Resolução do Diretório Estadual do PSOL São Paulo reunido no dia 11/12/2010
1 – Enfrentamos um cenário eleitoral bastante difícil e apesar dos reveses podemos afirmar que o PSOL saiu fortalecido deste processo. Antes de começar as eleições a média das expectativas dentro do partido era de que caminhávamos para uma derrota. Poucos eram os que acreditavam na possibilidade da reeleição dos nossos mandatos, muitos achavam que o PSOL sairia menor das eleições e não conseguiria repetir em nível nacional os votos proporcionais obtidos em 2006. Se dentro do partido as expectativas já não eram das melhores, fora dele, a opinião de que o PSOL sairia derrotado era praticamente uma certeza. Seja à direita, com setores do governismo anunciando a morte prematura do PSOL, seja à esquerda, com o PSTU e PCB apostando numa tática de auto-construção, em detrimento da necessária unidade da esquerda.
2 – Tivemos em São Paulo uma importante derrota que foi a perda do mandato do Raul Marcelo. De fato, o partido perdeu votos na legenda se comparado a 2006, quando tínhamos duas candidaturas majoritárias fortes (Heloísa presidente e Plínio governador), mas aumentamos a votação nominal (chapa) e conseguimos manter praticamente o mesmo número de votos para federal o que possibilitou a reeleição de Ivan Valente. Perdemos força na chapa estadual, o que implicou na reeleição apenas do deputado estadual Carlos Giannazi. Por outro lado, é muito relevante o reconhecimento público de nossas principais referências no estado, nossos três parlamentares obtiveram votações extraordinárias.
3 – As eleições de 2010 foram marcadas pela hegemonia do pensamento conservador. Um giro mais à direita se processou nessas eleições. O debate de fundo, programático, como prevíamos, foi interditado. A marca da continuidade do modelo econômico deu o tom, a direita fez a opção de ir ainda mais à direita, com uma campanha que em alguns momentos beirou o fascismo. Por outro lado, a popularidade do governo Lula obstruiu os espaços de um debate mais crítico, mas mesmo assim o PSOL conseguiu demarcar um posicionamento à esquerda, ainda que minoritário, teve reverberação em setores importantes e poderá servir como alavanca para a construção do partido e retomada da reaglutinação da esquerda socialista.
4 – O PSOL conseguiu se diferenciar nestas eleições. Plínio foi o contraponto no debate nacional e Paulo Bufalo no debate estadual. Nosso candidato ao senado, Marcelo Henrique, também soube usar muito bem o espaço do debate para se diferenciar dos demais candidatos e amplificar nossas posições.
5 – Em nível nacional a candidatura Plínio se afirmou como uma referência, muito além dos votos obtidos na urna. Pesou na reta final o chamado voto útil, o pragmatismo eleitoral que tem vitimado o PSOL nas eleições majoritárias e ao qual precisamos criar mecanismos para enfrentá-lo nas próximas disputas. Plínio se destacou em relação às outras candidaturas da esquerda, polarizou com os três candidatos da ordem, criou constrangimentos à grande mídia e sua cobertura seletiva, levou dúvidas e contradições à base mais progressista do governismo e se consolidou como referência para os setores mais combativos, atraindo em especial, jovens com disposição de conhecer melhor as ideias socialistas. Foi referência para setores importantes dos lutadores, abriu clareiras junto a movimentos sociais mais combativos, aglutinou setores do funcionalismo público, de ambientalistas, dos chamados formadores de opinião e conseguiu pautar temas fundamentais como o debate sobre o limite da propriedade da terra e a redução da jornada de trabalho.
6 – A candidatura Plínio foi fundamental para nosso resultado nacional. Mesmo em condições mais adversas, obtivemos praticamente o mesmo número de votos em nível nacional para as eleições proporcionais de 2006. Elegemos três deputados federais e quatro deputados estaduais. Destaque para o Rio de Janeiro e Pará. Elegemos também dois senadores, Marinor Brito (PA) e Randolfe Rodrigues (AP). No entanto, consideramos uma derrota ao projeto de esquerda e socialista a não eleição de Luciana Genro (RS), Heloísa Helena (AL) e Raul Marcelo (SP), assim como a não eleição de Renato Roseno e João Alfredo (CE). Ainda enfrentamos muitos obstáculos a exemplo da baixa capilaridade social do partido, assim como, a fragilidade de suas instâncias e a ação fragmentária que as correntes internas em disputa permanente incorporam ao partido. É necessário combinar a construção do PSOL com o fortalecimento de sua presença nos movimentos sociais e uma ação institucional combativa que oriente e dê forma ao projeto político partidário que pretendemos alcançar.
7 – Na campanha presidencial, vale destacar o papel do PSTU e do PCB. Não podemos fazer um balanço e deixar passar impune a política divisionista que enfraqueceu a esquerda e comprometeu em muitos locais a eleição de companheiros e companheiras combativos para o parlamento. A candidatura Plínio era saudada com entusiasmo por esses setores quando ainda era minoritária dentro do PSOL, quando se tornou majoritária, passou a receber uma saraivada de críticas, de justificativas forçadas, para se pavimentar o caminho da divisão. É preciso deixar claro que houve tempo suficiente para se chegar a um acordo, para se discutir programa, para se selar alianças. A candidatura Plínio foi definida na Conferência Nacional do PSOL em 10 de abril, logo nossa Direção Nacional reafirmou a disposição de recomposição da Frente de Esquerda numa carta endereçada às direções do PSTU e do PCB e em reuniões com as direções de ambos partidos. O registro oficial da candidatura só se deu em julho, e a nossa Convenção Nacional se deu no último dia que a legislação permitia (30 de junho), ou seja, fizemos todos os esforços para que houvesse a unidade.
8 – A candidatura Paulo Bufalo desempenhou em SP o contraponto crítico. Nos debates fez a diferença programática, em especial em relação ao PT que aqui se coloca como oposição, mas no plano federal defende o mesmo modelo econômico que os tucanos. Paulo Bufalo cumpriu também uma forte agenda no interior do Estado, utilizando sua candidatura como um meio também de construção partidária e fortalecimento das candidaturas proporcionais e de nossas lideranças locais. Teve destaque ainda: a elaboração do programa de governo, a partir dos esforços da nossa militância, um documento que é um referencial importante para a construção de nossa política no Estado; os programas de TV que conseguiram se diferenciar de forma criativa dos demais e trouxeram temas e debates que estão fora da pauta das demais candidaturas; a participação do Paulo Bufalo nos debates, momento em que o PSOL ganhou mais visibilidade e nosso programa pode ser posto em evidência.
9 – Já a candidatura do Marcelo Henrique ao Senado se somou às candidatura Plínio, Paulo Bufalo e nossos proporcionais. Foi uma candidatura coletiva, a serviço do partido, que soube usar os espaços de entrevistas e debates para ajudar a fortalecer de conjunto o PSOL. Cumpriu também uma importante agenda no interior do Estado e ajudou a fortalecer o PSOL em especial na região de São José do Rio Preto.
10 – Na campanha estadual cabe destaque ainda dois fatores. Primeiro o esvaziamento político da Coordenação Estadual da Campanha, faltou o empenho e o comprometimento conjunto do partido para tocar as tarefas da coordenação, que apesar disso, foram assumidas e asseguradas sem comprometer o desempenho geral da campanha e conseguindo se destacar em muitos aspectos, como na intervenção junto à imprensa, nos debates, na TV e rádio, na internet, agenda e produção de materiais. Segundo a questão da impugnação da candidatura do nosso Vice – Aldo Santos, que por extensão significou a impugnação de toda a chapa majoritária. A impugnação do Aldo Santos com base na Lei do Ficha Limpa significou uma tremenda injustiça, uma vez que o companheiro foi condenado por ser um lutador social, por colocar seu mandato a serviço das lutas dos trabalhadores. O PSOL fez desde o primeiro momento uma defesa clara, enfática, do Aldo Santos e da legitimidade de sua candidatura. No entanto, acreditamos que foi um equivoco não fazer a substituição em tempo hábil uma vez constatado que não haveria ganho de causa para nós. Pesou sobremaneira na redução da votação do Paulo Bufalo e no uso do chamado voto útil chegar às vésperas das eleições na condição de candidato impugnado. Inúmeros foram os Portais e Sites, a começar pelo do próprio T.R.E em que os eleitores podiam obter a informação de que o Paulo estava naquele momento impugnado, isso com certeza pesou na decisão de milhares de eleitores que queriam o segundo turno em SP e não estavam disposto a correr o risco de perder o voto.
11 – Nas disputas proporcionais optamos por lançar o maior número possível de candidatos. Ao todo, 93 para deputado federal e 108 para deputado estadual. Uma chapa de tal dimensão significou uma extraordinária sobrecarga organizativa e política para um partido do tamanho do nosso. No entanto, acreditamos que a opção se colocou com a mais adequada face a um quadro eleitoral previamente definido como muito adverso e que foi confirmado nos resultados das eleições. Nesse sentido, cabe destacar o importante papel político cumprido por cada um dos nossos candidatos, como isso foi imprescindível para que obtivéssemos um bom resultado eleitoral. Mas, não podemos deixar de analisar os erros e de constatar a baixa densidade organizativa do partido no Estado de São Paulo, elementos que precisam ser corrigidos.
12 – Na disputa proporcional consideramos um acerto priorizar as candidaturas dos nossos atuais parlamentares no tempo de TV e rádio. Como o tempo era muito escasso, 34 segundos para federal e 21 segundos para estadual, a opção por trabalhar nomes mais conhecidos, com maior capacidade de atrair votos e fortalecer o partido sem dúvida era mais inteligente do que diluir a exposição em um número muito grande de candidatos. Por outro lado, o tamanho da chapa tornava impossível o uso de um critério que fosse equânime, que garantisse de forma democrática a participação de todos. E uma campanha só centrada na legenda, outra saída possível, não teria a mesma eficácia do voto nominal, já que uma parte considerável dos eleitores tem uma predisposição maior de votar no nome do que no partido. Não obstante, a campanha de legenda foi um elemento sempre presente, desde as campanhas majoritárias, passando pelas proporcionais, o que assegurou a manutenção de um índice respeitável, 60.644 votos para federal e 95.005 para estadual.
13 – Na disputa proporcional as iniciativas de ação conjunta propostas pela Direção Estadual do PSOL e pela coordenação da campanha Paulo Bufalo se mostraram como um método acertado que potencializa a ação do partido. O Seminário de Formação dos candidatos realizado em maio, apesar das dificuldades organizativas, se mostrou uma iniciativa positiva, que em muito ajudou na preparação dos candidatos. O Kit de materiais significou um barateamento da produção gráfica e para muitos candidatos a única oportunidade de ter foto, logo e material de qualidade. Os chamados panfletaços colocaram o PSOL de forma simultânea em inúmeros locais, dando maior visibilidade ao partido. A campanha dos 300 mil votos (seja 1 dos 300) na reta final chamou a atenção para o quociente eleitoral e ajudou a consolidar a votação proporcional no partido. O uso da agenda dos candidatos majoritários e os atos que realizamos, apesar das dificuldades materiais, possibilitaram para muitos candidatos um espaço comum e um incentivo maior para fazer campanha.
14 – Cabe destaque também o uso da internet nestas eleições. Em São Paulo optamos por criar uma rede envolvendo todas as candidaturas pré-dispostas a participar, assim alocamos no site estadual do PSOL SP, os sites do Paulo Bufalo e do Marcelo Henrique, além de 73 sites de candidatos proporcionais. Muitos companheiros no entanto preferiram ter sites próprios a se somar a esse rede. A experiência se mostrou muito positiva, apesar das desigualdades, como a responsabilidade pela produção e alimentação de conteúdo ficou a cargo de cada candidato, o uso foi diferenciado, alguns se destacaram e usaram muito bem a internet como uma ferramenta tanto de divulgação de campanha como de organização. Outros preferiram colocar apenas a foto, número e currículo, sem fazer uma atualização constante. O número de visitas obtido mostra o resultado da iniciativa: 132.848 visitas em setembro. 36.643 visitas só no dia 02 de outubro, véspera das eleições. Até o início de dezembro acumulamos 873.364 visitas no site estadual. Vale destacar que superamos o site do PT de São Paulo e ficamos à frente do site nacional do PSTU.
15 – Já fizemos referência aqui, mas vale o destaque para o uso da TV e rádio pelo PSOL nessas eleições. Apesar do pouquíssimo tempo, o PSOL conseguiu se diferenciar e chamar a atenção para temas e debates fundamentais. Não é à toa que recebeu o Prêmio Arco Iris pela propaganda veiculada no programa eleitoral de Paulo Bufalo ao governo de São Paulo, que exibia um beijo gay entre dois jovens. O primeiro da história da TV Brasileira. A opção por um formato de programa que se apresentou de forma criativa conseguiu atrair minimamente a atenção do eleitor para um conteúdo que talvez não fosse notado quando exposto no tradicional formato da oratória de palanque. Esse formato foi capaz de apresentar o partido como um espaço arejado, contundente e progressista, destoando da milionária maquiagem marketeira e da precária imagem ananicada dos partidos de poucos recursos. A difícil tarefa de endurecer sem perder a ternura orientou os trabalhos de TV em 2010 para se construir uma imagem do que pode e deve ser a trajetória de um novo partido contra a velha política.
16 – De modo geral, a campanha do PSOL mostrou que há um espaço à esquerda, de que é possível apostar numa corrente socialista de massas, capaz de fazer a disputa ideológica, contra-hegemônica, na sociedade brasileira. É possível também apostar na reorganização dos socialistas e da esquerda e o PSOL está posicionado numa situação privilegiada para desempenhar esse papel. O resultado do partido, pese todas as dificuldades, mostra que há o respeito e o reconhecimento por parte dos setores mais conscientes da população. A inserção do PSOL no movimento sindical, popular e estudantil, a atuação dos nossos parlamentares, e a atuação conjunta do partido aos poucos vai sendo reconhecida e poderá sofrer um salto de qualidade a depender da nossa atuação. O papel que cumprimos nesta eleição, nossa demarcação política com o modelo econômico dominante, nossa campanha programática e nossa prática diferenciada da média das demais candidaturas e partidos, credencia o PSOL como uma referência, com um partido em crescimento, com capacidade de ganhar mais musculatura e relevância na disputa política. A depender do desempenho do governo Dilma, que tudo indica seguirá o mesmo receituário do governo Lula com agravante de não ter a mesma capacidade política e dos possíveis desdobramentos da crise econômica, que deverá ter impacto mais significativo no Brasil, o PSOL pode se afirmar ainda mais como uma referência para os setores combativos e ganhar espaço junto à população. Cabe para isso, construir um partido ágil, vivo, voltado para a luta de classes, capaz de ter iniciativa política, de estar aberto a novos companheiros e companheiras. Um partido que invista na organização de base, na formação política de seus militantes e na comunicação direta com o povo, criando mecanismos que materializem nossa disputa política e ideológica, fortalecendo o campo socialista e a luta por mudanças. Essas são as tarefas imprescindíveis do PSOL e que os resultados das urnas nos colocam como urgentes.