Um fato tem intrigado a população paulistana desde a última sexta-feira (18): a Cracolândia, situada na rua Helvétia, estação Júlio Prestes e imediações, está vazia. Desde então, há uma guerra de versões sobre o que teria acontecido para que o local, que há 30 anos abriga milhares de usuários de crack diariamente, tenha se esvaziado.
Logo após a constatação do fato, a Polícia Civil e a Guarda Civil Metropolitana se pronunciaram afirmando que uma facção criminosa orientou os usuários a mudarem de local, espalhando-se pela cidade. Quem confirma a informação é o delegado da Polícia Civil Roberto Monteiro, em reportagem ao G1. De fato, boa parte deles se encontra agora na Praça Princesa Isabel e outros foram para locais diversos do centro, conforme mostrou reportagem do SP2 nesta semana.
Diversos portais que realizaram reportagens sobre o tema, como G1, Veja, Folha e muitos outros relataram entrevistas com autoridades, policiais e usuários de crack na região. Em todas foi constatado que a ordem de esvaziamento partiu de criminosos, mas ninguém sabe o porquê.
Porém, o governador João Doria e o prefeito Ricardo Nunes apresentaram outra versão da história no início da semana. Ao G1, o governo e a prefeitura disseram que o fato se deve a ações conjuntas de inteligência e segurança das duas gestões, no bojo do chamado programa Redenção, que supostamente serviria para atender e ajudar os usuários da região.
Nessa guerra de versões, é bom relembrar alguns fatos. O desmantelamento da Cracolândia foi carro-chefe das campanhas eleitorais de Doria, mas ele nunca conseguiu resolver nada sobre o tema. A sua política, no início, foi “estourar” a Cracolândia em 2017 numa megaoperação policial e midiática que foi um fiasco. Pouco tempo depois, lá estavam novamente os usuários ocupando as mesmas ruas. O programa Redenção, até agora, tem sido um total fracasso. A política do governador paulista nunca foi tratar o problema como uma questão de saúde pública e sempre foi fazer uso eleitoreiro do tema, violando flagrantemente os direitos humanos, abusando da violência policial para gerar notícia.
A questão que se coloca é a seguinte: pouco importa se é na rua Helvétia, na estação Júlio Prestes, na Praça Princesa Isabel ou em qualquer outro lugar da cidade que os usuários estejam. O problema social e de saúde pública que envolve a epidemia de crack na cidade permanece. A cracolândia é fruto da pobreza, do desemprego, da desigualdade social, da deficiência no atendimento psicológico por parte do Estado, da desintegração familiar nos grandes centros urbanos e muitos outros motivos. Doria e Nunes não resolveram nada e nem vão resolver.