Em pronunciamento no plenário da Câmara, o deputado Ivan Valente chamou a atenção para o verdadeiro massacre promovido pelo governo peruano de Alan García contra o povo indígena que resiste à privatização dos recursos naturais do país.
“Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, desde a semana passada, o povo peruano vive cenas de guerra nas províncias de Bagua e Utcubamba, na Amazônia peruana. O conflito teve início em abril, em função de uma série de decretos legislativos do presidente Alan García acerca da exploração de petróleo e gás natural na região. Há decretos também que regulamentam o manejo dos recursos hídricos e que estabelecem parâmetros para a administração de recursos florestais. Um deles estabelece que as empresas privadas não precisam mais consultar as comunidades nativas, que ali vivem, antes de explorar as reservas minerais nas terras indígenas. A nova legislação foi estabelecida pelo presidente, com o uso de poderes especiais concedidos a ele pelo Congresso, para o processo de implementação do acordo de livre comércio entre Peru e Estados Unidos.
Diferentes grupos e etnias iniciaram então uma série de protestos contra o presidente, que se intensificaram nos últimos meses, sobretudo com o bloqueio de estradas. Eles pedem a anulação dos decretos, que representam uma verdadeira ameaça à preservação de seus territórios.
Em maio, o governo peruano autorizou a intervenção das forças armadas em apoio à polícia em alguns distritos. A repressão aumentou e as cenas da selva peruana que agora chegam pela internet revelam extrema violência do Estado e de suas forças armadas. De um lado, homens fortemente armados, com tanques e fuzis. De outro, povos indígenas descalços, que tentam resistir da maneira possível à privatização de suas terras. O resultado é um verdadeiro massacre. Os números não foram confirmados, mas as estimativas passam de 60 mortes (dos quais 20 policiais), mais de 160 feridos e 70 detidos.
Segundo representantes da Associação Interétnica de Desenvolvimento da Selva Peruana (AIDESEP), apenas da etnia awajún já foram 25 os manifestantes assassinados. A AIDESEP afirmou à imprensa que os indígenas foram fuzilados pelos policiais. Na cidade de Bagua Grande, a 1.400 quilômetros ao norte de Lima, desde a semana passada vigora um toque de recolher. As cidades estão sob custódia militar e policial.
Para o presidente Alan Garcia, a luta dos indígenas em defesa de seus territórios, da terra de seus ancestrais, é uma conspiração em marcha para evitar que o país use suas riquezas minerais em benefício do crescimento. Lá, assim como no Brasil, é esta a visão daqueles que buscam bilhões de dólares de investimento estrangeiro nas florestas. Afirmam que a preservação do meio ambiente é um entrave ao desenvolvimento dos países. Que desenvolvimento, sras. e srs. deputados? É este o destino que queremos para nossas florestas?Esta é a pior onda de violência registrada no Peru desde o fim do grupo Sendero Luminoso, na década de 90. O Brasil não pode ficar calado diante das atrocidades que estão ocorrendo no lado peruano da Amazônia, que também é nossa. É urgente a atenção internacional ao caso, sob o risco de, além da destruição da floresta, seguirmos presenciando calados um massacre dos povos originários de nosso continente.
Muito obrigado.”
Ivan Valente – Deputado Federal PSOL/SP
Plenário da Câmara dos Deputados, 10 de junho de 2009