As notícias do Brasil são desalentadoras. Dia após dia, a barbárie e o absurdo se tornaram cotidianos nestes anos de Bolsonaro no poder e alguns fatos recentes demonstram uma crise moral, social e política sem precedentes na história do país.
Um jornalista britânico e um indigenista são brutalmente assassinados na Amazônia. As investigações indicam que se trata de ação perpetrada por uma grande organização criminosa ligada à caça e pesca ilegal. O caso ganha repercussão internacional. O presidente da República declara que os homens assassinados não deveriam estar lá, ou seja, culpa as vítimas por suas próprias mortes. O governo brasileiro é rechaçado pela imprensa mundial por debochar de um crime bárbaro.
Uma menina de 11 anos gera uma criança fruto de um estupro e tem seu direito ao aborto legal negado por uma juíza. O presidente da República, assim como a juíza, se posiciona contra esse aborto. A menina e sua família são atacadas e ameaçadas nas redes sociais por políticos e religiosos bolsonaristas que estão contra a interrupção da gravidez. Em resposta, surge um movimento nas redes sociais para explicar o óbvio: criança não é mãe, estuprador não é pai. A juíza não é punida – e sim promovida!! – , e o aborto, posteriormente realizado pela menina totalmente dentro da legalidade, agora será investigado pela polícia, como se fosse um crime.
Uma procuradora de um pequeno município é espancada dentro do seu local de trabalho por um colega de profissão. Tudo é filmado e o vídeo chocante viraliza. Mais 2 mulheres são agredidas no momento do fato. O agressor sai livre da delegacia depois de seu depoimento. A Polícia Civil alega que não há situação de flagrante, mesmo com o vídeo circulando para milhões de pessoas. É necessária uma ampla pressão da opinião pública para que o criminoso seja preso. No perfil do Instagram do agressor, está escrito o lema de Bolsonaro: “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”.
O presidente da Caixa Econômica Federal é pivô de um escândalo de assédio sexual contra uma de suas subordinadas. Outras mulheres surgem o responsabilizando por crimes semelhantes. Também há denúncias de assédio moral, baseadas em áudios de celular vazados. O acusado é homem de confiança do presidente, que pouco faz para puni-lo com rigor.
Um anestesista estupra uma mulher durante o parto. A cena repugnante é filmada e amplamente reproduzida pela imprensa e redes sociais. O homem é preso em flagrante. Como se fosse um pesadelo, em dois dias o seu perfil oficial e contas falsas ganham dezenas de milhares de seguidores. A vida da mulher e da família foram, muito provavelmente, destruídas. Em entrevista, o presidente insinua que a culpa do estupro é das universidades, dos centros acadêmicos e da esquerda. Usa, assim, a dor da mãe estuprada para fazer política.
Em Foz do Iguaçu, um militante do PT comemora seu aniversário junto da família. Um de seus filhos tem apenas 1 mês de idade. É uma festa decorada com temas do PT e de Lula. Contrariado, um bolsonarista invade a festa armado aos gritos de “aqui é Bolsonaro”. Executa o aniversariante na frente de sua família. Preocupado com a repercussão da morte para sua reeleição, o presidente da República descobre que dois irmãos do petista são bolsonaristas e telefona para eles com o objetivo de amenizar possíveis declarações negativas na imprensa. Ignora a viúva. Busca dividir a família no meio de seu luto.
O Congresso Nacional aprova, em tempo recorde, uma emenda constitucional proposta pelo presidente, que permite conceder auxílios em período eleitoral. Todos sabem que o presidente está desesperado devido à alta probabilidade de perder as eleições presidenciais. De um dia para outro, o discurso de responsabilidade fiscal, respeito ao teto de gastos e liberalismo econômico é jogado fora. São 10 milhões de desempregados e outras dezenas passando fome. Bolsonaro busca usar essa miséria para ganhar votos.
Esses fatos lamentáveis mostram que o Brasil, a partir da ascensão da extrema-direita ao poder, passou por uma transformação de valores e referências que normalizaram a inversão de interpretações e reações aos fatos e notícias. Vítimas não podem ser culpadas e revitimizadas pelos crimes que sofreram. Estupros, assassinatos e agressões não podem virar alimento de disputas políticas, ainda mais para um presidente. Isso é o básico, o mínimo, o mais elementar do que se espera para um convívio em coletividade.
A fratura moral, política e social causada pelo bolsonarismo levará anos para ser curada, mas citando o jurista Sílvio de Almeida, “talvez, diante de tudo o que vem acontecendo, o Brasil, tal como nós conhecemos, não exista mais. Já não se trata mais de reconstruir o Brasil, mas de construir um Brasil que nunca existiu”. Com esperança, vamos levar em frente essa tarefa. O PSOL estará na linha de frente dessa luta.