Foto: Mandato do deputado Carlos Giannazi
No Capão Redondo, colégio estadual iniciou o ano letivo com sete das 24 salas sem cadeiras
19 de fevereiro de 2010 – Matéria do Jornal da Tarde
Fábio Mazzitelli
Alunos dos anos iniciais do ensino fundamental – crianças entre 6 e 10 anos – tiveram de sentar no chão no início do ano letivo em um colégio estadual da região do Capão Redondo, zona sul da capital. Em obras, a Escola Presidente Café Filho abriu as portas para receber, em sete de suas 24 salas de aula, os estudantes em espaços vazios, sem mesas nem cadeiras.
Com apenas um papel pardo isolando os alunos do piso frio da classe, que faz parte de um prédio novo erguido para a escola, os alunos ainda foram dispensados ontem à tarde após duas horas de aula, pois o refeitório da unidade também não está pronto. Foi servida às crianças merenda “seca”, como sucos prontos e bolachas.
De acordo com uma professora, a diretora havia informado anteontem que o ano começaria mesmo sem todas as salas de aulas com o mobiliário, pois havia a necessidade de cumprir 200 dias letivos, total obrigatório por lei.
Os cinco milhões de alunos da rede estadual paulista voltaram às aulas ontem em cerca de 5 mil unidades. Em alguns locais, o ano letivo já começou com previsão de aulas aos sábados, em razão do calendário apertado de 2010.
“A ordem que recebemos foi para acolher essas crianças mesmo assim. O que sabemos é que a diretora pediu, mas as coisas (mobiliário) não vieram”, afirma uma professora, que pediu para não ser identificada por temer represália.
Segundo ela, no caso principalmente de turmas do primeiro ano do ensino fundamental (crianças com 6 e 7 anos), a recepção na volta às aulas requer cuidados extras, para que o aluno se sinta integrado ao ambiente escolar.
“Tentamos sentar no chão com eles para que não se sentissem rejeitados. Se acontecer isso, eles se recusarão a participar e terão dificuldades na alfabetização”, diz a professora. “É muito humilhante e algo muito sério.”
A recepção das crianças em salas de aula vazias foi constatada pessoalmente, na tarde de ontem, pelo deputado Carlos Giannazi (PSOL). O parlamentar afirma ter ido ao local após uma denúncia da comunidade escolar.
“Fizemos uma diligência e fotografamos o que estava acontecendo na escola. Vamos entrar com representação contra a secretaria no Ministério Público e levar o caso também à comissão de educação da Assembleia”, diz Giannazi.
Em resposta à reportagem, a assessoria de imprensa da Secretaria Estadual de Educação de São Paulo diz que a Fundação para o Desenvolvimento da Educação (FDE), órgão executor das obras da pasta, “garantiu” que o mobiliário será entregue até a manhã de hoje, “antes do início das aulas”, na Escola Estadual Presidente Café Filho, localizada no Jardim Ipê, região do Capão Redondo. De acordo com a FDE, “houve atraso na entrega deste mobiliário devido às fortes chuvas que antecederam o início das aulas”.
Em relação à carga horária reduzida, isso teria ocorrido porque “alguns professores não compareceram para o primeiro dia de aula”, o que “não se repetirá nesta sexta-feira (hoje)”, segundo a Coordenadoria de Ensino da Região Metropolitana da Grande São Paulo (Cogesp).