Mais uma vez a Polícia Militar do estado de São Paulo foi chamada e atuou para impedir o exercício do direito de greve dos trabalhadores. Gostaria de dizer diretamente ao Governador Geraldo Alckmin e ao Secretário de Segurança Ferreira Pinto que retirem a Polícia Militar da porta das fábricas. Esta semana, já falei nesta tribuna do ocorrido na cidade de Vinhedo, onde a PM tentou impedir a liberdade de organização sindical dos trabalhadores da multinacional francesa Saint Gobain. Nesta quarta, o episódio se repetiu, de forma muito mais violenta, diante do portão da Johnson&Johnson em São José dos Campos, no Vale do Paraíba.
Na terça-feira (22), os trabalhadores da empresa deflagraram greve. E ontem, às 7h30 da manhã, a direção da Johnson acionou a tropa de choque para impedir a realização da assembleia dos trabalhadores, violando o direito de greve e reprimindo os funcionários de uma forma que lembra os tempos da ditadura militar.
Segundo o relato do Sindicato dos Químicos, a PM reuniu os ônibus que transportavam os funcionários e os impediu de descer para participar da assembleia. Além disso, obrigou os motoristas a avançarem sobre os canteiros e a entrar na empresa em alta velocidade. Os dirigentes sindicais foram brutalmente impedidos de chegar perto dos ônibus e falar com os trabalhadores, que foram mantidos em cárcere privado sob a mira de escopetas da tropa de choque. É de um absurdo sem tamanho, senhores Deputados! Os funcionários viraram reféns da polícia!
Enfim, a zona em frente à Johnson&Johnson foi palco de cenas lamentáveis, com agentes do Estado violando a legislação brasileira para garantir os interesses econômicos da empresa. Nessas condições, cinco ônibus entraram na fábrica. Os trabalhadores de outros dez, no entanto, conseguiram descer dos coletivos e aderiram à greve. No período da tarde a cena se repetiu, desta vez com a tropa de choque saindo de dentro da própria sede da empresa para tentar impedir a adesão dos trabalhadores à greve.
A direção da Johnson divulgou uma nota explicando que conseguiu um interdito proibitório para garantir que o acesso à empresa fosse desbloqueado, permitindo que aqueles que quisessem trabalhar o fizessem. No entanto, o que se viu foi bem diferente disso. Cerca de 600 trabalhadores foram escoltados à força para dentro da empresa.
A repressão acabou fortalecendo o movimento. Além de manter a greve, os trabalhadores aprovaram um repúdio à ação da empresa em usar a Polícia Militar como guarda particular para escoltar e oprimir a categoria, algo inaceitável em uma democracia. Dos quatro mil trabalhadores, aproximadamente dois mil seguem de braços cruzados. A paralisação continua por tempo indeterminado.
Entre as reivindicações da categoria estão o pagamento de abono salarial, vale-alimentação, 85% de hora extra em dias normais e 130% durante o descanso semanal renunerado, dias compensados e feriados; redução do custo do transporte dos trabalhadores; redução da jornada para os trabalhadores das empresas terceirizadas em igualdade com os trabalhadores do grupo Johnson; garantia de 60 minutos de intervalo para refeição e reposição dos valores de piso salarial rebaixado pela empresa, garantindo salário igual para função igual.
Manifestamos aqui então toda nossa solidariedade aos trabalhadores e trabalhadoras da Johnson & Johnson, em especial aos companheiros que foram mantidos reféns da tropa de choque e foram obrigados a entrar na empresa mesmo querendo participar da assembleia de greve. Esta não é a função da PM num Estado Democrático de Direito. Nosso repúdio à presença da Polícia Militar, impedindo a livre manifestação. Pedimos ao Governador Geraldo Alckmin e ao Secretário de Segurança que imediatamente retirem a Polícia Militar das portas da empresa.
Chega de repressão aos trabalhadores!
Muito obrigado.
Ivan Valente – Deputado Federal PSOL/SP
Pronunciamento no plenário da Câmara dos Deputados em 24/11/2011