juntamente com outros assessores
do gabinete.
Acompanhei passo-a-passo toda a movimentação, como a medida dos
terrenos (feita com um barbante), a definição das ruas e o operativo para a
transferência de parte moradores da Vila Jurubeba para o terreno que ficava
ao lado do Jardim Jussara.
Iniciada a ocupação, por volta da meia noite erguemos o primeiro
barraco (da Emília) que passou a ser uma espécie de Central da ocupação. A
Emília estava doente e frágil, mas não faltava valentia, coragem e
determinação, pois todos estavam convictos de que era preferível lutar até
as últimas conseqüências, do que morrer soterrados nos morros da Vila
Jurubeba.
Para passar a noite, ela (Emilia)fazia um café forte, e,de vez
em quando tomávamos uma talagada de cachaça para animar e suportar as
dificuldades e o cansaço que por vezes tomava conta das pessoas.
Existia uma sensação de felicidade e medo entre os ocupantes.
Felicidade porque estavam saindo de uma área (Vila Jurubeba) que estava
prestes a desmoronar. O medo era sobre o que poderia acontecer com a
repressão policial, com a reação da Administração do Prefeito Mauricio
Soares e a voracidade especulativa do proprietário da área, Sergio
Canastreli.
Lembro-me do Agenor, da Emília, do Taná, do Barba e tantos
outros (as) que heroicamente lideraram aquela vitoriosa ocupação.
Essa ocupação aconteceu em decorrência da total omissão do poder
público (na época, o prefeito era o Dr. Mauricio Soares do PT), uma vez que
partes dos moradores já estavam alojados na sede social do Jardim Jussara,
inclusive, com parte das casas danificadas pela ocorrência de chuvas,
ventanias e tempestades.
A ocupação de um novo local foi a única saída encontrada pelos
moradores. Portanto, essa ocupação tinha o propósito claro e objetivos
definidos: ocupar, resistir, construir e conquistar.
No dia 4 de dezembro, logo cedo dividimos as tarefas: um grupo
fazia a transferência dos barracos, outros mediam os terrenos, outros
buscavam alimentação e outros buscavam apoio político para resistir na área
ocupada.
A imprensa fez um estardalhaço e a polícia também estava por
perto. Na cidade era um comentário só. Desde o início apoiei a ocupação,
depois, o subprefeito Chicão também passou a apoiar deliberadamente os
moradores.
O Executivo endureceu com o movimento a tal ponto que o prefeito
Maurício Soares e seu Vice- Djalma Bom demitiram o subprefeito do distrito
do Riacho Grande. Convém salientar que o companheiro Chicão foi eleito pelo
voto popular dos moradores do Riacho Grande.
A bancada de vereadores do PT, em 1989, condenou o nosso apoio à
ocupação e o partido se reuniu para discutir a minha participação nessa
ocupação. Uns defendiam o meu afastamento do partido, outros
defendiam a perda do mandato de vereador, mas em nenhum momento tive dúvida
da necessidade daquela ação e do nosso irrestrito apoio a população carente
e abandonada pelos sucessivos prefeitos desta cidade.
Lembro-me dos freqüentes discursos conclamando os moradores a
resistir, pois a história dos trabalhadores deveria ser escrita pelos
próprios trabalhadores e que a nossa atuação, também, era a história viva
que estávamos escrevendo. Numa Assembleia foi pautado o debate sobre
o nome da Vila e das ruas. Mesmo com dificuldades respiratórias, a
companheira Emília levantou a mão e pediu a palavra, apresentando sua
proposta de nome.
Após justificar sua proposta afirmou: "A nossa Vila deve receber
o nome dos nossos Lutadores que todos conhecemos". Todos ficaram em
silêncio. Ela então complementou: "Minha proposta é que nossa Vila Tenha o
nome de VILA LULALDO, em homenagem ao LULA e ao Aldo, pois o LULA é um
grande lutador e nos representa no Brasil inteiro e o Vereador ALDO SANTOS é
quem nos apóia e está com a gente dia e noite aqui no terreno". Todos
aplaudiram. Após a votação dos vários nomes, a proposta vencedora foi a
proposta apresentada pela guerreira Emília Belomo.
A denominação foi objeto de grande repercussão e destaque na
grande imprensa, pois a homenagem aprovada pela assembleia dos moradores,
durante muito tempo e até nos dias atuais, ainda, é vítima de preconceito
dos políticos reacionários que não respeitam a história dos pobres e a
soberania popular.
Nas assembleias, várias lideranças populares usavam a palavra
para expressar a solidariedade de classe, como o Tonhão, Dagmar, Geraldo,
Boni e outros.
A resistência dos moradores foi grande: com a realização de
assembleias permanentes, atos, passeatas, fechamento da Via Anchieta e todas
as formas de lutas necessárias para garantir a fixação dos moradores na área
ocupada.
Foi uma luta acertada e VITORIOSA, pois os moradores estão lá
até hoje muito bem e obrigado. No início era um sonho que aos poucos se
transformou em realidade e hoje existe uma cidade, onde convivem
aproximadamente 400 famílias, livres do temor do soterramento, do aluguel, e
das ameaças de reintegração de posse.
Recentemente tentaram leiloar a área, mas, na
prática, essa
área pertence aos moradores que não abrem mão de sua luta, sua história e da
conquista consolidada ao longo desses 20 anos de "vida nova".
Exigimos que o Prefeito Luiz Marinho, amigo inseparável do
Presidente LULA, faça a imediata regularização fundiária da vila sem custos
para os moradores, bem como deve urgentemente viabilizar as melhorias
necessárias, como: guias, sarjetas, asfalto, iluminação pública, creches,
Unidade Básica de Saúde e outras.
Vila LULALDO, uma história marcada por bravura, consciência
política e determinação dos moradores que ocuparam, lutaram, resistiram e
construíram sonhos e vidas como protótipo de uma nova realidade social.
Todas as ocupações que ocorreram no município, na verdade,
apontam para a inoperância do poder público, que não apresenta política
habitacional capaz de responder previamente a demanda da população
empobrecida.
Nesse sentido, quando o poder público não resolve, o povo
organizado aponta o caminho e a solução para responder ao déficit
habitacional que em nossa cidade é de aproximadamente 60 mil moradias.
Parabéns aos moradores da jovem Vila Lulaldo, que têm muita
história a contar para as novas e futuras gerações, ao mesmo tempo em que
essa luta representa um grande farol político na resistência e transformação
social rumo à construção de uma nova sociedade, justa, igualitária e
Socialista.
OCUPAR, CONSTRUIR, RESISTIR E CONQUISTAR É PRECISO!!!
Aldo Santos
Sindicalista, Coordenador da Corrente política TLS, Presidente da Associação
dos professores de filosofia do Estado de São Paulo, membro do Diretório
Nacional e da Executiva Estadual do Psol (03/12//09)