Do Portal Esquerda.net
300 mil nas manifestações da “Geração à rasca”
Gritando “Com a precariedade não há liberdade!” juntaram-se em Lisboa 200 mil pessoas e no Porto 80 mil. O protesto, marcado por uma moblização extraordinária, estendeu-se ao todo por 11 cidades no país, alargando-se a outras cidades europeias.
Em Lisboa, um mar de gente que nunca parou de crescer encheu a Av. da Liberdade, desde a Praça do Marquês de Pombal até ao Rossio. Foto Paulete Matos A adesão à manifestação da “geração à rasca” ultrapassou largamente os números inicialmente previstos, com cerca de 300 mil pessoas em todo o país, disse à Lusa Paula Gil, da organização. “Esperemos que seja o primeiro passo para uma democracia participativa em Portugal”, disse.
Milhares de pessoas em várias cidades juntaram-se ao protesto da “Geração à Rasca”, convocado por quatro jovens, em protesto contra a precariedade. A organização fala em 200 mil pessoas em Lisboa e 80 mil no Porto. O anúncio dos números, feito junto a uma das fontes da Praça do Rossio, em Lisboa, foi acompanhado de gritos “a rua é nossa”.
Em Lisboa, uma das 11 cidades onde decorre o protesto, o desfile chegou ao Rossio por volta das 16h30, com um mar de gente que nunca parou de crescer e que encheu a Avenida da Liberdade, desde a Praça do Marquês de Pombal até ao Rossio.
A “formiga no carreiro”, canção de Zeca Afonso e o slogan comercial de uma cadeia de supermercados ganharam este sábado uma nova letra pela voz de três organizadores do protesto da “Geração à rasca”. As duas canções foram adaptadas para cantar o grande tema da manifestação, a precariedade. Ainda se ouviu um “rap” enquanto muitos manifestantes entregavam as suas folhas com as críticas e propostas, como foi solicitado pela organização aos participantes. De seguida, três dos organizadores leram o manifesto. Primeiro Alexandre Carvalho, com uma rosa vermelha na mão, seguiram-se depois Paula Gil e João Labrincha.
Jel e Falâncio, os famosos Homens da Luta, participaram na manifestação e contaram com a colaboração especial de Fernando Tordo, que se juntou ao grupo na Av. da Liberdade.
Na rua encontraram-se várias gerações, pessoas sozinhas ou famílias inteiras, todos partilhando a ideia de que “o país está à rasca”, como se lia na faixa que encabeçava a manifestação em Lisboa.
No Porto, a multidão obrigou a um plano B que desviou o desfile do protesto para a Avenida dos Aliados. A manifestação estava prevista para terminar na praça D. João I, mas a afluência de pessoas foi tão grande que os participantes, de todas as idades, seguiram para a Avenida dos Aliados, onde havia uma extensa lista de espera de inscrições para discursar. Um dos momentos mais emocionantes aconteceu quando uma jovem de 25 anos cantou a Desfolhada, uma canção celebrizada por Simone de Oliveira e que venceu o Festival da Canção em 1969.
Em Coimbra a diversidade das gerações que se juntaram foi a marca da manifestação. Estudantes, professores contratados, pais ou irmãos de trabalhadores precários foram-se revezando na Praça da República, que não chegou a encher. A meio da tarde, iniciaram uma marcha não prevista em direcção à Câmara. A palavra de ordem: “O Povo unido jamais será vencido”.
Em Viseu juntaram-se algumas centenas da praça do Rossio. Um dos participantes, André Carvalho, de 18 anos, explicou à Lusa porque é que estava ali: “Hoje carrego às costas o peso dos livros, mas quero contribuir, no que me for possível, para que amanhã não tenha de carregar às costas o peso do desemprego”.
O protesto estendeu-se a mais sete cidades do país como Faro (6 mil pessoas), Leiria (500 pessoas), Guimarães, Braga (mais 2 mil pessoas), Castelo Branco (200 pessoas), Funchal e Ponta Delgada (400 pessoas).
Lá fora, noutras cidades europeias, os jovens emigrantes juntaram-se em protestos frente às Embaixadas Portuguesas. Sabe-se já que em Londres reuniram-se 50 pessoas, em Haia 40 e em Barcelona 62.
A banda Deolinda, cuja música “Parva que sou” expressa o desalento dos jovens “quinhentoseuristas”, precários e desempregados, solidarizou-se com o protesto da “geração à rasca”, transmitindo através do Facebook que estaria presente “em consciência”. Há hora do protesto, os elementos do grupo encontravam-se a caminho da Galiza para um concerto.