Por Joselicio Junior
O estudo feito pelo IBGE, divulgado no último dia 23 de fevereiro, sobre a taxa de desemprego no último trimestre de 2016, demonstram como população negra é a mais atingida nos momentos de crise econômica. Segundo os dados, o ano passado fechou com uma taxa média de desemprego de 12%, porém para as pessoas que se declaram pretas essa taxa sobe para 14,4%, para pardos 14,1, enquanto que para a população branca a taxa cai para 9,5%.
Esse dados revelam aquilo que é profundo na estrutura social brasileira que é o Racismo, as marcas da escravidão e de um processo de abolição que não garantiu uma inclusão da população negra trás reflexos até os dias de hoje. Dentro do atual contexto numa sociedade extremamente desigual , com profunda concentração de riqueza e que acabou de sofrer um golpe institucional que vem impondo uma agenda de sacrifícios como corte de gastos nas áreas sociais, reforma trabalhista e da previdência que retiram direitos, o racismo é um ingrediente a mais nesse furacão social.
Outro elemento importante apontado pelo estudo é a desigualdade de gênero, a taxa média de desemprego entre as mulheres ficou em 13,8%, enquanto que para os homens 10,7%, mesmo o estudo não fazendo um recorte de gênero e raça não é difícil imaginar que as mulheres negras são as mais atingidas nesse processo todo, pois além da desigualdade de gênero, também estrutural em nossa sociedade, ainda carregam o componente do racismo.
Para compreender o impacto do racismo nas desigualdades sociais é necessário pensá-lo como uma dinâmica, uma engrenagem que está presente em toda a forma de organizar a sociedade, por tanto, vai muito além do que pensar em relações interpessoais, ou que apenas esforços individuais serão capazes de superar esse quadro. Se pensarmos que os grande proprietários de terra hoje no país na sua maioria são herdeiros dos senhores de engenho do passado e que a classe trabalhadora tem como sua base indígenas e africanos escravizados e bem recentemente a incorporação de imigrantes europeus, já em condições muito mais favoráveis, não é difícil compreender como o racismo é um fator que desequilibra até mesmo os que estão no andar de baixo.
A abordagem da pesquisa do IBGE trás o fator do desemprego, mas podemos afirma categoricamente que todos os desmontes que estão em marcha feitos pelo governo Temer que retiram direitos mínimos conquistados nas últimas décadas como as Leis Trabalhistas, a previdência social pública, o sistema único de saúde, o desmonte na educação pública atingem em cheio e de forma desproporcional as negras e negros que formam a base social desse país.
O fim de programas sociais que garantam uma renda mínima, a ausência de programas de moradia popular, o desemprego crescente e os desmontes apontados acima não passaram batidos pois interfere diretamente na dinâmica de vida de uma parcela significativa da população. Porém para onde será canalizada essa indignação é o projeto que está em disputa neste momento.
* Joselicio Junior é Jornalista, Presidente Estadual do PSOL/SP e militante do movimento negro Círculo Palmarino.