Avião que trazia de Washington o presidente deposto foi impedido de pousar em Tegucigalpa. Choque entre militares e manifestantes em frente ao aeroporto resultou na morte de duas pessoas
06/07/2009
da Redação Brasil de Fato
Movimentos sociais, sindicais e a sociedade civil hondurenhos rechaçaram a repressão militar ocorrida neste domingo (5) contra milhares de manifestantes que esperavam o retorno do presidente constitucional de Honduras, Manuel Zelaya, em frente ao aeroporto Toncontín, e que resultou na morte de duas pessoas. E anunciaram que, nesta segunda-feira (6), continuarão seus protestos pacíficos para exigir o retorno do mandatário ao país centro-americano.
Os hondurenhos iniciam esta semana imersos na crise política desatada desde o golpe de Estado que depôs Zelaya no último dia 28 de junho, com a posterior sucessão presidencial encabeçada por Roberto Micheletti.
Desde então, o país tem vivido em meio a manifestações, fechamento de escolas, instituições estatais em greve e um exercício militar em nível nacional sem precedente nos últimos 30 anos.
Retorno impedido
Desde sua deposição, esta foi a primeira tentativa do presidente hondurenho de retornar a seu país. Apesar da proibição de seu regresso pelas novas autoridades neste domingo (5), Zelaya afirmou que vai fazer uma nova tentativa. “Se agora não puder, voltarei amanhã ou depois de amanhã”, disse o presidente deposto.
No domingo, Zelaya partiu de Washington em direção a Tegucigalpa e seu avião foi impedido de pousar na capital hondurenha por militares que bloquearam a pista de pouso com carros.
Por conta disto, o avião do presidente desviou para a Nicarágua e depois rumou em direção a El Salvador, onde Zelaya se reuniu com o presidente Mauricio Funes e os presidentes da Argentina, Cristina Kirchner, do Equador, Rafael Correa, e do Paraguai, Fernando Lugo.
Em El Salvador, o presidente deposto pediu que as Forças Armadas hondurenhas “baixem seus rifles e não os apontem contra seus irmãos” em referência ao confronto do domingo.
Zelaya, em entrevista coletiva, declarou que a repressão por parte do governo golpista contra os manifestantes que clamavam pacificamente por seu regresso foi um ato criminoso.
“Os feitos violentos que se registraram na tarde deste domingo se somaram à vergonha do Governo interino hondurenho, porque representam um desrespeito a todos os direitos humanos”, afirmou.
Isolamento
O golpe de Estado em Honduras foi rechaçado por diversos países e tem causado seu isolamento internacional. Países latino-americanos, os Estados Unidos e a União Européia condenaram a deposição de Zelaya.
Na noite do sábado (04), o país foi suspenso da Organização dos Estados Americanos (OEA), o que dificultará o acesso de Honduras a empréstimos multilaterais, em especial à ajuda financeira dos Estados Unidos ao país, que é o terceiro mais pobre do hemisfério, atrás de Haiti e Nicarágua.
Na avaliação do ministro das Relações Exteriores brasileiro, Celso Amorim, o isolamento de Honduras contribuirá para o fim do golpe. “Sem a ajuda econômica do Banco Mundial e do Banco Interamericano de Desenvolvimento, sem petróleo e com as relações comerciais suspensas com os Estados Unidos, o regime golpista não vai resistir muito tempo. O resultado disso não se vê em 24 horas, mas também não deve chegar a um mês, apenas alguns dias ou semanas”, disse o ministro.
O governo golpista, por sua vez, já busca uma forma de reverter essa situação. Segundo meios locais, representantes do governo interino viajaram nesta segunda-feira (06) a Washington para iniciar um diálogo com países da OEA sobre a crise política instaurada no país.