A última pesquisa publicada pelo Ibope trouxe a confirmação de dois fatos decisivos para entendermos o Brasil após as Jornadas de Junho. De um lado, a maioria dos brasileiros considera muito importante que ocorram mudanças políticas no país, o que mostra uma insatisfação com as condições de vida e com a forma como são conduzidos os rumos da política no Brasil. De outro, 1/4 dos entrevistados acredita que participar de protestos e outras formas de luta é um bom caminho para conquistar direitos, fenômeno presente na retomada das lutas sociais, inclusive com um grau maior de radicalidade do que em períodos anteriores.
Os elementos descritos acima reforçam a necessidade da esquerda brasileira apresentar uma alternativa eleitoral no pleito presidencial que consiga responder aos anseios de milhões de brasileiros que desejam mudanças. O PSOL, comprometido com este objetivo, apresentou ao PSTU e PCB a candidatura do Senador Randolfe Rodrigues como nome capaz de encarnar um projeto alternativo, de se contrapor à continuidade da política econômica conservadora e de atender as demandas que surgiram nas ruas no ano passado.
Neste momento a Frente de Esquerda ainda não conseguiu se consolidar. Mas, em que pese as dificuldades encontradas nas negociações, nosso partido continua acreditando na importância histórica da constituição da Frente, o que aumentaria as chances da esquerda galvanizar o sentimento difuso de mudança existente.
Das conversas com o PSTU ficaram claros dois óbices à efetivação da coligação. O primeiro diz respeito à reivindicação de que ocorra coligação proporcional no estado do Rio de Janeiro, fato que possibilitaria ao PSTU disputar com chances reais uma vaga à Câmara dos Deputados. O segundo, apresentado de forma mais contundente na segunda conversa, foi a dificuldade de efetivar uma coligação quando o PSOL também apresenta o nome da companheira Luciana Genro na condição de vice-presidente.
Da conversa com o PCB é possível sintetizar as dificuldades de coligação na medida em que o partido não parece disposto a abandonar a tática atualmente implementada, que se baseia no lançamento de candidatura própria como forma de autoconstrução.
Em paralelo ao debate nacional estão ocorrendo tratativas com nossas direções estaduais e respectivas direções dos dois partidos.
A direção do partido continuará envidando esforços para efetivar a Frente de Esquerda, pelos motivos acima elencados. Caso isso não aconteça, tentaremos estabelecer relações políticas amistosas com as candidaturas de Zé Maria (PSTU) e Mauro Iasi (PCB) visando concentrar nossas energias no combate às candidaturas conservadoras. Tal procedimento, que de todo parece óbvio e esperado, nem sempre acontece, favorecendo os adversários das mudanças sociais. Não será admissível que, coligando com nosso partido em determinados estados, tenhamos posição de hostilidade e confrontação no quadro nacional.
A orientação, mesmo que não se consolide a Frente de Esquerda em nível nacional, é que cada direção estadual analise, à luz de sua realidade local, a viabilidade de coligação com os dois partidos citados, atentando para que estes acordos preservem a autonomia das candidaturas nacionais, impedindo ataques e confrontos entre os partidos da esquerda socialista. A aplicação de uma tática nacional, qualquer que seja, não implica na transposição automática desta para as realidades estaduais. A autonomia do PSOL em cada local será respeitada, levando em conta nosso interesse maior: fortalecer uma alternativa de esquerda e socialista com Randolfe presidente e Luciana Genro vice.
Brasília, 23 de abril de 2014.
Luiz Araujo
Presidente Nacional do PSOL