Por Afrânio Boppré – Secretário Geral do PSOL Nacional
Lembro-me como se fosse hoje! Numa iniciativa pouco usual e típica de coronéis da velha política, o Presidente Lula – sem considerar a vontade de seu partido e o debate democrático – lançou às vésperas da eleição municipal de 2008 a ministra-candidata Dilma Rousseff à sucessão presidencial.
Eu, que militei no PT por 25 anos, sei que sequer o próprio Lula gozou de tão antecipado apoio. Em 2002 por exemplo, ano em que foi eleito Presidente da República, teve que disputar uma prévia partidária com Eduardo Suplicy para poder representar o partido naquela eleição, ou ainda mais atrás, derrotar a tentativa de Zé Dirceu de lançar Sepulveda Pertence ou até mesmo Itamar Franco por não querer ceder à chantagem que Lula sempre fez na medida que queria, por sua própria conta, definir o leque de alianças, o modelo de financiamento de sua campanha e o programa de governo – tudo de maneira diferente do que pensava o PT. Aliás, Lula sempre se beneficiou com a idéia de que o PT lhe atrapalhava.
Todo esse poder de decidir dentro do PT e inclusive dentro do próprio PMDB com a tal lista tríplice deve-se hoje a nada mais nada menos do que ao poder da caneta. Bem, o fato é que Lula empurrou goela abaixo do PT uma candidata que agora já ultrapassou a barreira dos 20% na preferência do eleitorado brasileiro, segundo o Datafolha. Atribuem a Lula a frase: Dilma é uma ótima candidata para perder ou para ganhar. É óbvio: se perder a culpa é da própria Dilma e se ganhar a responsabilidade cairá sobre o seu tutor.
Além de escolher a candidatura presidencial e influenciar na escolha do vice, Lula quer também impor uma tática eleitoral e, para isso, conta com o apoio de setores da grande imprensa. Na prática, pretende fazer uma “eleição burra”, ou seja, nada de debate de idéias, mudanças de modelo, revisão de paradigmas. Apenas uma comparação do seu governo com o de FHC. Sua tática visa influenciar o povo a reduzir sua reflexão entre quem fez mais do mesmo. Um plebiscito entre duas falsa opções.
Uma eleição presidencial, seja na Venezuela, EUA, Brasil ou qualquer outro país deve servir para politizar o povo e permitir criar as condições para a melhor escolha. Lula aposta na despolitização e no não-debate, do qual literalmente fugiu em 2006.
Que Brasil queremos? Essa é a pergunta principal. Somente uma candidatura fora das opções Serra e Dilma pode tornar a eleição mais reflexiva e mais inteligente. O PSOL está discutindo a sua forma de participar e quebrar essa polarização. Politizar o povo com as grandes questões nacionais como dívida pública, reforma agrária, crise econômica mundial, reforma política, reforma tributária, meio ambiente, saúde, educação por exemplo, serviria para elevar o nível do debate. Temas esses dos quais a tática de comparar o governo Lula versus FHC sequer passará por perto. Não deixemos que Lula bestialize a eleição no Brasil.
*Economista, professor, presidente do PSOL-SC e Secretário Geral do PSOL Nacional