Diretor da São Francisco tranca faculdade e professor Konder Comparato protesta; dia 26, Tom Zé faz show por democracia na universidade
Por Lúcia Rodrigues
O ato organizado pelo Fórum das Seis (entidade que representa professores, funcionários e estudantes da USP, Unicamp e Unesp), que ocorreu nesta quinta-feira, 18, reuniu aproximadamente cinco mil pessoas. Os manifestantes saíram às ruas para protestar contra a presença da PM no campus da USP e exigir a saída da reitora Suely Vilela do cargo.
Os protestos também atingiram o governador José Serra (PSDB) que, após o ataque policial na Cidade Universitária, defendeu a ação da PM. “Ô Serra a culpa é sua, hoje a aula é na rua”, gritavam os estudantes em coro.
O ato, que começou no vão livre do Masp (Museu de Arte de São Paulo) e percorreu as avenidas Paulista e Brigadeiro Luiz Antonio, terminou em frente à Faculdade de Direito do Largo São Francisco. Quando os manifestantes chegaram ao local, encontraram as portas da faculdade cerradas. A ordem do fechamento do prédio partiu do diretor da São Francisco, João Grandino Rodas.
A reitora Suely Vilela não quis comentar a atitude de Rodas. A assessoria de imprensa da universidade informou que a reitoria não tomará nenhuma atitude contra o diretor da Faculdade de Direito. Rodas é uma espécie de braço direito de Suely Vilela.
Truculência
O advogado e professor aposentado da São Francisco Fábio Konder Comparato protestou contra a decisão de Rodas. “Quando os estudantes se manifestam são subversivos. E quem fecha a faculdade ao povo, como deve ser classificado”, questiona.
Comparato também criticou a falta de democracia na USP. “Quando não há democracia, os que dirigem devem sair da direção”, afirma numa clara alusão em defesa da saída de Suely Vilela e Rodas dos cargos.
O professor da Física e presidente da Adusp (Associação dos Docentes da USP), Otaviano Helene, também não poupou criticas a falta de democracia na universidade.
“Parece que inventaram um novo jeito de administrar a USP. Agora, é só com a policia.” Ele também defendeu a queda de Suely Vilela e Rodas dos respectivos cargos.
Nos cartazes colados em frente à entrada da Faculdade de Direito liam-se criticas e ironias contra o diretor da São Francisco. “Diálogo não combina com portas fechadas”, “Rodas também faz piquete”.
Flores na Paulista
A Adusp (Associação dos Docentes da USP) distribuiu flores (gérberas) aos manifestantes e à população que caminhava pela avenida Paulista. Para o diretor do Sintusp Claudionor Brandão, a passeata “foi um grande ato em defesa da democracia”.
Desta vez, a polícia militar não interveio na manifestação, apesar da presença ostensiva na área. “Não haverá confronto. Vai ser a melhor manifestação que São Paulo já teve”, antecipava à imprensa, o comandante da operação, major Wanderley Barbosa Filho.
“Estamos tratando com um público culto, esclarecido, que está buscando seus direitos.” Segundo ele, 220 homens foram destacados para fazer o policiamento da passeata. “Temos mais 50 (policiais), no Largo São Francisco.”
Durante o trajeto, os manifestantes distribuíram panfletos à população explicando que a USP continua sitiada por tropas militares. Uma faixa trazia criticas a profissionais da mídia. “Datena, Bonner e Casoy, capachos dos ricos.”
“Nos acusam de baderneiros, mas baderna é a que acontece no Senado (crise que atinge o presidente da casa, José Sarney)”, ressaltava Brandão, do alto do caminhão de som que abria a passeata.
Reintegração
O líder do PSOL na Câmara dos Deputados, Ivan Valente, defendeu a reintegração de Brandão ao quadro de funcionários da USP. O deputado também pediu uma salva de palmas para o professor Antonio Cândido, como desagravo aos ataques dirigidos pelo jornal O Estado de São Paulo contra o docente.
Valente apelou ainda, para que o governador José Serra retire as tropas militares do campus universitário. “A PM é subordinada ao governador. Se ele (Serra) quiser, tira a polícia da USP”, ressalta.
O ex-estudante de Física da USP e atual vereador pelo Partido dos Trabalhadores, Donato, também protestou contra a presença da PM na universidade. Ele criticou ainda, os 82 dias de ocupação da PM à Favela de Paraisópolis.
Negociação
“Esperamos que o Cruesp (Conselho de Reitores das Universidades Estaduais de São Paulo) e, em especial, a reitora Suely Vilela, tenham o bom senso e retirem a polícia da USP”, afirma o coordenador do Fórum das Seis, professor João Chaves, para que as negociações possam ser retomadas.
O Cruesp agendou reunião, para a tarde desta segunda-feira, 22. O Fórum das Seis já avisou que só comparecerá se a polícia estiver fora do campus.
“Estamos aqui (no ato) pra manifestar nosso repudio contra a ação da polícia na USP. O Fórum só negocia se a PM sair”, frisa o dirigente.
Som na caixa
O cantor e compositor Tom Zé engrossa o coro contra a violência policial e pela democratização da USP, no próximo dia 26.. A apresentação acontece no Velódromo da universidade. O músico estará acompanhado no palco pelas bandas Blackzuca (samba-rock) e Cotonetes (rock). Os ingressos custam R$ 10. O dinheiro arrecadado vai para o fundo de greve dos funcionários.