por Luiz Araújo
O Instituto Datafolha realizou pesquisa de opinião pública sondando as intenções de voto para a Presidência da República, sendo a primeira sondagem após os resultados das eleições municipais.
Como estamos a praticamente dois anos do pleito a pesquisa representa uma fotografia que orienta as movimentações políticas dos partidos e classes sociais visando um melhor posicionamento.
As pesquisas ainda não detectaram efeitos importantes de queda de popularidade de Lula diante do agravamento da crise. Aliás, não há como pensar em 2010 sem levar em conta os estragos que a crise fará na vida de milhões de trabalhadores brasileiros e, conseqüentemente, na imagem dos gestores da crise e suas candidaturas.
Ao contrário do que destaca a mídia conservadora, a pesquisa mostra que Heloisa Helena continua sendo o principal nome da oposição de esquerda ao governo Lula e a única possibilidade desta esquerda influenciar eleitoralmente no próximo período.
A pesquisa mostra que a direita já tem candidato, ou pelo menos tem um candidato se consolidando, no caso José Serra, que em alguns cenários aparece com 47%, mas que no cenário mais provável aparece com 41%.
Os números apontam a consolidação da alternativa Dilma Roussef como candidata de Lula e um enfraquecimento da alternativa Ciro Gomes.
Apesar de estar fora da mídia, de ter sido candidata a vereadora em Maceió, fato que restringiu a sua mobilização pelos estados brasileiros em 2008, Heloisa Helena continua abocanhando índices muito significativos.
Heloisa alcança 14% das intenções dos votos no cenário mais provável, ou seja, com Serra, Ciro e Dilma na disputa, ficando em segundo lugar, tecnicamente empatada com Ciro. No cenário em Lula consegue coesionar a base governista em torno da candidatura de Dilma, o nome de Heloisa mantém-se em segundo lugar com 17%.
O mais surpreendente é que no cenário que se substitui Serra por Aécio a nossa companheira aparece em primeiro lugar com 27% contra 23% de Aécio e 12% de Dilma.
Tudo isso é uma fotografia. A vida é mais complicada. Vários fatores terão influência na disputa. O primeiro deles é a manutenção ou queda da popularidade de Lula (que até agora continua altíssima), condição essencial para o crescimento de Dilma, fator que dependerá da capacidade dos trabalhadores no seu enfrentamento com a crise econômica. Pesará muito também a capacidade do governo em juntar a base governista, especialmente o PMDB, único partido que pode lançar uma candidatura conservadora alternativa em tão breve espaço de tempo. É óbvio que influenciará o tempo que cada candidatura terá na propaganda eleitoral gratuita e a estrutura de campanha que será capaz de levantar. Neste fator a candidatura de Dilma leva enorme vantagem, seja pelo leque de partidos capaz de juntar, seja pela relação amistosa e generosa de Lula com setores empresariais na hora da crise.
Mais o principal fator que nos interessa analisar é a capacidade de o PSOL aparecer aos olhos do eleitorado como a alternativa política que mais pode enfrentar a crise econômica, não permitindo que a alternativa que apareça seja a volta dos tucanos ou o conservadorismo do PMDB. Tudo isso deve levar o partido a fazer urgentes reflexões. A primeira é que se faz necessário confirmar a candidatura da Heloisa Helena o mais cedo possível, seja porque é o único nome no campo da esquerda socialista capaz de romper com uma provável polarização conservadora, seja porque é o único nome que pode ensejar deslocamento de partidos ou setores partidários para apoiar uma candidatura do PSOL. A segunda reflexão diz respeito à prioridade que deve ter no partido o enfrentamento da crise econômica. Esta deve ser a principal tarefa política partidária. Tarefa que é decisiva para o futuro imediato da classe trabalhadora, por oferecer a possibilidade de desmascarar o governo e suas medidas que só protegem os bancos e especuladores e, ao mesmo tempo, demonstrar a imagem e semelhança das candidaturas Serra e Aécio com o modelo econômico vigente.
O saldo político e eleitoral da esquerda socialista em 2010 começa a ser definido bem mais cedo do que muitos imaginam. E dependem da capacidade de tornar a luta política contra a crise o centro de sua estratégia e, ao mesmo tempo, da capacidade de apresentar com clareza um programa de mudanças que galvanizem corações e mentes de crescentes contingentes de trabalhadoras e trabalhadores afetados pela crise econômica mundial.
Luiz Araújo é secretário-geral do PSOL Nacional.