Indignação e revolta foram provadas por uma notícia divulgada nesta quarta-feira: João Sayad, ex-secretário da cultura do estado de São Paulo, que assumiu a presidência da TV Cultura em junho deste ano, pretende reduzir em 80% o número de funcionários da emissora, cerca de 1.400 profissionais. Segundo a mesma notícia, a ação contava com o aval do ex-governador José Serra e do atual, Alberto Goldman.
Em nota oficial, divulgada também nesta quarta-feira, João Sayad não desmentiu a proposta de demissões, insinuou que a TV Cultura estaria ultrapassada e ainda declarou que a emissora pública “perdeu audiência, qualidade e se tornou cara e ineficiente”. No texto, a direção da TV Cultura também informa que pretende realizar uma “modernização dos processos administrativos”, eufemismo comum nas privatizações tucanas para demissões de funcionários. No final, pior a emenda que o soneto.
O caso da TV Cultura é mais um dos muitos em que a administração tucana insiste em considerar como gasto o que é um investimento. Nestes 16 anos de PSDB no Palácio dos Bandeirantes, os recursos do governo estadual para a Fundação Padre Anchieta, responsável pela administração da TV Cultura e suas emissoras de rádio, foram sempre diminuindo. Em vários momentos, a emissora enfrentou sérios problemas de recursos, chegando até a ter problemas para pagar contas de luz.
O Estado de São Paulo deveria o único financiador de sua rede pública. Porém, durante as gestões tucanas, a diminuição do repasse obrigou a emissora a aceitar anúncios publicitários para poder continuar sua missão. Agora, os tucanos querem retirar esses recursos privados sem repassar novos recursos para a Fundação. Caso as informações divulgadas hoje estejam corretas, ainda querem diminuir os investimentos na TV Cultura.
São Paulo e o Brasil precisam de mais redes públicas de rádio e televisão. São as emissoras públicas as únicas que podem ter liberdade para debater questões como ecologia, cidadania e serviços públicos sem se preocupar com anunciantes. São elas, também, que podem investir na divulgação da cultura que passa à margem da chamada “mídia grande, seja o Hip Hop e a música caipira de raiz ou as artes plásticas.
A solução para a TV Cultura não passa apenas por uma troca de gerente, nem somente por um aumento de recursos, mas por um aprofundamento de seu pequeno espaço de consulta à sociedade. O conselho da Fundação Padre Anchieta precisa ser ampliado e o governo estadual precisa perder a influência que tem sobre essa instituição, para que a cobertura jornalística da emissora não fique refém dos interesses de quem ocupe o Palácio dos Bandeirantes.
Com essas mudanças, poderemos ver, novamente, uma emissora pública que encante por sua programação infantil, aprofunde o debate nos noticiários e documentários, resgate o cinema brasileiro e divulgue a cultura paulista.
Do site do Paulo Bufalo: www.paulobufalo.com.br