Por Paulo Metri
No dia 12/12, a manchete de um dos nossos principais jornais dizia: "Uso da internet aumenta 75%". Isso em três anos, de 2005 até o ano passado, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do IBGE. Outro jornal brasileiro também muito conceituado noticiava, baseado na mesma pesquisa: "65% do país não têm acesso à internet". As duas manchetes não são contraditórias, apesar de soarem estranhas à primeira vista, pois o país tinha um percentual de excluídos digitais enorme em 2005 e, apesar de o número de internautas ter crescido expressivamente nos três anos, este percentual melhorou, mas ainda continuou baixo.
Por que realçar o ângulo bom ou o mau de uma notícia? Trata-se simplesmente de um jornal otimista, que vê a metade do copo cheio, e outro pessimista, que só vê a metade vazia? Não, trata-se de um jornal que reconhece melhorias alcançadas pelo atual presidente, enquanto outro não vê nada de bom no atual e tem saudade do anterior. Mas, mais que isto, eles querem formar a opinião dos leitores, com visões bem díspares. Então, se existe algum desavisado, saiba que vivemos em um fenomenal jogo de enganação, em que muitas coisas não são o que parecem ser e o que elas realmente são está escondido. Vamos tentar desvendar um destes segredos.
O presidente Lula é chamado de "o cara" e recebe uma declaração de amor, representantes de governos estrangeiros, chefes de Estado e de governo nos visitam e acolhem calorosamente nosso presidente, o Brasil merece um artigo cheio de elogios, na lógica deles, no The Economist, e vamos sediar um campeonato mundial de futebol e uma Olimpíada. Alguém dirá: "Descobriram o Brasil!". Certo, mas por que será?
Sessenta por cento da energia consumida no mundo vêm de petróleo e gás natural. A economia mundial é excessivamente dependente dos seus derivados, principalmente para geração de calor em residências e processos industriais, geração elétrica e transportes. A possibilidade de medidas de conservação de derivados é muito limitada no presente. Hoje, os substitutos dos derivados ainda são muito caros e não são esperados grandes avanços tecnológicos no curto prazo. Assim, as economias que cedo migrarem para as fontes alternativas perderão a vantagem comparativa de serem movidas por um energético básico barato, pelo menos por algum tempo. Até aqui, estamos falando do petróleo como fonte energética, porque, como matéria prima, um dos seus derivados, a nafta, dá origem aos milhares de produtos da petroquímica.
Quatro das sete maiores economias do mundo (G-7), as do Japão, Alemanha, França e Itália, importam 100% das suas necessidades de petróleo e a economia dos Estados Unidos, a maior de todas, importa dois terços do que precisa. O Reino Unido, outro membro do G-7, que já foi auto-suficiente graças ao Mar do Norte, hoje importa cerca de 10% da sua necessidade de consumo. O Canadá é o único membro do G-7 que é auto-suficiente. Além disso, 65% das reservas mundiais remanescentes estão em seis países do Oriente Médio e 80% das mesmas reservas estão em países politicamente instáveis. Três quartos destas reservas estão nas mãos de empresas estatais, basicamente do mundo em desenvolvimento.
Por outro lado, em 2005, para cada quatro barris consumidos só um era reposto por descoberta. Além disso, estudiosos indicam que a produção mundial de petróleo está passando por um máximo agora, ou passará em momento próximo, e depois deste máximo a produção cairá seguindo uma curva com declive acentuado.
Os países desenvolvidos, maiores dependentes da importação de petróleo, vivem sob a ameaça constante de um "apagão" de combustíveis. Então, a importância geopolítica e estratégica do petróleo é indubitável, começando a existir a tendência de a garantia de seu suprimento futuro ser negociada entre Estados nacionais e, havendo acordo, as empresas indicadas por eles firmando contratos comerciais.
Neste contexto, ocorre no Brasil a maior descoberta de petróleo dos últimos trinta anos. Ainda é mais importante porque o Brasil é um país confiável em nível mundial, que não rasga os contratos assinados com donos do capital. Um país bastante submisso, haja vista que aceitou quase todas as imposições feitas pelo Consenso de Washington. Com uma classe política, em sua maioria, passível ao fechamento de acordos. Tais reservas passaram a ser vistas como viáveis em termos de irem parar nas refinarias do mundo desenvolvido a um custo pequeno, quando comparado com o custo de invadir e manter países ocupados para retirada de seus petróleos.
Assim, destacou-se um esquadrão de lobistas das empresas petrolíferas estrangeiras para convencer os tomadores de decisão brasileiros a permitir as perdas propostas por eles, definiu-se uma estratégia de comunicação de massa alienante, buscando trazer para a discussão temas menores como a distribuição de royalties, enquanto o principal será roubado sem ninguém saber, e foram escalados altos funcionários do governo americano para darem o recado, no pé do ouvido: "o pré-sal não é de vocês, é nosso, mas vocês farão jus a algumas compensações, principalmente a classe dominante".
Além disso, os países desenvolvidos estão à disposição para receberem os ‘pressaldólares’ em seus bancos, pagando taxas ínfimas para venderem produtos com conteúdo tecnológico, consultorias, serviços diversos, todos supervalorizados. Quantos dos pressaldólares retornarão para os países investidores do pré-sal ou compradores de seu petróleo, através da Copa do Mundo de 2014 e da Olimpíada de 2016?
É o petróleo, anjo! *
* Adaptação da expressão agressiva, muito usada: "It’s the oil, stupid!"
Fonte: Correio da Cidadania – http://www.correiocidadania.com.br/