A farra das privatizações tucanas Senhor Presidente, senhoras e senhores Deputados, Estamos diante de uma das mais sérias denúncias de crime contra o patrimônio público brasileiro. O livro do jornalista Amaury Ribeiro Jr, lançado na última semana e já esgotado nas livrarias, relata de forma detalhada e comprova com inúmeros documentos, obtidos de forma legal, o grande esquema de corrupção e lavagem de dinheiro por trás das privatizações realizadas durante os dois governos de Fernando Henrique Cardoso, montado em torno do ex-governador José Serra. São comissões, favorecimentos e propinas milionárias envolvendo a filha, o genro e o marido de uma prima de Serra, além do tesoureiro da campanha do PSDB à Presidência da República, Ricardo Sergio de Oliveira, que seria o grande arquiteto desta engrenagem. A idéia de mostrar como funcionava a “arapongagem” de Serra dentro do partido para atacar o adversário Aécio Neves – questão que motivou o início da investigação de Amaury Ribeiro Jr – fica quase irrelevante diante de tudo o que o jornalista descobriu, em 12 anos de trabalho, sobre como a turma de Serra se deu bem ao dilapidar o patrimônio público brasileiro nos anos 90. Os principais documentos que revelam o esquema de lavagem de dinheiro obtido ilegalmente das privatizações foram obtidos pela CPMI do Banestado, provocada por denúncias feitas pela revista IstoÉ em uma matéria do próprio Amaury Ribeiro. A Comissão Parlamentar teve acesso, via Promotoria de Nova Iorque, a um CD com a movimentação de dinheiro de brasileiros feita pelo MTB Bank, fechado por comprovação de que lavava dinheiro por meio de contas de um condomínio de doleiros sul-americanos. O CD – que já está com a Justiça de São Paulo –, segundo reportagem da revista Carta Capital, tem informações sobre mais de 10 mil operações de contas que levam e trazem dinheiro para paraísos fiscais, ultrapassando uma movimentação de 20 milhões de dólares. Ricardo Sergio de Oliveira era dono da Andover, uma offshore no paraíso fiscal das Ilhas Virgens Britânicas, e, no Brasil, era o principal acionista da Westchester. Usava as duas empresas para mandar e receber dinheiro ilegalmente. Segundo o livro, Oliveira, que foi diretor da área internacional do Banco do Brasil na época das privatizações e responsável por avalizar consórcios que participaram do leilão da Telebrás, também é dono da Franton Interprise. A Franton que recebeu 410 mil dólares da offshore Infinity Trading, que fica nas Ilhas Cayman, cujo dono é Carlos Jereissati, irmão do ex-senador Tasso Jereissati. O consórcio de Carlos Jereissati venceu o leilão da Tele Norte Leste, que depois se tornaria Telemar. O empresário também doou R$ 2 milhões para a campanha de Serra via Ricardo Sergio de Oliveira. Verônica Serra e seu marido Alexandre Bourgeois, além de Gregório Marin Preciado, casado com uma prima de Serra, são outros nomes denunciados pelo livro por terem participado de um esquema semelhante. O genro de Serra abriu duas offshores nas Ilhas Virgens, logo depois da privatização das teles em 2008: a Vex Capital e a Iconexa Inc. As duas empresas funcionavam no mesmo escritório de Oliveira no Caribe. Já Gregório Marin Preciado usava uma conta no tal MTB Bank para mandar dinheiro para Oliveira, que recebia depois o dinheiro nas Ilhas Virgens e mandava tudo de volta, “lavado”, para o Brasil. O livro de Amaury Ribeiro mostra que, em 2002, quando Serra era candidato à Presidência, os lançamentos de Preciado para Oliveira foram de mais de um milhão de dólares. O que precisamos perguntar, senhoras e senhores deputados, é porque essa privataria revelada pela CPI do Banestado, realizada no primeiro ano do governo Lula, foi abafada num acordão entre o PSDB e o PT. É de se supor, por exemplo, que a lavanderia dos esquemas tucanos poderia ter beneficiado também alguns petistas. Agora, o próprio livro de Amaury Ribeiro Junior – que também traz informações sobre um esquema de “arapongagem” interna do PT durante a campanha de Dilma Rousseff – está sendo abafado pelos dois partidos, alvos das denúncias do jornalista. Pior, está sendo solenemente ignorado pela grande imprensa, que passou os últimos meses estampando denúncias de corrupção no governo federal. Por que será que um conjunto extenso de documentos sobre crimes em torno dos processos de privatizações no país não interessam a esses veículos? Fazem isso para poupar uma liderança histórica da direita ou para não comprometer seus anunciantes e acionistas, de cujos bolsos teria saído o dinheiro para o esquema de corrupção? Por isso, senhor Presidente, o PSOL protocolará nesta Casa requerimentos para a realização de audiências públicas sobre as denúncias feitas pelo jornalista Amaury Ribeiro Jr. nas comissões de Finanças e Tributação, e de Defesa do Consumidor. O Parlamento brasileiro deve ter acesso integral a esses documentos e não pode silenciar diante de indícios tão significativos de crimes contra o patrimônio público. Muito obrigado. Ivan Valente Deputado Federal PSOL/SP