Por Luciana Araujo
No último dia 19, a direção nacional do Partido Verde encaminhou à Executiva Nacional do PSOL uma carta em resposta à resolução aprovada na reunião do diretório nacional dos dias 5 e 6 de dezembro. A carta dos ‘verdes’ afirma que eles querem seguir conversando, mas aponta divergências que confirmam a inviabilidade de qualquer tipo de aliança dos socialistas com o PV.
Em relação à plataforma de 15 pontos estabelecidos pelo DN/PSOL como “parâmetros iniciais” para o debate, o PV se pronuncia sobre apenas cinco, genericamente, mas ainda assim evidenciando polêmicas de fundo com nosso partido.
Sobre os pontos prioritários – a oposição programática de esquerda ao governo Lula, PSDB, DEM e ao neoliberalismo, a crítica à política econômica dos governos Lula e FHC e a construção de um discurso de enfrentamento à falsa polarização entre PT e PSDB – o PV responde laconicamente. Afirmam defender “um novo modelo de desenvolvimento econômico, capaz de dar o passo seguinte das políticas sociais dos últimos governos assegurando a plena cidadania do povo brasileiro”. Ou seja, não se dispõem a fazer oposição de esquerda ao tucanato, ao lulismo e aliados. Ao contrário, defendem avançar na continuidade do projeto em vigor no país desde 1995. E concretizam tal visão afirmando que “há claramente diferenças de avaliação entre nós no que tange a políticas econômicas”.
Em resposta à proposta do PSOL de defesa do financiamento público de campanha, o PV responde que defendem a “independência política”. Tradução: não se comprometem em rechaçar e denunciar os esquemas de financiamento privado de campanha, que são a base da corrupção que grassa no sistema político brasileiro. Até porque o PV historicamente recebe dinheiro de empresas em suas campanhas, como em 2006 ocorreu com vários grandes grupos nacionais e multinacionais. Entre eles, Klabin, Gerdau, Cutrale, Bunge, bancos BMG (o do Marcos Valério), Unibanco e Itaú, as construtoras OAS e Odebrecht, Aracruz Papel e Celulose, madeireira Madelongo, a mineradora Anglo Gold e dezenas de outras (a lista dos doadores de campanha do PV em 2006 está disponível no portal Transparência Brasil, em http://www.asclaras.org.br/2006/index.php?CAoffset=0&DOoffset=0&enviar=Enviar&cargo=-1&partido=29&estado=-1).
Sobre a reforma agrária anti-latifundiária, proposta pelo PSOL, a direção do PV afirma que “entendemos que o limite para atuação dos movimentos sociais é o estado democrático de direito”. O estado democrático de direito que preserva a Cutrale – doadora de campanha do PV que se auto-intitula proprietária de terras da União – e criminaliza o MST, o MTL e todos os movimentos sociais que lutam pelo direito à terra para plantar. Aqui o PV sinaliza concretamente que é contrário às ocupações de terras, ao questionamento ativo da propriedade privada.
Acerca da defesa da retirada das tropas comandadas pelo exército brasileiro no Haiti, o PV afirma que “há diferenças entre nós na avaliação de alguns processos em curso [na América Latina e no mundo]”. Efetivamente, as divergências são abissais. Somos socialistas, defendemos a revolução cubana, o socialismo como única alternativa à humanidade, as lutas de resistência dos povos boliviano, paraguaio, venezuelano, iraquiano, palestino. Somos anticapitalistas e, desde o programa de fundação do PSOL, afirmamos que: “O sistema capitalista imperialista mundial está conduzindo a humanidade a uma crise global. (…) Assim, a defesa do socialismo com liberdade e democracia deve ser encarada como uma perspectiva estratégica e de princípios. Não podemos prever as condições e circunstâncias que efetivarão uma ruptura sistêmica. Mas, como militantes conscientes que querem resgatar a esperança de dias melhores, sustentamos que uma sociedade radicalmente diferente, somente pode ser construída no estímulo à mobilização e auto-organização independente dos trabalhadores e de todos os movimentos sociais”.
Já o PV é um partido inserido na ordem capitalista e defensor da mesma.
Por último, o Partido Verde afirma considerar “indispensável o fortalecimento do papel do Estado”. Não se sabe exatamente o que os ‘verdes’ querem dizer com isso, mas certamente não é a defesa da suspensão do pagamento dos juros da dívida para salvar a saúde pública em colapso no Brasil. A julgar pela defesa que fazem da política econômica em vigor desde FHC, o papel que o PV defende para o Estado é o de salvador do capital – como tem feito o governo Lula e os governantes dos países centrais em meio à crise aberta desde 2007.
De resto, a resposta do PV não traz nenhuma palavra sobre a luta contra as privatizações, para barrar a construção da hidrelétrica de Belo Monte, sobre o fim do fator previdenciário e a defesa da previdência pública, ou sobre a redução da jornada de trabalho. Os ‘verdes’ também não se dignaram a comentar as propostas do PSOL em defesa da Petrobrás 100% estatal e com controle público do pré-sal, a defesa do Plano Nacional de Educação da sociedade brasileira e da garantia de investimento de 10% do PIB em educação, o fim do modelo de OSs na gestão da saúde, a luta contra os transgênicos e a transposição do rio São Francisco.
A lista de financiadores, além da prática política fisiológica do PV no Brasil – que compõe governos do PSDB e DEM, além de ocupar o Ministério do Meio Ambiente no governo federal – explicam as posições dos ‘verdes’ na sua resposta ao PSOL. Podemos até considerar que esta carta é positiva, porque evidencia as divergências inconciliáveis entre o Partido Socialismo e Liberdade e o PV de Zequinha Sarney, Gabeira, Sirkis, Penna e cia.
Mais que nunca, é hora de preservar o PSOL como a alternativa socialista nas lutas e nas eleições de 2010. E isso só é possível com a apresentação de candidatura própria no pleito presidencial do ano que vem, e com um candidato que tenha estatura política para vertebrar uma campanha anticapitalista que unifique nosso partido, a esquerda socialista brasileira e os movimentos sociais que resistem aos ataques do capital em nosso país. Seu nome: Plínio Arruda Sampaio.
Luciana Araujo é jornalista e integrou o diretório nacional de fundação do PSOL