Brasília – O senador Randolfe Rodrigues (AP) derrotou a ex-deputada Luciana Genro (RS) e foi escolhido, por maioria, o candidato do PSOL à presidência da república em 2014, no 4º congresso da legenda, realizado em Luiziânia (GO), neste final de semana. Cerca de 400 filiados participaram da votação. O partido conta com pouco mais de 100 mil filiados.
Najla Passos
A principal polêmica que o eleito vem enfrentando, porém, nada tem a ver com a decisão da executiva de prescindir de uma consulta às bases: Randolfe é criticado, inclusive por seus pares, por não se situar suficientemente à esquerda para enfrentar tal desafio. Em entrevista exclusiva à Carta Maior, ele contesta o rótulo e responde: “À esquerda de mim está o precipício”.
Carta Maior – Senador, o 4º Congresso do PSOL foi marcado por muita disputa interna, inclusive com ameaças de desfiliações caso o senhor fosse eleito. Já conseguiu conciliar as diferentes correntes? Como está a situação interna em torno da sua candidatura?
Randolfe Rodrigues – Estou convencido de que o partido vai marchar unido. Hoje, no twitter, o Plinio de Arruda Sampaio, nosso último candidato à presidente, disse que estará conosco na nossa campanha. Ontem mesmo o Chico [Alencar, deputado federal pelo RJ] falou que estamos juntos. Enfim, o partido vai caminhar junto. Disso não tenho dúvidas. Agora, vamos nos dedicar a juntar o partido, setores da esquerda e movimentos sociais para a construção de um projeto comum. E de um projeto comum de esquerda.
CM – Por falar em projeto de esquerda, uma das críticas a sua candidatura, inclusive interna, é que o senhor não está tão à esquerda quanto a verdadeira esquerda gostaria. É verdade?
RR – À esquerda de mim está o precipício. As posições políticas que eu sustento e a minha prática cotidiana sempre se localizam neste espectro político. Como não classificar como de esquerda o que temos sustentado no dia-a-dia? Tenho feito críticas ao tridente satânico da economia, que tem sustentado a política econômica dos últimos 20 anos, baseada em câmbio flutuante, metas de inflação e altas taxas de juros. Tenho feito críticas contundentes e tenho recebido, inclusive, um contra-ataque feroz da direita, dos seus principais porta-vozes. Foi através de Reinaldo Azevedo que eu recebi o mais feroz contra-ataque, recentemente, por conta das posições que tenho externado.
Apresentei recentemente, com muita hora, projeto de resolução, no Congresso nacional, ao lado do Pedro Simon [senador pelo PMDB], que anulou a sessão que legitimou o golpe civil-militar de 1964. Se isso não é uma posição de esquerda, o que seria então? Foi a posição que eu sustentei que atrasou por um ano a votação do código que eles chamam de Florestal, mas que é um código a serviço das bancadas ruralistas. Tenho dito que construiremos uma campanha que não aceitará os financiamentos dos três grupos que financiam a política brasileira: os senhores do agronegócio, do mercado financeiro e das grandes empreiteiras. Foi a nossa voz dissonante que destoou dos falsos consensos da CPI do Cachoeira. Se essas posições não são posições de esquerda, então nós vamos ter que ter um debate muito profundo sobre o que é ser de esquerda.
CM – No quadro colocado hoje, com a presidenta Dilma Rousseff crescendo nas pesquisas de intenção de voto e os demais adversários recuando, onde o senhor estima que irá crescer mais? Qual espaço o senhor espera ocupar: disputar a esquerda com a Dilma, ou o novo, com os demais?
RR – Há uma contradição expressa nas pesquisas, o povo vota na Dilma, mas as mesmas pesquisas apontam que 60% do povo quer mudança. Nós queremos enfrentar essas contradições. O que ocorre é que a chamada oposição não está identificada com as mudanças que o povo quer. E não é a toa. Os candidatos estão falando o mesmo que a própria presidente. Em junho, quando o povo brasileiro se mobilizou nas ruas, pediu mais investimentos em educação, em saúde e em mobilidade urbana. E o que os candidatos vieram falar na campanha? Vieram falar em reduzir a capacidade de investimento do estado, em pactuar com o mercado financeiro. Eu quero inverter é isso: eu quero um estado que financie a educação, que financie a saúde e que diga que o mercado financeiro não é prioridade. Que a prioridade são os investimentos para o bem-estar, que é o que está escrito na constituição.
CM – O senhor falou em conversar com outros partidos. Com quais outras legendas o PSOL espera fechar acordos para as eleições 2014?
RR – Vamos conversar. Quero procurar o PSTU, quero procurar o PCB, quero diálogos com esses partidos e com os movimentos sociais, com o MST e outras lideranças da sociedade civil. Vamos iniciar uma agenda ampla de debates. Esta é nossa intenção.
Entrevista originalmente publicada no site da Agência Carta Maior -3/12/2013