Por Luciana Genro – Deputada Federal – PSOL/RS
Foi correta a decisão da executiva do PSOL de aprovar uma comissão para dialogar com Marina, explorando a possibilidade de o PSOL apoiá-la. Ao mesmo tempo em que o partido faz essa aproximação, temos que fazer o debate. É bom ou ruim para o PSOL apoiar Marina? Eu estou convencida que não temos outra alternativa se não quisermos cair no isolamento e perder grande parte do capital político que acumulamos nos últimos anos.
Desde a criação do PSOL temos tido uma política acertada no sentido de construir um partido que dialogue com o povo, que não recite fórmulas prontas a respeito da necessidade do socialismo e da revolução mas que ajude a avançar a consciência do povo a partir de suas necessidades concretas. Nosso foco na luta contra a corrupção, pela qual ficamos conhecidos, é uma expressão dessa política. O grande trunfo que sempre tivemos foi Heloísa Helena. Foi ela que nos permitiu esse canal com as massas. Na campanha eleitoral de 2006, apesar de todas as dificuldades, Heloísa chegou a quase 7 milhões de votos. Esse é um patrimônio político dela, mas é também do PSOL. Um patrimônio que não podemos deixar esvair-se nestas eleições.
É claro que se Heloísa fosse candidata a presidente seria diferente. Entretanto, dou total apoio à idéia dela ser candidata ao Senado, nas circunstâncias atuais. Trocar 8 anos de mandato no Senado por 3 meses de campanha, num cenário eleitoral de fortalecimento do governo e de surgimento da candidatura Marina, seria uma loucura completa. Seja quem for o (a) presidente da República a partir de 2011, nosso partido fará uma luta implacável contra a corrupção e em defesa dos direitos dos trabalhadores e dos pobres. A presença de Heloísa no Senado é uma garantia de que o povo brasileiro saberá da luta que estaremos travando.
A conjuntura política não está muito fácil para os revolucionários e socialistas. Mas já passamos por piores. Sem falar na ditadura militar, na década de 90, auge do neoliberalismo, era bem mais difícil fazer política para as massas. Difícil a tal ponto que tínhamos que atuar dentro do PT, um partido que nunca foi dirigido por socialistas consequentes como é o PSOL, e tivemos também que fazer campanha e votar em Lula em 2002, quando ele já tinha até feito um compromisso com o capital (naquela tal “carta ao povo brasileiro”) de manter a política econômica de FHC.
Conscientes da situação, fizemos isso por que sabíamos que chegaria a nossa hora.
Atravessamos essa tempestade, com grande sucesso. Soubemos romper com o governo Lula e com o PT no momento certo, não capitulamos para as pressões que as expectativas em Lula geravam em muitos – inclusive em alguns que felizmente hoje estão no PSOL. Garantimos a legalização do partido para que pudéssemos disputar as eleições seguintes, em 2006. Não traímos nem capitulamos, mas também não fomos para o gueto. Uma grande vitória.
Já o PSTU não teve a mesma sorte. Eu falo do PSTU por que os respeito. São revolucionários e socialistas. Nós também. Mas por que então fundamos um novo partido e não nos juntamos ao PSTU? Responder essa pergunta é fundamental para podermos encarar o debate sobre o apoio à Marina. Fundamos o PSOL por que queremos construir um partido diferente do PSTU. Temos outra concepção sobre o papel dos socialistas no atual estágio da luta de classes. Acreditamos que a melhor maneira de fazer avançar a luta socialista é nos ligarmos aos processos vivos de luta, processos que interagem e fazem avançar o nível de consciência do povo. É lutar para nos credenciarmos desde já como uma alternativa real, não ficarmos falando sozinhos ou para ínfimas “vanguardas”, muitas vezes totalmente descoladas do pensamento do povo. O discurso já ensaiado por Plínio de Arruda Sampaio, postulante a ser candidato do PSOL, é o oposto disso. É o discurso do PSTU.
Para seguir na nossa trilha, e não na trilha do isolamento, a conjuntura nos impõe um pequeno passo atrás em relação a 2006. Não teremos Heloísa disputando a Presidência, então nossa interlocução com as massas vai ficar prejudicada na campanha presidencial. Mas as eleições são para nós um momento tático, quando precisamos nos posicionar da melhor maneira possível num terreno que é sempre mais favorável para a burguesia. Temos que enfrentar esse momento com o menor prejuízo possível para nossa estratégia. Agora imaginem se lançarmos um outro candidato qualquer, ou se apoiarmos o Zé Maria, já lançado pelo PSTU. Com quem vamos falar? Certamente não será com os 7 milhões que votaram em Heloísa pois estes migrarão em massa para a candidatura de Marina. Alguém tem dúvida disso?
Por tudo isso estou convicta de que o melhor para o PSOL é estar com Marina. Ainda não tenho claro se isso será possível, pois para que possamos apoiá-la é preciso que ela queira a nossa companhia, que ela abrace algumas de nossas bandeiras. A reação violenta de Zé Dirceu quando ela falou em aliança conosco demonstra a possibilidade dessa combinação ser bastante explosiva. Setores da burguesia e do PT vão atuar para mantê-la longe de nós. Temos que fazer todo o possível para evitar isso e trabalhar para construir um pólo consequente que combine a luta ambiental com a luta contra a corrupção e pelos direitos dos trabalhadores.
Posicionados nesse campo teremos melhores condições de atravessar esta campanha eleitoral. Quiçá podemos até estar diante de uma grande oportunidade pois Marina pode ser um fenômeno que se iguale ou até ultrapasse o simbolismo criado por Heloísa nas eleições de 2006. Um fenômeno qualitativamente inferior, com certeza, mas que de qualquer forma pode nos render bons frutos políticos, turbinar nossas candidaturas a governador (e é fundamental que tenhamos bons candidatos do PSOL no maior número possível de estados) e até ajudar-nos a eleger parlamentares. Isso vai nos dar melhores condições para a disputa no próximo período. Dilma não é Lula, e os espaços para a esquerda socialista vão se ampliar. As lutas sociais tendem a se intensificar, e nós somos uma referência. Com Heloísa no cenário nacional, com uma bancada combativa e com lideranças respaldadas nos estados vamos nos fortalecer muito e isso será um avanço concreto da luta socialista. Não só dois, mas muitos passos à frente.
Artigo publicado no site da deputada Luciana Genro em 13/11/09 – www.lucianagenro.com.br