Tropas brasileiras também sequestraram livros, cadernos e laptops de vários estudantes da Universidade Estatal do Haiti (UEH)
Porto Príncipe (Haiti) – Publicado pela Agência Brasil de Fato
Tropas brasileiras da MINUSTAH invadiram na noite da última segunda-feira (24) a Universidade Estatal do Haiti (UEH) em Porto Príncipe e prenderam um estudante da Faculdade de Etnologia.
Sob o pretexto de que uma pedra havia sido lançada contra um dos veículos da MINUSTAH, os soldados brasileiros invadiram as instalações da UEH utilizando cassetetes e gás lacrimogêneo. Sequestraram livros, cadernos e laptops de vários estudantes, além de prender o universitário Mathieu Frantz Junior.
Esta conturbada ação da MINUSTAH ocorre justamente quando os estudantes da UEH e diversas organizações populares haitianas vêm realizando manifestações públicas em repúdio à presença das tropas de ocupação da ONU no país. Os manifestantes exigem também a renúncia de René Preval, alegando que o presidente está se aproveitando das consequências do terremoto de 12 de Janeiro para se perpetuar no poder e abrir as portas do país aos interesses de empresas e nações
estrangeiras.
Em solidariedade a Mathie Frantz Junior, os universitários interditaram durante a manhã da terça-feira (25) diversas ruas e avenidas nas imediações da UEH. A resposta dos militares brasileiros não tardou e a manifestação foi dispersada com um nova sessão de golpes de cassetete e bombas de gás lacrimogêneo. Estas bombas
utilizadas pela MINUSTAH têm atormentado inclusive as vítimas do terremoto que vivem em acampamentos improvisados nas proximidades da Universidade, especialmente as crianças.
O próprio Representante Especial da Secretaria Geral da MINUSTAH, Edmond Mulet, classificou a ação dos soldados brasileiros como “hostil” e se desculpou publicamente em pronunciamento oficial à imprensa local.
Esta não é a primeira vez que as tropas da ONU invadem universidades e espancam civis no Haiti. Incidentes similares ocorrem com freqüência desde que os soldados da Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (denominação oficial da MINUSTAH) ocuparam militarmente o país em 2004, sob o comando do exército brasileiro. A “Estabilização” que prega a ONU, ao que parece, só pode ser implantada a golpes de cassetete, prisões de estudantes e bombas de gás lacrimogêneo contra civis e desabrigados do terremoto.