Por Fábio Nogueira
Todos devem estar acompanhando pela mídia os desdobramentos da morte de Michael Jackson. Para nós, negros e negras, a trajetória de Michael Jackson é um momento de profunda reflexão. Sem cair na ignorância daqueles que associam Michael Jackson ao “lixo cultural pop imperialista” , todos sabemos das raízes negras da musicalidade de Michael, em especial, do período dos Jackson Five. Também sabemos dos horrores dos abusos sexuais e da violência praticada contra os Jackson, em especial, o mais novo: Michael. Esta reflexão vale pois os efeitos do racismo fizeram com que Maycon desfigurasse o próprio rosto e embranquecesse a própria pele para “deixar de ser negro”, “para ser belo”: coisa que, de fato, nunca deixou de ser.
O sucesso, a riqueza, o mundo das celebridades foram o palco onde o menino negro, de origem pobre e violenta, se tornasse um dos principais astros pop de todos os tempos. Envolvido em escândalos e episódios bizarros, Michael definhou como astro e pessoa pública até a morte. No Brasil, tivemos o exemplo similar de Wilson Simonal.
Negros de sucesso e reconhecimento público querem dar vazão as suas fantasias de realização e fama: o resultado disso é um comportamento conservador que reproduz, ao invés de se libertar, do racismo. Obviamente, isso não é uma regra. No entanto, elas devem nos fazer refletir profundamente. Trajetórias de negros conservadores, por mais que queiram e neguem isso, também estão entranhadas do racismo dominante nas sociedades ocidentais.
Para mim, que aos sete anos ouvia Trilher e ensaiava os passos de Moon Walker, nunca houve dúvidas em relação a condição racial de Michael. Os negros suburbanos do Rio de Janeiro, da década de 80, também não. Infelizmente, Michael optou pelo mundo das celebridades, da fantasia e da loucura e se afastou, na estética e comportamento, de seus irmãos de cor.
O que nós, negros, devemos lutar é para nos libertarmos do olhar branco. Ser protagonista de nossa história, como povo originário das terras africanas, é afirmarmos que somos parte desta humanidade a despeito dos colonizadores de vidas e consciência.
Toda a cultura negra nos pertence e é ela, produzida por nós, um patrimônio da humanidade.
Fábio Nogueira é membro do Círculo Palmarino e do Diretório Nacional do PSOL.