O governo de São Paulo e a prefeitura da capital executaram uma nova ação policial na Cracolândia, que havia se deslocado há pouco mais de um mês para a Praça Princesa Isabel, centro da cidade.. Foi a sexta ação da chamada Operação Caronte e envolveu 650 agentes das polícias Civil e Militar em conjunto com a Guarda Civil Metropolitana e funcionários da prefeitura, sob o mote de prender 36 traficantes.
O resultado de estourar a Cracolândia mais uma vez foi novamente desastroso. Os frequentadores do local saíram em debandada para outros pontos da cidade, principalmente a Praça Marechal Deodoro. Durante a ação, observadores narram que a polícia fez uso de balas de borracha, bombas, prisões, espancamentos, restrições arbitrárias de direitos e outros tipos de violações de Direitos Humanos. Foram presos cinco traficantes, uma pequena quantidade de drogas e dinheiro. Além desse fracasso, o problema social e humanitário, que é o mais importante, não foi resolvido. O padre Júlio Lancellotti denunciou o massacre de hoje em suas redes sociais como mais um exemplo de aporofobia, ou seja, ódio aos pobres.
A Cracolândia existe há 3 décadas e já está mais do que provado que ações truculentas e midiáticas de segurança pública na região não resolvem nada. Os usuários demandam acolhimento por meio de programas de saúde pública, assistência social e diálogo, e não balas.
O verdadeiro problema da Cracolândia não está na Praça Princesa Isabel ou nos entornos da Estação Júlio Prestes, e sim no Viaduto do Chá e no Palácio dos Bandeirantes, sedes da prefeitura e do governo estadual. Enquanto essas cadeiras forem ocupadas por gente que faz da miséria alheia a sua propaganda eleitoral, a Cracolândia vai perdurar como um símbolo de desumanidade. Está na hora da mudança.