Militantes do PSOL, de partidos aliados e de movimentos sociais ressaltam o PSOL como instrumento político de luta da esquerda e enfatizam a importância da unidade para uma estratégia eleitoral vitoriosa em 2010.
Unidade. Esta foi a palavra mais falada pelos integrantes da mesa de abertura do II Congresso Estadual Paulista do Partido Socialismo e Liberdade. As falas foram pontuadas por diversas formas de enxergar na unidade um elemento fundamental para a luta do PSOL no próximo período: uma unidade que não seja um mero discurso, mas que una de fato e afirme o partido como instrumento de luta da esquerda no Brasil; que respeite as diferenças e diversidades internas, mas que consiga construir uma alternativa de esquerda na disputa eleitoral; que reverbere em uma estratégia sindical de uma nova central de trabalhadores; que consiga integrar os movimentos sociais na luta em diálogo com diferentes setores da sociedade; e que consiga aglutinar e ampliar a luta da classe trabalhadora contra a crise do capital.
Para o deputado federal Ivan Valente, somente a construção desta unidade dará fôlego para o partido dar conta das tarefas que tem pela frente. “O congresso paulista é o maior do Brasil, e por isso tem grande importância e grande responsabilidade com a direção e a linha que queremos para o partido no próximo período. Precisamos, por isso, afirmar que nosso inimigo está lá fora. Aqui dentro, queremos unidade pela transformação social”, afirmou.
O secretário geral nacional do partido, Luiz Araújo, localizou a importância do congresso paulista em um cenário nacional, que reuniu cerca de 11 mil militantes em mais de 500 plenárias nos processos preparatórios dos encontros estaduais. Ele ressaltou a unidade saudando a vitalidade e a disposição da militância para construir um amanhã solidário e feliz.
“Temos a necessidade de superar os entraves democráticos no nosso partido. Fortalecer as instâncias, os setoriais, o engajamento dos setores minoritários nas direções, a contribuição militante. Todos estes desafios fazem parte do nosso trabalho. E o congresso de São Paulo tem uma enorme tarefa. A unidade não é uma palavra vazia. Ela se realiza em atos concretos, programáticos, democráticos, de respeito às instâncias, no destensionamento das relações internas”, completou.
Araújo reafirmou a democracia interna como um desafio e como um princípio a ser perseguido pelo PSOL. Ele dialogou com Laura Cymbalista, da Secretaria Estadual de Mulheres, que afirmou a necessidade de a luta feminista deixar de ser uma luta setorial para ser de fato incorporada pelo partido. “Precisamos denunciar a ofensiva conservadora de setores da sociedade contra mulheres por exigirem o direito ao seu corpo, quando lutam pela legalização do aborto. Precisamos denunciar que as mulheres são as grandes prejudicadas com as conseqüências da crise econômica. Queremos que a questão dos direitos das mulheres seja encampada por todos e todas. Nosso objetivo é construir um partido socialista e feminista, porque não existe socialismo com diferenças entre homens e mulheres”, disse.
Uma alternativa de esquerda à crise e as eleições em 2010
Apesar de a burguesia afirmar que a crise acabou, o PSOL sabe que ela não passou e por isso tem sido um baluarte na luta contra este discurso. O partido foi o único a votar contra a MP 458, que entregou a Amazônia para empresários, e vem se manifestando contra o envio do dinheiro público para as montadoras de automóveis, bancos e empreiteiras; e contra o financiamento do agronegócio em detrimento de uma política de reforma agrária.
Plínio de Arruda Sampaio, por carta enviada aos militantes presentes no congresso, afirmou a importância de um olhar estratégico para a crise, com propostas alternativas. “A crise nos coloca diante de uma tarefa de superação e construção de uma alternativa que dê sentido à existência humana: o socialismo com liberdade”.
A mesa de abertura do congresso paulista também afirmou a importância de esta alternativa se manifestar no processo eleitoral de 2010. “Os desafios para o próximo período são muitos. Entre eles, está a necessidade de unir a classe para enfrentar a crise econômica, que não vai ser paga pelos trabalhadores; a necessidade de reorganização sindical; e a necessidade de um programa partidário para 2010, que faça frente à falsa polarização conservadora. O PSOL deve ser uma alternativa de rompimento e vemos na companheira Heloisa Helena uma alternativa viável aos trabalhadores”, disse Araújo.
Para Ivan Valente, “que partido que, tendo uma imensa respeitabilidade, em apenas 5 anos, uma bancada pequena, mas com projeções de 15% de votos numa eleição presidencial pode deixar de lado uma candidatura? Precisamos sair deste congresso com uma resolução que afirme que precisamos encarnar o projeto de mudança que queremos e que Heloisa Helena seja candidata à Presidência. Esta candidatura é a resposta da frente de esquerda à esta conjuntura. E não podemos fugir desta responsabilidade”, disse o deputado.
Dirceu Travesso, dirigente do PSTU, presente à cerimônia de abertura, afirmou a importância da Frente de Esquerda na estratégia eleitoral para 2010. “Temos uma responsabilidade grande neste momento em que a crise econômica abre possibilidades de um debate mais estratégico, que não tínhamos oportunidade de fazer há quase 25 anos”, disse. Ele acredita que os episódios que aconteceram no Peru, em Honduras, no Irã e na China não são acontecimentos isolados. “São sintomas categóricos de que a crise ataca a vida dos trabalhadores em todo o mundo. Nesta conjuntura de crise profunda, o Brasil tem cumprido um papel de subserviência ao capital. Portanto, mais do que uma saudação aos companheiros do PSOL, eu trago duas tarefas que temos que cumprir. A resistência ao projeto neoliberal no apoio à luta dos movimentos e o debate do processo eleitoral, para que possa haver uma frente de esquerda socialista e anti-imperialista com programa de ruptura, anti-crise e que responda aos interesses da classe trabalhadora”, pontuou.
São Paulo: vitrine do projeto neoliberal
Os deputados estaduais do PSOL, Raul Marcelo e Carlos Gianazzi, afirmaram a importância estratégica da luta no estado de São Paulo para a luta nacional. “O governo Serra pagou no ano passado R$ 8,5 bilhões de juros da dívida pública, que cresceu ainda mais. Sucateou e sucateia cada vez mais o funcionalismo público, em especial o da educação e da saúde, precarizando o trabalho dos professores e entregando a gestão de 13 hospitais para organizações sociais (OSs), que movimentam R$ 1 bilhão por ano. Tudo sem licitação. Precisamos crescer em São Paulo, capilarizar o partido, para ampliar nossa luta local e incidir na luta nacional”, afirmou Raul Marcelo, sustentando a questão ambiental como um dos nós da gestão tucana em SP, que acelerou o processo de monocultura. “O estado tem hoje 6 milhões de hectares onde se cultivam pinus, eucalipto e cana”, cita.
Gianazzi prosseguiu a crítica ao governo Serra, afirmando que a gestão do PSDB implementou pedágios nas principais estradas do estado. “A ânsia privatista se antecipa, pedagiando trechos que nem estão prontos, como o trecho sul do Rodoanel”, explicou. “O PSOL é fruto da movimentação social e deve se oxigenar todo tempo com ela. Precisamos fortalecer nossa inserção nos movimentos e disputar a eleição, ampliando nossa bancada e disputando espaços institucionais para denunciar esta política de privatização do estado de SP”, defendeu o deputado estadual.
Aproximação com os movimentos
Representantes de movimentos sociais presentes no congresso falaram da relação próxima, de diálogo e de inserção que o PSOL tem com amplos setores da esquerda.”A unidade da luta popular e dos trabalhadores é fundamental para que consigamos dar uma resposta conjunta à crise e ao governo do capital. Estamos desde quarta-feira acampados em frente à casa do presidente Lula em São Bernardo. Sete companheiros estão acorrentados e lá permanecerão até que sejam apresentadas soluções concretas de políticas de moradia”, informou Guilherme Boullos, do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto). Ele explica que o programa habitacional “Minha casa, minha vida”, lançado recentemente pelo governo federal é uma forma de o governo socializar os prejuízos da crise com as empresas do setor imobiliário.
“O governo deu dinheiro para as montadoras e para os bancos e tem que dar para as empreiteiras também”, acredita. Do total de recursos do programa, apenas 40% será destinado de fato às camadas populares da sociedade. São cerca de R$ 16 bilhões. Destes, 15,5 bilhões vão para os cofres das empreiteiras e apenas 500 mil serão destinados a projetos em parceria com movimentos sociais.
Boullos pediu apoio do PSOL para a mobilização em São Bernardo. E sabe que tem. Assim como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) sabe que terá o apoio do partido na jornada de lutas prevista para a segunda semana de agosto. O representante do MST na abertura do congresso, Paulo Albuquerque, afirmou que o movimento vem travando um debate interno sobre estratégia política, para compreender o que é necessário para enfrentar o momento que vivemos. “É um momento de crise estrutural do capitalismo, então, precisamos rever a bandeira do socialismo. A realidade diz mais do que qualquer elaboração que possamos fazer. E ela diz que não há espaço para a reforma agrária neste governo”, disse. “Este governo representa a burguesia. É a gestão da barbárie. A compensação do social. Não há perspectiva de mudança”, acredita.
Para o MST, nossas ferramentas políticas precisam responder aos desafios colocados pela conjuntura. “Não temos clareza do que é esta estratégia e estamos fazendo o debate sobre o instrumento, mas temos certeza de que precisamos fortalecer a atuação nas fábricas, nas periferias, no movimento camponês. É isso que buscaremos fazer na jornada de lutas em agosto”, disse Albuquerque.
Diante destas análises, a unidade surge novamente como elemento fundamental na construção de uma alternativa. “O PSOL é um partido da classe trabalhadora e tem que apoiar as paralisações, como a heróica greve dos companheiros do INSS em mais de 20 estados, para denunciar o governo subserviente ao capital. A unificação do movimento não é um capricho. É uma necessidade da classe trabalhadora”, afirma Pazim, da Intersindical. Para Moacir, da Conlutas, o PSOL tem um papel fundamental na construção de uma nova central sindical, que una Conlutas e Intersindical e represente de fato os interesses da classe trabalhadora.
Seja para fazer frente à crise, seja para construir uma alternativa de esquerda para o processo eleitoral de 2010, seja para dialogar com os movimentos sociais, a unidade foi a bola da vez na abertura do II Congresso Estadual do PSOL. Os debates seguiram com as defesas das teses e os grupos de discussão. No domingo, os trabalhos prosseguem.