Leia abaixo artigo do PSOL de Taubaté sobre a luta pela cassação do prefeito Ortiz Junior
No dia 11 do presente mês, um release distribuído pela Câmara Municipal informou que o vereador Salvador Soares é contrário à cassação de Ortiz Junior, prefeito de Taubaté. O mais ácido critico do prefeito entre os vereadores, Salvador prestou com essa declaração um desserviço ao povo taubateano. A desastrada declaração provocaria risos se não fosse um dos sinais mais cínicos da imoralidade imperante na vida politica local.
Dizer que o prefeito não pode ser cassado porque recebeu quase cem mil votos é convidar o povo a dar vivas a corrupção. Dizer também que afastar o prefeito é “conturbar a administração taubateana”, é coisa de quem está cego para o caos administrativo suportado pela cidade.
Ora, como podemos classificar as inúmeras mortes seguidas no pronto socorro municipal, a violência criminal explosiva, a desestruturação do serviço público e o transporte coletivo (completamente precarizado) sob o monopólio secular de uma conhecida empresa? Não são estes alguns sinais claros de uma cidade já conturbada?
O release petista causou escândalos e obrigou o Diretório do partido a tomar posição. Porém, no longo documento produzido como resposta ou explicação da posição petista, em nenhuma linha a fala de Salvador foi contestada. O PT, para tentar livrar a cara de seu vereador, negou sua própria história de lutas. Da mesma maneira como ficou escondido e omisso no processo de cassação do ex-prefeito Roberto Peixoto, agora,o PT pula fora e se nega a usar de sua força politica para ajudar a varrer do município os entulhos da corrupção tucana.
E mais: se esconde atrás de uma suposta defesa de práticas democráticas para não incomodar um governante eleito pelo desvio do dinheiro público, abuso do poder econômico e pela arrogância com que usou “recursos infindáveis” para impor ao povo a fraude de seu projeto politico.
O blogueiro Irani lima, um dos mais empenhados na cassação de Ortiz Junior escreveu um artigo onde chama o vereador Salvador Soares de petista tucano. Porém, o extenso documento que situa o partido em relação ao processo de cassação do prefeito do PSDB mostra que a direção petista em Taubaté, se não é descaradamente tucana como Salvador, se encheu de cuidados na elaboração de argumentosque afastam o partido de criticas ao PSDB.
Acusado pela justiça de desvio do dinheiro da educação pública para uso em sua campanha eleitoral de 2012, e também de abuso do poder econômico, mesmo assim o prefeito Ortiz Junior recebeu publicamente a solidariedade de um vereador petista. E, depois, para completar o escândalo, recebe de brinde um documento oficial do PT se isentando de qualquer atividade ou cobrança pública que possa interferir no rumo de seu julgamento.
No documento citado, o PT de Taubaté, ao invés de se empenhar na luta pela aplicação da justiça, ainda fala “que não devemos agourar pelo infortúnio do atual prefeito”. Com essa linguagem, rebaixa-se o nível da discussão, pois não se deseja agourar ou desgraçar a vida pessoal do prefeito Ortiz, mas, a partir da existência concreta de um caminhão de provas incontestáveis, fazer com que a justiça se movimente, deponha-o do cargo e devolva aos cofres do Estado os recursos ilegalmente usados em sua campanha de 2012.
O documento joga macio com Ortiz Junior e demonstra que, num determinado momento, o PT teve esperança de que o tucano faria um bom governo em Taubaté. Por isso, nele aparece escrito: Desejávamos, como todo o nosso Povo, e de modo especial aquelas e aqueles que o elegeram, que, passadas as eleições, tivéssemos um grande governo, justo, competente e sério, assim como prometido durante a campanha eleitoral”.
Ora, como esperar tanta coisa de um administrador que terminou a campanha já carregando nas costas o peso de graves acusações feitas pela imprensa, pela justiça e, também, pelo próprio PT?
Diante de tantas contradições, o PSOL, como o partido que no início de 2012 já denunciava num panfleto a origem do dinheiro que custeava a pré-campanha de Junior, se mostra mais uma vez decepcionado com o PT. E mais: não pode deixar de dizer que vê no escândalo envolvendo o prefeito de Taubaté semelhanças muito fortes com o escândalo que envolve Carlinhos de Almeida, prefeito de São Jose dos Campos. Se Junior pode perder o mandato por ter usado verbas da educação em sua campanha eleitoral, o mesmo destino pode ter Carlinhos de Almeida, acusado pelo Ministério Público por compras superfaturadas na área do ensino.
Resumindo: cada vez mais o PT abre mão de sua história e assume em seu comportamento pontos que o identificam com seu rival PSDB, facilitando entendimentos e criando condições para que seus parlamentares e militantes, usando argumentos supostamente democráticos, façam a defesa de gente indigna de assumir qualquer cargo público, como vimos em Taubaté nos últimos dias. Não se trata de exigir do PT um pré-julgamento do caso Ortiz, mas apenas uma postura coerente diante do brutal ataque feito aos cofres da FDE – Fundação para o Desenvolvimento da Educação – durante o processo eleitoral de 2012.
O que se pretende em torno do caso Ortiz é reunir (e não dividir) forças que façam valer a justiça, ampliem e consolidem a democracia. Infelizmente, interesses nada ocultos obrigaram o PT a incluir na sua ideia de democracia a defesa de pessoas e interesses que são inimigas da própria democracia.
Quanto absurdo: um vereador petista pede a continuação de um governo que nasceu da corrupção. Depois, completando o absurdo, ao invés da retratação, uma nota do partido tenta esconder o que está à luz do dia, ou seja, o corpo mole do PT e a sua esperança ingênua de que apenas os atos da suspeitíssima justiça brasileira resolvam um problema que também depende da pressão e mobilização da sociedade e seus órgãos de representação politica.
Psol – Taubaté, Agosto, 2014