Sob a marca da fraude nasce o novo partido do Kassab. Não só as falsificações de assinaturas são usadas para garantir a legalização do PSD, o uso da máquina pública como as subprefeituras de São Paulo tem sido outro expediente utilizado pelos apoiadores do prefeito para tentar chegar às quase 500 mil assinaturas exigidas pela lei para se fundar um partido. Veja a matéria do jornal Folha de S. Paulo de hoje.
Laudo mostra assinaturas falsificadas em documento exigido pela Justiça
Uma só pessoa assinou lista de apoio em nome de terceiros, diz exame; segundo dirigente, sigla retirou 36 mil registros
DANIELA LIMA
DE SÃO PAULO
CATIA SEABRA
DE BRASÍLIA
Listas de apoio em São Paulo e no Rio de Janeiro à criação do PSD, partido do prefeito paulistano Gilberto Kassab, foram preenchidas com assinaturas falsificadas, atesta perícia grafotécnica feita a pedido da Folha.
A coleta de assinaturas é uma exigência da Justiça Eleitoral para a criação de uma nova sigla.
Kassab corre contra o tempo para apresentar cerca de 490 mil assinaturas até setembro deste ano, para que o partido tenha condições de participar das eleições municipais de 2012.
A reportagem teve acesso a cópias digitalizadas de três fichas de apoio ao PSD.
Em todos os documentos foram detectadas fraudes. Segundo a perícia, assinaturas atribuídas a diversos eleitores foram feitas, na verdade, por uma mesma pessoa.
Em uma das fichas, de 10 assinaturas coletadas, 5 foram feitas pela mesma pessoa. No documento do Rio, há assinatura atribuída a um eleitor que morreu.
O PSD reconhece a existência de “erros” na coleta de assinaturas e que, só no Rio, o partido descartou 36 mil assinaturas “inadequadas”.
O laudo foi elaborado por Orlando Garcia, que, entre outros casos, foi perito oficial da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) que investigou as atividades de PC Farias, em 1992.
Na conclusão do laudo que conta com nove páginas ele afirma: “As listas de apoiamento ao PSD examinadas apresentam falsas assinaturas de eleitores, eis que, atribuídas a pessoas diversas, foram produzidas por mesmos punhos escritores”.
No Rio, as fichas foram preenchidas no município de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Em São Paulo, na zona leste da capital.
NOVOS PROCESSOS
A coleta de assinaturas do PSD já é investigada em Santa Catarina, Paraná, Amazonas e em São Paulo, por suspeita de irregularidades na coleta de assinaturas.
Na capital paulista, onde já há suspeita de que a estrutura da Prefeitura foi usada para cooptar eleitores, nova investigação foi aberta no último dia 14 de julho, a pedido da juíza eleitoral Adaísa Bernardi Halpern.
Ela determinou a suspensão da certificação de assinaturas após encontrar divergências em listas apresentadas pelo PSD ao cartório de sua zona eleitoral, em Ermelino Matarazzo.
Durante o processo de validação das assinaturas o cartório convocou eleitores que tinham os nomes citados nos documentos. De 18 pessoas ouvidas, 9 disseram não ter assinado as fichas.
A Folha localizou dois desse eleitores. O funcionário público do Estado de São Paulo, Robinson Galvani, de 41 anos, e a autônoma Andreia Simonavicius.
“Cheguei lá [na Justiça Eleitoral], não era só a minha assinatura, minha família todinha estava lá: minha mãe, minha irmã e meu cunhado, todos com as assinaturas indevidas”, disse Galvani. “Aquela assinatura nem de mulher é. É uma falsificação grosseira”, disse Andreia.
Ricardo Vita Porto, advogado do DEM -partido que Kassab deixou para fundar o PSD-, disse que pedirá uma auditoria nas listas de apoiamento ao PSD.
“Há relatos de que fraudes como as constatadas pela juíza de Ermelino Matarazzo também ocorreram em outras Zonas Eleitorais. Queremos que os eleitores sejam convocados”, disse o advogado do DEM.